Estudo na Alemanha identifica plástico no organismo de 97% das crianças
Gazeta do Povo
25/09/2019 13:00
97% das crianças analisadas tinham traços de plásticos no organismo, diz estudo alemão Foto: Bigstock.
Um estudo realizado pelo Ministério do Meio Ambiente da Alemanha em parceria com o Instituto Robert Koch identificou traços de 11 dos 15 aditivos plásticos analisados no organismo de praticamente todas as crianças que participaram da pesquisa.
Das 2,5 mil crianças, entre três e 17 anos, avaliadas, 97% apresentaram componentes de material plástico nas amostras de sangue e urina coletadas e testadas entre os anos de 2014 e 2017. O estudo foi divulgado na sexta-feira (13) pela revista alemã Der Spiegel.
A pesquisa ainda não foi publicada, de acordo com a revista, embora os resultados tenham sido disponibilizados pelo governo depois de solicitação do Partido Verde.
O contato das crianças com produtos de limpeza plásticos, roupas impermeáveis, embalagens de alimentos, utensílios de cozinha, entre outros produtos plásticos, pode estar por trás desse resultado. Isso porque esses produtos, em geral, entram em contato direto com o corpo. O estudo, porém, não deixa claro como essas substâncias plásticas foram ingeridas.
Riscos à saúde
Os produtos químicos encontrados no estudo não apresentam riscos conhecidos à saúde, mas os pesquisadores destacam a presença de uma substância em particular: o ácido perfluorooctanóico (PFOA). Presente em panelas antiaderentes e roupas impermeáveis, o PFOA pode afetar o sistema reprodutivo e o fígado, conforme alerta o Ministério do Meio Ambiente da Alemanha.
A partir de 2020, inclusive, a substância passará a ser proibida pela União Europeia.
Há também uma possível relação dos aditivos plásticos com a obesidade, função hormonal, desenvolvimento de câncer e mesmo atraso no desenvolvimento de crianças.
A pesquisa também identificou que as crianças de famílias mais pobres apresentavam mais resíduos plásticos no organismo que as de famílias mais ricas. E com relação à idade, as crianças mais jovens eram mais afetadas.
Plásticos no ar
Micropartículas de plástico estão presentes no ar que respiramos e nos alimentos e bebidas que consumimos, potencialmente trazendo riscos à saúde humana.
A soma total ingerida semanalmente seria de cinco gramas — o equivalente ao peso de um cartão de crédito, segundo um estudo realizado pela Universidade de Newcastle, na Austrália.
“Não se sabe há quanto tempo estamos comendo plástico”, diz Camila Domit, bióloga e pesquisadora da Universidade Federal do Paraná (UFPR). “Mas hoje estamos submetidos ao efeito de todo o plástico que está disponível no ecossistema desde que ele virou nosso principal auxílio de vida”, fala.
No corpo humano, essas micropartículas, que têm até cinco milímetros, podem entrar pelas vias aéreas e ser incorporadas pelo intestino, gerando lesões inflamatórias. As partículas menores podem ser absorvidas pelas células e atingir o sistema linfático, a circulação, alguns órgãos como baço, fígado, rins e até mesmo o sistema nervoso central.
“Quanto menor a partícula, maior a capacidade de captação pelas células e infiltração nos tecidos e, portanto, maior a possibilidade de danos”, alerta Anderson Martino Andrade, professor do Departamento de Fisiologia da UFPR que pesquisa a ação de agentes químicos sobre a saúde humana. Os estudos que mapeiam a ação específica dos microplásticos a longo prazo ainda são escassos, então é difícil apontar quais são os riscos para a saúde humana.