Estudos mostram os tipos de exercícios que melhoram os sintomas de depressão
New York Times
22/06/2018 17:00
Pesquisadores descobriram que os exercícios podem mudar aspectos do cérebro, inclusive os níveis de vários neuroquímicos que influenciam o humor. Foto: Bigstock
Levantar pesos pode melhorar o humor, segundo uma revisão importante de dezenas de estudos sobre treinos de força e depressão. Segundo eles, os exercícios de resistênciaem geral reduzem de maneira substancial a tristeza das pessoas, não importando o quão melancólicas elas se sentem no início, ou com que frequência – mesmo que raramente – visitem a academia e façam musculação.
Já existem evidências consideráveis de que, em geral, exercícios podem ajudar a prevenir e a tratar a depressão. Em 2016, por exemplo, uma revisão em larga escala que envolveu mais de um milhão de participantes concluiu que estar fisicamente em forma reduz substancialmente o risco de que a pessoa desenvolver depressão clínica.
Outros estudos e revisões descobriram que os exercícios podem diminuir os sintomas de depressão em pessoas que já foram diagnosticadas com a doença.
A maioria desses estudos, porém focou em exercícios aeróbicos, como caminhar ou correr.
Muito menos se sabe sobre os possíveis benefícios de treinamento de peso para a saúde mental. Uma análise de 2017 de pesquisas anteriores descobriu esses treinos podem ajudar as pessoas a se sentir menos ansiosas e nervosas.
Mas ansiedade não é depressão.
Então, para o novo estudo, que foi publicado em maio no periódico JAMA Psychiatry, os mesmos pesquisadores que haviam examinado ansiedade e exercícios de resistência agora focaram na depressão.
Resistência e depressão
Eles queriam ver se a pesquisa disponível poderia nos dizer se levantar pesos afeta de maneira significativa o início e a gravidade da depressão. Procuraram também determinar se a quantidade de exercícios e a idade, a saúde e o sexo dos praticantes faria alguma diferença.
Os pesquisadores começaram reunindo todos os melhores estudos anteriores relacionados com exercícios de resistência e depressão. Eles estavam interessados apenas em experiências randomizadas com grupos de controle, o que significa que algumas pessoas foram designadas para começar a se exercitar enquanto outras não. Essas experiências são o padrão ouro para testar os efeitos de exercícios e outras intervenções.
As experiências também tinham que incluir testes para depressão antes e depois do treinamento.
Os pesquisadores encontraram 33 estudos sobre musculação e depressão que preenchiam seus critérios. Esses estudos envolveram quase dois mil homens e mulheres de várias idades, alguns já diagnosticados com depressão.
Os pesquisadores agregaram os resultados de todos esses estudos e começaram a analisar os dados.
O que eles descobriram é que o treino de resistência consistentemente reduziu os sintomas de depressão, quer o indivíduo estivesse formalmente deprimido no começo do estudo ou não. Em outras palavras, se as pessoas começaram o estudo com depressão, elas em geral se sentiram melhores depois do início do treino de musculação. E se começaram com saúde mental normal, acabaram o experimento com menos chances de se tornar melancólicas e tristes do que as pessoas que não treinaram.
Quantidade de treino influencia?
Talvez o mais interessante seja que a quantidade de treinos com peso não pareceu importar. Os benefícios são essencialmente os mesmos se a pessoa for para a academia duas ou cinco vezes por semana e se ela completar várias repetições de cada exercício ou apenas algumas.
Os impactos na saúde mental também foram parecidos para homens e mulheres e jovens (em geral universitários) e pessoas de meia-idade ou idosos.
E as pessoas não precisam criar massa muscular ou força para reduzir a depressão. Mais força depois da pesquisa não teve correlação com menos depressão, segundo os pesquisadores.
A única coisa que importa é aparecer na academia e completar os treinos.
Apenas alguns estudos também incluíram grupos separados que fizeram exercícios aeróbicos, o que tornou difícil comparar os efeitos desse tipo de ginástica com o levantamento de peso.
Apesar de número de pessoas ser pequeno, porém, os resultados combinados sugerem que musculação e exercícios aeróbicos têm impactos parecidos sobre a depressão, segundo os autores da nova revisão.
Os dois tipos de exercícios reduziram os sintomas quase na mesma proporção.
Porém, esse tipo de revisão não nos diz de que maneira o treino de força pode influenciar a saúde mental.
Expectativa X realidade
O exercício provavelmente tem consequências fisiológicas e psicológicas, explica Brett Gordon, aluno de pós-graduação da Universidade de Limerick, na Irlanda, que liderou a nova revisão. A musculação pode mudar aspectos do cérebro, inclusive os níveis de vários neuroquímicos que influenciam o humor, diz ele.
“A expectativa também pode contar”, afirma. As pessoas esperam que os treinos façam com que se sintam mais alegres, e isso acontece. (É impossível a pessoa não saber que está levantando peso. Então, alguns dos benefícios psicológicos podem ser resultado de um efeito placebo que, no entanto, produz benefícios reais.)
Os resultados da revisão não indicam que o treino de resistência é melhor para combater a depressão do que outros tipos de exercícios, diz Gordon. E também não sugerem que os exercícios podem, ou devem, substituir as terapias tradicionais, entre elas a medicação.
No entanto, segundo ele, como um todo, os dados sugerem que ir para a academia e levantar pesos algumas vezes por semana pode ser uma maneira efetiva de melhorar a saúde mental.