Uso de filtro solar não compromete a absorção de vitamina D, diz estudo
Flávia Alves, especial para a Gazeta do Povo
27/05/2018 08:00
(Foto: Bigstock)
“Use filtro solar”. A recomendação escrita por Mary Schimich em 1997 correu o mundo, quem não lembra? No Brasil, o jornalista Pedro Bial foi responsável pela versão em português do texto que, entre outros conselhos, adverte para os benefícios “provados e comprovados” do cosmético. Anos depois, muitos começaram a questionar sobre este uso, alegando que o protetor seria um dos principais responsáveis pela epidemia de deficiência de vitamina D que atinge a população mundial. Mas, afinal, o filtro é vilão ou mocinho?
No ano passado, a Sociedade Brasileira de Dermatologia publicou um estudo que absolve (pelo menos por enquanto) o protetor solar. A pesquisa – que foi conduzida pelos dermatologistas Flávio Luz, Clívia Carneiro, Hélio Miot e Sandra Durães e contou com o apoio da equipe do laboratório de análises clínicas da Universidade Federal Fluminense (UFF) – envolveu 95 voluntários, divididos em três grupos. Um deles foi totalmente privado da luz solar, e os outros dois expostos a doses baixas sol (de 10 a 15 minutos), um com e outro sem filtro com fator de proteção solar (FPS) 30.
“A variação dos níveis de vitamina D entre o grupo exposto com filtro solar e o grupo exposto sem o filtro não foi significativa, indicando que não houve diferença substancial entre a exposição solar leve com e sem filtro solar”, explica Miot.
Proteção do bem
A confirmação joga luz sobre uma das questões mais controversas da dermatologia, segundo a médica Elisa Siqueira, dermatologista do Hospital Marcelino Champagnat. Sua principal contribuição, destaca, é reforçar uma prática considerada fundamental para manter a saúde da pele: fugir da exposição demasiada e sem proteção aoraios ultravioleta, extremamente nocivos à saúde. “Os raios UV podem causar danos terríveis, como foto dermatose, alterações na espessura da pele e câncer”, alerta.
Ela aponta, ainda, mais um aspecto levantado pela pesquisa: a exposição, para garantir os níveis de vitamina D, pode ser feita em horários com menor incidência de raios UV, o que é considerado mais seguro pelos médicos. “O ideal é que se tome sol antes das 10 horas e depois das 15 horas. É aquele sol do bebê”, adverte.
O verdadeiro culpado
O grande vilão responsável pela epidemia de hipovitaminose D – estima-se que metade da população brasileira tenha carência desta vitamina e no Sul do país estudos mostram um número ainda mais assustador, cerca de 70% da população – é o ritmo da vida moderna, aponta a médica.
“Somos uma sociedade de escritório. Hoje vivemos trancados, não nos expomos de forma suficiente”, alerta Elisa. Para ela, uma forma de driblar a carência seria incluir banhos de sol diários. “Bastam 10 minutos por dia e o melhor é ir alternando as áreas expostas, em um dia expondo as pernas, no outro, os braços, por exemplo, já que os efeitos dos raios UV são cumulativos”, sugere.
Além da falta de exposição, outros fatores podem contribuir para a carência, como a idade (a tendência é que idosos, por terem a pele mais “grossa”, precisem de maior exposição para garantir os níveis da substância), má-absorção no intestino (em pacientes que fizeram cirurgia bariátrica, por exemplo) e até mesmo o uso de determinados medicamentos.
Vitamina coringa
Responsável por manter o sistema imunológico em dia e deixar ossos e músculos mais fortes, a vitamina D é uma das substâncias mais importantes para o organismo e já tem mais de 80 funções listadas pelos cientistas. Estudos indicam que ela também atua no sistema cardiovascular e que seria uma importante aliada na prevenção e tratamento de doenças autoimunes, como esclerose múltipla e artrite.
Ela até pode ser encontrada em alimentos como peixes, mas sua principal fonte, cerca de 90%, é a síntese a partir da exposição da pele ao sol.
Suplementação com indicação
Nos casos em que existe carência ou deficiência de vitamina D é possível fazer a suplementação, mas Elisa alerta que ela sempre deverá ser orientada por um médico, após a realização de um exame de sangue para medir os níveis e determinar a quantidade a ser prescrita.
“Hoje vemos muitas pessoas tomando vitamina sem indicação, mas isso pode trazer danos à saúde. Pode haver uma sobrecarga renal, levando à cálculos e até mesmo comprometendo a absorção de cálcio pelo organismo”, explica.