Cientistas brasileiros usam talo e casca do abacaxi para criar curativo natural
Flávia Schiochet
15/07/2018 17:00
A bromelina é uma proteína encontrada no abacaxi. Pesquisadores da Uniso e Unicamp testam a atividade da proteína associada à nanocelulose para fazer um curativo "natural". Foto: Janaína Ataide/Arquivo pessoal
Usando a casca e o talo do abacaxi para extrair uma proteína chamada bromelina, pesquisadores da Universidade de Sorocaba (Uniso) e da Universidade de Campinas (Unicamp) desenvolveram um curativo que tem potencial para curar feridas, úlceras e queimaduras mais rápido. O resultado da pesquisa conjunta de quatro anos foi publicado em artigo científico na revista Nature, no ano passado.
O “biocurativo” é formado por uma estrutura de nanocelulose com o ativo da bromelina, e está sendo testado no formato de emplastro e gel. Os testes in vitro foram bem sucedidos, mas ainda faltam algumas etapas para poder ser testado em animais e em humanos. Como a pesquisa é financiada por recursos públicos, a estimativa é que, se os testes derem certo, o produto esteja no mercado em no mínimo cinco anos.
Estudada pela equipe da pesquisadora Angela Faustino Jozala, do Laboratório de Microbiologia Industrial e Processos Fermentativos da Uniso, a nanocelulose é um tecido biodegradável produzido pelas bactérias Gluconacetobacter xylinus, com textura gelatinosa, flexível e biocompatível com a pele humana. Além de formar uma barreira física para que o ferimento não seja contaminado, a nanocelulose alivia a dor e ajuda na cicatrização.
A bromelina, por sua vez, tem propriedades antimicrobianas, ajuda na coagulação, na eliminação de células mortas no ferimento, e é anti-inflamatória. Quando a bromelina e a nanocelulose são associadas, mergulhando a estrutura gelatinosa de nanocelulose no líquido com bromelina, há aumento da atividade antimicrobiana.
“A nanocelulose é produzida por bactérias que se alimentam do resíduo da indústria alimentícia, provenientes de partes descartadas do abacaxi. A ideia é que esse curativo seja ecologicamente inteligente, especialmente quando precisar ser feito em uma escala maior”, explica Priscila Mazzola, pesquisadora da Faculdade de Ciências Farmacêuticas da Unicamp que estuda a bromelina há dez anos.
“Seria o caso de fazer uma parceria com uma indústria de sucos, por exemplo, para usar o descarte de talos e cascas do abacaxi. O curativo tem potencial para ter um custo baixo e com isso ser incluído nos medicamentos do SUS”, completa.