Saúde e Bem-Estar

Falsos gordos e falsos magros

Agência RBS
06/02/2017 11:00
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Assim como ser magro não é sinônimo de saúde, estar acima do peso também não expõe automaticamente a pessoa a doenças. Magros que não se alimentam corretamente, não realizam atividades físicas e mantêm hábitos não saudáveis (como fumar e beber) estão mais expostos a problemas de saúde do que os gordinhos – gordinhos mesmo, não obesos – que se cuidam, praticam esportes, não fumam e ingerem alimentos e bebidas saudáveis.

Embora a base da constituição física comece na genética – ou seja, não pode ser modificada –, a maior parte dos fatores que levam um indivíduo a ter ou não uma boa saúde está ligada aos hábitos adotados durante a vida. Dito isso, a conclusão é quase óbvia: você pode ser magro e ainda assim ter doenças que seriam de pessoas acima do peso. Na prática, um “falso magro”. Ou o contrário: pode ser gordo e não ter doenças. Clinicamente, um “falso gordo”.

“Depende do que é o magro: se ele é atleta, se tem músculos ou se está magro de doente. Tudo está muito vinculado ao seu modo de vida. O fato de ter pouco peso por questão genética, mas se alimentar mal, ser sedentário e fumar faz com que a pessoa não seja saudável”,  afirma o médico Paulo Henkin, nutrólogo da Associação Brasileira de Nutrologia (Abran).  “Sobre o gordo, é preciso verificar se ele tem sobrepeso ou é obeso. Às vezes, o indivíduo tem peso aumentado porque malha muito. E isto não é problema”.  exemplifica Henkin.

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Se manter uma rotina de exercícios e alimentação balanceada pode ser a “salvação” do organismo de um gordo ou um magro, essa regra não vale para os obesos. Para eles, os cuidados, a dieta e as atividades físicas devem ser maiores e, mesmo assim, apenas reduzem os riscos, mas não garantem uma saúde plena.

“A incidência de problemas depende de o quanto se está acima do peso. Mas o obeso nunca será saudável”,  sentencia Beatriz Pellin Moser, nutricionista clínica e oncológica, integrante do Conselho Regional de Nutricionistas do Estado (CRN-RS). “Outra questão é sabermos que tipo de gordura existe e onde ela se localiza. Também é adequado investigar o quanto de peso muscular e ósseo tem o indivíduo. O índice de massa corporal (IMC) não deve ser considerado sozinho”,  prossegue Beatriz.

Gordo ou magro, seja  ativo

Independentemente de você estar acima ou abaixo do peso, é importante realizar algum tipo de exercício físico.  “Hoje temos estudos que comprovam que a atividade diária, mesmo em curto período, como 30 minutos, traz benefícios fantásticos à saúde. A atividade deve ser aliada à qualidade da alimentação ingerida. Se tivermos controle sobre estes indicadores, teremos uma população mais saudável e com perfil laboratorial mais adequado “, diz a nutricionista Jacqueline Schaurich dos Santos.

Fisiculturista x obeso
De forma isolada, o IMC diz pouco sobre a saúde de uma pessoa. Exemplo: um homem com 1m72cm e 67 quilos tem 22,31 de IMC, taxa considerada normal para a combinação entre o seu peso e a sua altura. Mas se ele é magro e tem gordura acumulada no abdômen (a chamada “barriguinha de cerveja”), torna-se mais suscetível à síndrome metabólica. Conjunto de doenças que pode evoluir para problemas cardiovasculares, a síndrome resulta em uma taxa de mortalidade geral duas vezes maior do que na população normal. O risco de morte por problema cardiovascular é três vezes maior. Ou seja, no exemplo em questão, estamos falando de um falso magro, ou um magro com perfil de gordo.

“Um homem pode ter peso maior do que a média, mas, se tem genética boa e não tem colesterol alto ou aterosclerose, pode estar muito bem de saúde, melhor do que um magro com síndrome metabólica. Aquele barrigão pode levar a distúrbios importantes, principalmente cardíacos, renais e hepáticos”, afirma o médico Giuseppe Repetto, membro da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM).

O médico Marcio Nutels, pós-graduado em Nutrologia pela Associação Brasileira de Nutrologia (Abran), explica que a gordura corporal excessiva gera um quadro inflamatório que possibilita o surgimento de várias doenças, como infarto, derrames, aumento da pressão, diabete e até mesmo câncer. Por considerar apenas o peso e altura, prossegue Nutels, o IMC não é um bom parâmetro para análise da composição corporal.

“Duas pessoas com mesmo peso e altura sempre terão o mesmo IMC, mas podem apresentar composições corporais bem diferentes. Para entender melhor isso, basta fazer um comparativo entre um fisiculturista e um obeso. Se ambos tiverem o mesmo peso e altura, o IMC será o mesmo, porém, um apresenta muita gordura corporal, enquanto o outro tem muita massa muscular. Lembremos que massa muscular é sempre bem-vinda. Já a gordura corporal, não”,  sentencia.