Comer de madrugada pode ser sinal de transtorno alimentar
Diego Denck, especial para a Gazeta do Povo
29/07/2019 08:00
Os principais fatores de risco para o comer noturno são o estresse, a ansiedade, a obesidade, o uso de drogas, os transtornos de humor e o trabalho em turno noturno. Foto: Bigstock.
Assaltar a geladeira de madrugada é algo que praticamente todo mundo já fez ao menos uma vez na vida. Porém, quando essas escapulidas noturnas se tornam frequentes, pode ser que um problema psicológico esteja criando forma: a síndrome do comer noturno.
“Esse é um transtorno alimentar que está intimamente relacionado ao ciclo de sono-vigília, caracterizado por um aumento da ingestão de calorias após a última refeição do dia, ou seja, entre o jantar e a hora de dormir, devendo estar associado com despertares noturnos com ingesta alimentícia”, explica o médico Emerson Wolaniuk, pós-graduado em Nutrologia, do Instituto Qualis, de Curitiba, no Paraná.
A síndrome do comer noturno afeta 1,5% da população, segundo estimativas, e as pessoas chegam a ingerir mais da metade das calorias diárias nesse período. O psicólogo Tarik Husein Naciff, do Instituto do Aparelho Digestivo, de Goiânia, Goiás, diz que os principais fatores de risco são o estresse, a ansiedade, a obesidade, o uso de drogas, os transtornos de humor e o trabalho em turno noturno.
A insônia também é um dos critérios para diagnosticar a síndrome. Ainda que ela não esteja presente em todos os casos, é mais comum encontrar pacientes com problemas para dormir do que quem consegue ter uma boa noite de descanso.
“A demora para pegar no sono devido ao paciente estar fazendo a ingesta calórica e os despertares noturnos com certeza vão gerar um sono mais pobre”, analisa o médico Wolaniuk.
Os perigos da síndrome
“Os malefícios para a saúde são diversos. O distúrbio cobra o seu preço no sono, nas relações sociais, no trabalho e, muitas vezes, é acompanhado por outros transtornos psiquiátricos”, explica Naciff. Segundo estudos, praticamente metade dos pacientes que sofrem da síndrome do comer noturno também estão com depressão.
Wolaniuk lembra dos perigos relacionados à obesidade, visto que a síndrome do comer noturno é mais frequentemente notada em pessoas com sobrepeso.
“Elas podem desenvolver depressão, ansiedade, diabete e síndrome da apneia e da hipopneia obstrutivas do sono, além de outros transtornos relacionados à obesidade, como aumento do colesterol, dos triglicerídeos e da pressão arterial”, alerta o médico.
As mulheres são as mais propensas a desenvolver a síndrome, que costuma surgir com mais frequência a partir dos 40 anos. Pessoas com obesidade também estão no grupo de risco, com estimativas de até 33% delas apresentar comportamentos que configuram a síndrome do comer noturno.
Tratamento
“Como qualquer outro distúrbio alimentar ou do sono, o tratamento efetivo envolve uma combinação de terapias”, explica o psicólogo Tarik Naciff. “O controle do estresse pode ser um ponto a ser perseguido em terapia. O uso de aplicativos de contagem de calorias e avaliação do sono tem sido explorado em clínicas, devido a sua grande acessibilidade ao público e ao mundo conectado de hoje”, continua o especialista.
Ainda assim, não existe um protocolo específico para o tratamento da síndrome, conforme alerta o médico Emerson Wolaniuk, principalmente na prescrição de medicamentos.
“Os estudos ainda estão sendo relacionados, mas os principais medicamentos para a síndrome do comer noturno são os inibidores seletivos de recaptação da serotonina, principalmente a sertralina. Outra medicação muito promissora é o topiramato, que inicialmente é um anticonvulsivante utilizado nos transtornos de humor e também na epilepsia”, explica.
E não custa lembrar: toda medicação deve ser prescrita por uma médico. A automedicação pode trazer riscos à saúde!
Outra dica dos especialistas é criar um ambiente agradável ao sono, com poucos ruídos e pouca luminosidade, evitando, dessa maneira, que a pessoa desperte de madrugada e belisque algo na cozinha.