Como parar de tomar remédios para dormir sem trazer mais problemas à saúde
Amanda Milléo
14/04/2019 17:00
O uso crônico prolongado e em grandes quantidades pode deixar a pessoa com dificuldade de perder peso após parar o uso do medicamento. (Foto: Bigstock)
Conhecido entre pessoas com ansiedade e insônia, os medicamentos benzodiazepínicos ganharam muitos fãs (inclusive entre os médicos) pela rápida ação. Após ingerido, o efeito calmante aparece em apenas 30 minutos, e chega a durar entre 10 a 15 horas.
Além de “acalmar” o cérebro, atuando no receptor GABAA (gama-aminobutírico), esse tipo de remédio gera sono, favorecendo o sono de quem tem dificuldades para dormir.
Os benzodiazepínicos, no entanto, não são remédios que possam ser tomados além de poucas semanas, pois levam a uma dependência física e psicológica.
O abandono abrupto dos benzodiazepínicos pode trazer sintomas de abstinência, como tremores, alucinações e crises convulsivas. Quanto maior for o tempo de uso, maior também será o tempo necessário para a retirada completa dessa substância — o que pode levar meses.
“Já tive paciente que tomava o medicamento em gotas há muito tempo. Quando foi parar [com a medicação], eu solicitava a retirada de uma gota por mês. Uma gota representa 0,1 mL. Levou um ano até conseguir parar completamente”, relata Roberto Ratzke, médico psiquiatra, cooperado da Unimed, e professor da Universidade Federal do Paraná (UFPR).
Se a pessoa não tiver o hábito de tomar a medicação, é possível fazer a retirada dos benzodiazepínicos em de 15 dias a um mês.
“Na verdade, parar de tomar exige uma supervisão médica. Dependendo da dose que a pessoa estava acostumada, se for muito alta e houver uma parada abrupta, o paciente pode ter convulsão e até morrer. Por isso são remédios controlados, de receita azul. Ninguém deveria tomá-los sem orientação médica“, alerta o especialista.
Mesmo durante uma retirada programada, com supervisão médica, o paciente pode ter sintomas importantes, como mal estar, insônia, dor de cabeça, ansiedade, náuseas e tonturas. “A retirada também depende da gravidade da doença que a pessoa tiver. Alguns pacientes, realmente, precisam continuar com a medicação, porque os malefícios seriam maiores sem ela”, reforça o psiquiatra.
Benzodiazepínicos não tratam, só escondem a doença
Embora os medicamentos benzodiazepínicos possam ser usados, em um primeiro momento, como parte do tratamento da ansiedade ou mesmo insônia, eles não são remédios que curam ou tratam essas condições. Pelo contrário, eles acabam mascarando o real impacto das doenças, ao cuidarem dos sintomas.
“Quando os psiquiatras prescrevem esses remédios, os pacientes normalmente estão no início do tratamento, então ainda não deu tempo de os outros remédios fazerem efeito. Em geral, os medicamentos usados na psiquiatria levam de semanas a meses para trazerem resultados”, explica Marcelo von der Heyde, médico psiquiatra, vice-presidente capital da Associação Paranaense de Psiquiatria, professor da PUCPR e supervisor na residência de psiquiatria do Hospital das Clínicas (HC/UFPR).
Tanto para a ansiedade, quanto para a insônia, há outros medicamentos e tratamentos mais indicados — que não levam a dependências físicas ou psicológicas, e que atuam, de fato, contra as condições.
“Como são remédios muito eficazes, muitas vezes o paciente acaba criando uma intolerância tanto à insônia, quanto à ansiedade. Mas eles não lembram que ter uma noite de insônia de vez em quando ou ter um momento de ansiedade no dia a dia é normal, faz parte da vida. Uma noite que a pessoa não passe bem, ela quer logo aumentar a dose”, reforça o especialista.
Não tome o remédio dos outros
Uma situação clássica nos consultórios dos psiquiatras é quando os pacientes chegam para uma primeira consulta com o histórico de já terem tomado os benzodiazepínicos.
“Tomar sem prescrição é ainda mais perigoso, porque em boa parte dos casos não foi indicação de um médico psiquiatra. Pode ter sido um clínico, que prescreveu por outro motivo, e o paciente não manteve o acompanhamento, ou é o caso de ter tomado a medicação de um parente ou amigo. É muito comum ver o paciente já tomando, e até sendo o único remédio que ele faz uso nos últimos anos. Quando vê, é o remédio errado tratando quadros de depressão ou ansiedade”, reforça Marcelo Heyde, psiquiatra.