Nem sempre é fácil, e talvez não exista uma forma confortável, mas “chamar a atenção” de uma criança que não seja seu filho não precisa ser algo dramático, e em alguns casos pode ser muito importante. Desde que os adultos não desautorizem os pais, eles podem, sim, explicar à criança quais são as regras da casa em que elas estão, conforme explica Ana Suy Sesarino Kuss, professora de psicologia da Unibrasil, psicóloga e psicanalista. Confira a entrevista com a psicóloga e veja as dicas para situações como essas!
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Imaginando uma criança que fale palavrão na casa do amigo ou que desobedeça as ordens da casa, o adulto dono da casa poderia, de alguma forma, chamar a atenção?
Não seria uma bronca ou uma chamada de atenção, mas deixar claro para a criança que existem regras diferentes associadas a cada lugar. “Aqui a gente fala desse jeito, você topa fazer assim aqui?” É muito mais uma conversa com a criança para integrá-la naquele grupo do que uma repreensão. Também não é desautorizar os pais, porque não se diz que falar palavrão é feio ou é errado.
Quais são os efeitos que essas “conversas” poderiam ter na criança?
Depende muito do jeito como que se fala, e é importante fazer na hora. Aconteceu, falou o palavrão, puxou a cortina, fala. Porque, se deixar para depois, a criança nem lembra mais o que aconteceu, e o adulto fica irritado e depois pode agir de forma desproporcional. Na hora em que acontecer, vai lá e fala, e a criança entende melhor.
Quando a conversa deve ser levada aos pais da criança?
Só se for algo mais grave, que coloca o caráter da criança em questão. Uma mentira grave, que seja importante que os pais tomem uma atitude. Mas, se for algo relacionado à socialização, vale mais a pena deixar que as crianças se entendam sozinhas, com a menor interferência possível dos pais.
Repreender pode confundir a criança?
É complicado falar para a criança que algo é ‘errado’ ou é ‘feio’ porque ela não nasce com um manual de instruções sobre como lidar com o mundo. Vamos entendendo e aprendendo conforme as coisas vão acontecendo, e é importante que a regra maior venha dos pais. Caso contrário, a criança pode se sentir inadequada, e se sentir mal. Ou ela pode vir a se rebelar, porque na primeira infância os pais são a autoridade máxima para a criança.
Os adultos conseguem “chamar a atenção” da forma mais correta, de maneira geral?
Eu acho que, de forma geral, parecem que sim. Mas dá para fazer uma crítica, de um traço contemporâneo, na relação que alguns pais têm com os filhos. Freud explica que o narcisismo dos pais é abandonado na infância e é reavivado no filho. O filho passa a ser a nossa melhor parte, não apenas uma extensão do corpo dos pais, mas a melhor parte desse corpo. Mexer com o meu filho é algo muito desestabilizador. É importante que os pais incentivem as crianças a terem gostos próprios, a entenderem que estão criando o filho “para o mundo”.
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