Cresce o número de mortes causadas por acidentes com lagartas; saiba o que fazer
Carolina Werneck, com informações do Estadão Conteúdo
07/05/2018 11:02
Acidentes com lagartas cresceram 35% no Brasil no último ano. Foto: Antônio Costa/Gazeta do Povo
Elas não são as mais lembradas quando o assunto é animal peçonhento, mas, no último ano, chamaram a atenção de biólogos por terem causado mais acidentes no País, incluindo em grandes centros urbanos. O total de pessoas feridas ao ter contato com lagartas – ou taturanas, como são conhecidas popularmente – aumentou 35% no Brasil entre 2016 e o ano passado, passando de 3.820 para 5.157 no período, segundo o Ministério da Saúde.
O índice de mortes por esses acidentes também cresceu: de 2 para 9 em um ano. São os maiores números em pelo menos oito anos. Desde 2010 até 2016, a taxa anual de incidentes nunca havia passado do patamar de 3 mil. Segundo especialistas, as taturanas não são vilãs nessa história, mas vítimas de desequilíbrios ecológicos causados pelo homem.
Duas das principais hipóteses para o crescimento da população de lagartas em áreas urbanas são o desmatamento e o uso indiscriminado de inseticidas contra mosquitos transmissores de doenças, como dengue e febre amarela.
“Para sabermos com certeza as razões, seria preciso observar por mais anos, mas uma possibilidade é que o uso de inseticidas contra mosquitos tenha matado também predadores das lagartas, como aranhas, vespas e formigas, o que pode ter causado aumento da população de lagartas”, diz André Freitas, professor de Biologia Animal da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).
Outro fator pode ser o avanço do desmatamento no entorno das grandes cidades, como explica Fan Hui Wen, gestora do Núcleo Estratégico de Venenos e Antivenenos e responsável pelo Laboratório de Artrópodes do Instituto Butantã.
“Esses animais são encontrados em mata nativa próxima de córregos ou cursos d’água. O que tem acontecido é que as construções e a ocupação humana têm invadido os hábitats naturais delas e, nesse processo, passam a ser encontradas em áreas mais próximas ao homem”, diz.
Nas redes sociais, são vários os relatos de aparecimento desses animais nas casas de paulistanos das zonas oeste, sul e norte. O Instituto Butantã tem registro de acidentes com taturanas em bairros como Morumbi e Guarapiranga, na zona sul, e em áreas próximas à Serra da Cantareira, na zona norte.
As duas espécies de lagartas que mais frequentemente causam acidentes são a lonomia, de cerdas verdes que lembram espinhos, e a cachorrinho, de pelagem ruiva. A primeira é a mais perigosa por ser a única com toxinas capazes de causar quadro grave.
O Butantã é a única instituição no mundo a produzir o soro. Em alguns pacientes, a síndrome hemorrágica provocada pelo veneno da lonomia pode ser revertida espontaneamente. Em outros, se não tratada, pode causar lesão renal e hemorragia cerebral e até a morte.
Envenenamento
A chefe da Divisão de Vigilância Ambiental – Zoonoses e Intoxicações da Secretaria de Estado de Saúde,Centro de Controle de Envenenamento, vinculado à Secretaria de Saúde do Paraná Tânia Portella Costa explica que Nos dias mais quentes, aumenta o número de casos de envenenamento por animais peçonhentos, inclusive lagartas.
“O envenenamento é causado pela penetração das cerdas das lagartas na pele. Ocorre a inoculação dessa toxina, que pode determinar alterações locais ou sistêmicas, no caso do gênero lonomia”, diz Tânia. As reações sistêmicas incluem alguns tipos de hemorragia, alteração no tempo de coagulação, entre outros problemas.
Embora a maior parte dos casos apresente apenas sintomas no local de contato, é fundamental procurar ajuda médica sempre que houver algum incidente envolvendo lagartas. Há lagartas que causam somente a sensação de queimadura, dor e vermelhidão, mas só profissionais de saúde são capazes de avaliar caso a caso. Além disso, apenas os profissionais saberão distinguir os tipos de lagarta – não é possível saber se um bicho cabeludo em específico é mais venenoso ou não apenas olhando para ele. Essa variação também independe da cor do animal.
Dependendo da gravidade, o tratamento é feito por meio de soroterapia realizada em ambiente hospitalar. “A grande maioria dos casos é muito leve, com outros tipos de lagarta. Quando o incidente é com as lonomias nós classificamos em leves, moderados e graves, podendo ter ou não ser feita a soroterapia. Isso vai depender da avaliação”, afirma Tânia. Em casos leves o tratamento é à base de anti-histamínicos.
O que fazer?
Sempre que encostar em uma taturana, lave com água e sabão o mais rápido possível e procure atendimento médico. Em Curitiba o Centro de Controle de Envenenamento (CCE) atende pelo telefone 0800-41-0148. O endereço é Rua General Carneiro, 181.
Tânia aconselha a, sempre que possível, tirar uma foto do animal que causou o ferimento ou mesmo colocá-lo com cuidado em um recipiente e levá-lo ao centro médico. “A identificação do animal facilita muito o tratamento. Sugere-se que se faça a soroterapia até 72 horas após o acidente, mas as primeiras horas são primordiais para a evolução positiva.” No caso de Teresa, a paciente só foi medicada com o soro 48 horas depois do episódio.
Como evitar?
A especialista enumera alguns cuidados necessários para evitar acidentes com as taturanas:
– Utilizar equipamentos de proteção individual, como botas, luvas de couro, calças e camisas de maga comprida.
– Não colocar a mão em buracos, no solo, em troncos de árvores e folhagens. Observar antes para ver se não há uma colônia de lagartas ou mesmo uma lagarta isolada ali [muitas delas têm cores parecidas com as dos troncos das árvores e, por isso, são difíceis de enxergar].
– Examinar calçados, roupas pessoais, de cama, de banho, roupas que estejam no varal.
– Manter a casa e o quintal sempre limpos, livres de entulhos e de lixo, e redobrar os cuidados nos períodos mais quentes do ano.