Sem comprovação científica, dieta detox não reverte intoxicação após exageros
Rodrigo Batista, especial para Gazeta do Povo
12/12/2017 06:00
Uso de sucos naturais e alimentos leves é comum na dieta, mas o melhor é não exagerar em comida e bebida. Foto: Pixabay.
As festas de fim de ano são ótimas oportunidades para comer bem e apreciar boas bebidas, mas os exageros acontecem. E muita gente já começa a pensar nas famosas dietas detox, para “limpar” o organismo. A doutora em Nutrição Humana e professora do Departamento de Nutrição da Universidade Federal do Paraná (UFPR), Regina Maria Vilela, alerta que, na verdade, esse tipo de dieta não possui comprovação científica. Além disso, segundo a professora, o ideal é não cometer exageros para evitar sobrecarga ao organismo.
O termo Dieta Detox é popularmente conhecido como os alimentos utilizados para desintoxicar o organismo de alto teor de bebidas alcoólicas, alimentos altamente gordurosos, industrializados ou com excesso de temperos. “A ideia dessa dieta é como se você pudesse desintoxicar o organismo desses excessos. Mas uma vez que você se intoxicou, você não reverte esse processo”, alerta a professora.
Por que, então, as pessoas se sentem bem com a dieta?
O que ocorre de fato quando uma pessoa comete excessos é que o próprio organismo alerta para a alta taxa de álcool ou gordura no corpo. A partir de então, se a pessoa continuar com o exagero, pode causar ainda mais danos ao organismo. “O próprio corpo sinaliza para que a pessoa pare de exagerar”, acrescenta.
Esses alimentos leves que o organismo consegue digerir facilmente não causam danos, por exemplo, às células hepáticas. São líquidos, sucos, vegetais e legumes, que são pobres em gorduras e que não possuem ingredientes que o organismo não toleraria mais processar. “De fato, ela [a dieta] não desintoxica. Essa dieta dá um repouso ao organismo. Quando uma pessoa come alimentos ricos em vitaminas, antioxidantes, com pouca gordura, faz o corpo se sentir melhor”, acrescenta.
O ideal é não exagerar
O organismo está mais preparado para digerir alimentos e líquidos leves, o que, eventualmente, não impede que uma pessoa possa apreciar em maior quantidade as delícias de uma ceia de Natal e Ano Novo, e ingerir alguma bebida alcoólica, conforme explica a professor. “O mais recomendável é não cometer excessos, senão a pessoa vai sofrer o efeito da intoxicação”, explica.
Sobremesa leve e água ajudam
É comum em uma ceia de fim de ano, ou nos almoços dos dias festivos, que as sobremesas também sejam bastante saborosas. Porém, também podem conter muita gordura e açúcar em excesso. Por isso, a professora orienta que, depois de uma refeição mais pesada, o ideal é equilibrar o organismo com a ingestão de frutas na sobremesa. Mesmo durante a refeição, as carnes podem ser apreciadas junto a saladas ou legumes, o que pode diminuir os efeitos da intoxicação.
Assim como na alimentação, as bebidas podem estar intercaladas com a ingestão de água e sucos, para diminuir o excesso de álcool no organismo e a consequente sobrecarga no fígado. E a professora explica que misturar ou não os tipos de bebida disponíveis à mesa não muda o fato de que, em grande quantidade, prejudica o organismo. “Álcool é uma droga, que causa danos às células hepáticas, sendo de um tipo de bebida ou mais. Ao ingerir em excesso, os danos às células já estão feitos”, afirma.
Evite mudanças bruscas na alimentação
Comer em excesso e decidir, de uma hora para outra, fazer uma dieta desintoxicante pode trazer problemas ao organismo. A professora lembra de que é comum que algumas pessoas tenham hábito de intercalar jejum e detox com grandes quantidades de comida, o que pode caracterizar um comportamento compulsivo na alimentação. “Isso acaba trazendo riscos ao organismo, como doenças cardiovasculares, além de dores de cabeça e cansaço”, diz. Essas alterações abruptas podem estar associadas, segundo a doutora em Nutrição Humana, a sentimentos de culpa (quando a pessoa exagera na comida) e prazer (ao ingerir altos teores de doces, carnes e bebidas). Ela recomenda uma ajuda especializada nesses casos, com acompanhamento de endocrinologista ou, até mesmo, psicólogos.