Saúde e Bem-Estar

Como os médicos escolhem o antidepressivo mais indicado para o paciente

Rodrigo Batista, especial para a Gazeta do Povo
12/07/2018 17:00
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Pacientes que não respondem bem ao tratamento tradicional representam entre 25% a 30% das pessoas diagnosticadas com depressão. Foto: Bigstock.

Ansiedade, tristeza, irritabilidade e distúrbios de sono são alguns sintomas que podem levar uma pessoa ao tratamento psiquiátrico e ao uso de antidepressivos. Isso porque distúrbios em três enzimas do organismo causam alteração de humor, o que vai determinar qual antidepressivo um médico prescreve a um paciente.
Apesar de uma série de normas internacionais seguidas pelos médicos, em alguns casos o organismo do paciente apresenta resistência. Por isso, um teste que combina dados genéticos com informações sobre medicamentos pode facilitar a prescrição de antidepressivos em casos em que as pessoas se mostram resistentes ao tratamento inicial.
A novidade parte de um estudo apresentado no Encontro Anual de 2018 da American Psychiatric Association (APA) e divulgado no portal Medscape. A pesquisa foi realizada com 1.167 pacientes que apresentavam depressão com resistência ao tratamento. Com o teste, que ajuda a encurtar o caminho para a recuperação de pessoas com depressão, os pacientes que apresentam alguma resistência no organismo têm 30% mais chances de responder positivamente ao tratamento e 50% mais probabilidade de alcançar a remissão.

Teste eficaz, mas de caráter seletivo

O teste é feito a partir da coleta de uma amostra de DNA da cavidade oral do paciente. Os genes são comparados com informações sobre medicamentos e um gráfico aponta quais os remédios mais indicados para aquele paciente.
A respeito do exame, o médico psiquiatra associado à Associação Médica do Paraná (AMP), Luiz Renato Carazzai, alerta que, apesar de ser um avanço, não é uma forma padrão para o diagnóstico de doenças. Além de pouco usado, é muito caro, segundo o especialista. No Brasil, o custo desse tipo de exame chega perto de R$ 7 mil. “É um exame seletivo”, explica.
Carazzai compara este método com a técnica que é atualmente utilizada para encontrar os antibióticos necessários para o paciente a partir de exames da cultura da urina. “Este exame é bastante útil, por ajudar no tratamento de pacientes que já passaram por várias tentativas de medicamentos, mas sem benefícios. Mas ele não ajuda no diagnóstico da doença. Serve apenas para fins terapêuticos”, acrescenta.

Prescrição a partir dos sintomas

Mesmo com essa novidade, o que ainda é recomendável e mais utilizado pelos especialistas da área é a Classificação Internacional de Doenças. A análise, segundo Luiz Renato Carazzai, é feita com base em uma série de critérios.

“O diagnóstico de depressão não está relacionado apenas com a tristeza de uma pessoa. Há uma gama maior de sintomas, que vai embasar o tipo de antidepressivo que será utilizado. Dependendo de cada paciente, haverá uma resposta diferente para cada medicamento”, afirma.

Carazzai acrescenta que, no organismo, existem três tipos de enzimas que fazem o controle do humor: serotonina, dopamina, noradrenalina. Se uma delas fica alterada, causa algum tipo de transtorno, como mais ansiedade, irritabilidade, falta de energia, de prazer ou humor mais deprimido. A partir disso, há uma classe de diferentes antidepressivos que podem ser receitados ao paciente.
No caso de pessoas com problemas de ansiedade, tristeza e indisposição, são receitados medicamentos que vão atuar na serotonina, para que essa enzima fique mais tempo presente no organismo. Por outro lado, para indivíduos com irritabilidade e alteração de sono, serão receitados medicamentos para induzir e aumentar a qualidade do sono. “A variação de sintomas é bem avaliada. É importante saber que o tratamento psiquiátrico é de caráter individual”, completa.
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