Saúde e Bem-Estar
Comer pouco e fortalecer as pernas são essenciais para envelhecer bem, diz Abilio Diniz

O mal-estar dos dias quentes atrapalha o exercício, tornando-se mais aprazível no frio. Foto: Bigstock.
“Envelhecer é uma certeza, envelhecer com qualidade é uma escolha. E, para isso, você tem que começar a se preparar antes”, diz Diniz, 81, que tem 6 filhos, 17 netos e 2 bisnetos.
Ele afirma que o episódio provou que é capaz de dar “aula de acordo, de fazer as pazes”. “Meu propósito é ser feliz e compartilhar conhecimento”, diz ele, que espera viver mais “20 ou 30 anos”. Confira a entrevista:
Comecei a cuidar do corpo, da alimentação, do sono, da espiritualidade. Envelhecer é uma certeza, envelhecer com qualidade é uma escolha.
Mas as pessoas mal conseguem se cuidar pensando no presente, como fazer isso pensando a longo prazo?
Não é fazer disso um problema, se estressando, mas saber que está construindo um ativo importante no envelhecimento. Eu tenho seis pilares nos quais eu me apoio: atividade física, alimentação, autoconhecimento, controle do estresse, espiritualidade e amor.
Alimentação. Uma vez perguntei à Susan Andrews [antropóloga e psicóloga de 72 anos]: ‘Como você se mantém bonita e sempre em forma?’ Ela, com uma voz fininha e baixa, disse: ‘Sabe, Abílio, eu como pouco’. Devemos comer, no máximo, aquilo que será consumido [queimado]. Depois de uma certa idade, o melhor é comer um pouquinho menos ainda.
Controlar a alimentação é vital. Atividade física é outra. Não precisa ser atleta como eu fui, não precisa competir. Por muito tempo, elegi o esporte como competição. Eu odeio a derrota. Por isso, competia, competia. Mas, para uma longevidade com qualidade, é fundamental que se faça exercício de fortalecimento, principalmente dos músculos das pernas.
Existe uma coisa chamada sarcopenia, que é a morte das células que compõem os músculos. Isso é tão certo quanto a morte e os impostos.
Tenho um programa de cinco dias, de segunda a sexta. Cada dia tenho uma atividade. Jogo squash duas vezes por semana, luto boxe uma vez por semana. Não basta ter ossos e músculos fortes. É preciso ter um sistema neural capaz de acioná-lo com rapidez e agilidade. Corro na esteira para manter o sistema cardiovascular ativo, corro um pouco de costas também, faço bastante bicicleta e nado se estou um pouco machucado.
E faço muito fortalecimento muscular, três dias de membros inferiores e dois dias, de membros superiores. Sábado e domingo eu faço um aeróbico qualquer, às vezes longas caminhadas.
Não precisa ser como o Abilio. Um pouco de aeróbico, uma caminhada, um pouco de esforço num plano inclinado, são mais do que suficientes. Mas priorize o fortalecimento das pernas. É imprescindível ter pernas fortes na velhice.
O primeiro passo é se conscientizar de que você vai perdê-lo mesmo e ficar esperto. Existem maneiras de lutar contra isso. Perder o equilíbrio é complicado.
Meu pai morreu aos 94 e minha mãe aos 99 anos. Os dois iam bem até o dia em que caíram e precisaram fazer complicadas operações, trocar cabeça do fêmur. Já não eram os mesmos quando voltaram para casa. As pessoas precisam olhar para isso, precisam se cuidar para não cair.
Desde pequeno, sendo filho de padeiro, baixinho e gordinho, busquei como meta ser feliz. Sempre fui um cara determinado, ambicioso para buscar meus objetivos.
As pessoas conhecem mais as minhas reinvenções no campo empresarial, mas a maior foi ter me casado novamente aos 67, e hoje ter uma filha de 11 e um filho de oito anos.
Sim, eu tomo cuidado com as coisas que faço para mim, mas há um bom tempo que a gente vem estudando atividade física, alimentação, administração do estresse, autoconhecimento.
Agrupamos tudo no Plenae para que o maior número de pessoas possa se beneficiar de forma didática e gratuita. Vamos abrir a plataforma para o Brasil e, depois, para fora também. O maior interessado em longevidade com qualidade sou eu mesmo. Tenho filhos pequenos, mulher, quero viver mais 20, 30 anos.
A minha espiritualidade é muito forte [ele é católico praticante], Deus tem sido um amigão comigo, tem me dado força, luz e clareza para superar as dificuldades.
De que maneira que posso retribuir? Fazendo o compartilhamento de todas as coisas que tenho aprendido na vida.
A gente só vai trabalhar com base em evidência científica. Não recomendo dieta nenhuma. O que engorda ou o que faz mal à saúde é a regra, não a exceção. Tem muita gente que fala: ‘ah!, para ele é fácil, só come salada, não gosta de nada, não bebe’. Não é verdade.
Eu gosto de tudo de que as pessoas gostam, só não gosto de cebola e alho. Gosto de lasanha, pizza, churrasco. Mas eu não posso comer um churrasco no almoço e uma lasanha no jantar todos os dias.
Como fazer chegar essas informações sobre longevidade à base da pirâmide social onde as pessoas, às vezes, não têm o que comer?
Hoje, com as redes sociais, com um celular, todo mundo tem acesso a informações.
Vamos decodificar esse conteúdo e mostrar em uma linguagem bem rasteirinha o que as pessoas têm que fazer com a alimentação, atividade física.
É verdade que, com as pessoas mais humildes, é mais complicado. Elas não têm condições de ficar comendo cinco vezes por dia. Quando vão comer, estão morrendo de fome e comem o que tem. E comem muito porque acham que têm que estocar. Precisamos falar: comam alguma coisa nos intervalos, uma banana, por exemplo, que é fácil e barata.
É muito difícil mesmo. As pessoas têm que começar a ver os benefícios. Eu não me estresso nunca [pensa um pouco e corrige: ‘Eu não me estresso quase nunca’]. Você precisa combinar com você mesmo com o que vai se estressar.Eu só me estresso com o que é muito importante na minha vida, com minha saúde e minha família. O resto é da vida. BRF, Carrefour, é da vida, é o que faço. Não vou me estressar com isso.
É preciso ser minimamente organizado, ter disciplina. Saber o que vai fazer hoje ou semana que vem. Eu sei o que vou fazer no ano que vem. Não precisa ser idiota de se estressar por não conseguir ir daqui até ali em 15 minutos. Levei um tempão para entender isso. A questão, no fundo, é você se gostar. É olhar no espelho e dizer: eu gosto deste cara, vou fazer o melhor por ele.