Saúde e Bem-Estar

Kate Middleton quer parto do terceiro filho em casa; veja riscos, vantagens e custos

Marina Mori
13/09/2017 12:22
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Foto: Art Partner / Divulgação | Foto: Mario Testino/ Kensignton

Pouco mais de uma semana após o comunicado oficial de que Kate Middleton e o príncipe William estão esperando seu terceiro bebê, mais uma notícia agitou a rotina da família real britânica: a duquesa de Cambridge quer dar à luz em casa. Segundo tabloides do Reino Unido, Kate está “interessada na ideia” e um dos motivos é o desejo pela privacidade. Se a decisão se concretizar, a nova criança será o símbolo da retomada da tradição real – até 1970, todos os bebês nasciam na casa da realeza. A partir dessa data, a princesa Anne rompeu o protocolo ao ter seu bebê no hospital St. Mary’s, e a princesa Diana seguiu o exemplo com William e Harry.
Ao decidir ter seu terceiro filho (ou filha, já que o sexo do bebê ainda não foi divulgado) no Kensignton Palace, Kate ficaria livre da imprensa e dos protocolos que teve de cumprir após o nascimento do príncipe George, no hospital St. Mary’s: fez cabelo, maquiagem e se vestiu elegantemente poucas horas após o parto para posar em frente a uma multidão de paparazzi.
O nascimento do primeiro filho, o príncipe George | Foto: Reprodução
O nascimento do primeiro filho, o príncipe George | Foto: Reprodução
Mas a escolha de parir em casa não é tão simples quanto parece – pelo menos, não para as plebeias. Apesar de ser um direito da gestante de ter seu bebê onde quiser, quem decide trocar o ambiente asséptico do hospital pelo conforto do lar enfrenta uma série de preconceitos. A maioria dos médicos é contra a alternativa por conta de possíveis emergências que mãe e filho podem enfrentar. Estando em casa, portanto, o risco de não conseguir chegar ao hospital mais próximo em tempo é grande.
“É um debate eterno. Se a gestante analisar só o risco da complicação muito grave, opta pelo hospital. É preciso fugir desse desvirtuamento de que o parto é doença e de que sempre vai dar errado”, afirma o obstetra Carlos Miner Navarro, que foi professor de obstetrícia da UFPR e pioneiro a atender a partos domiciliares em Curitiba, em parceria com a enfermeira obstetra Adelita Gonzalez.
Quando começou a fazer partos em casa, a enfermeira sofreu muita discriminação. As críticas vinham de colegas da maternidade, de obstetras e, em especial, de pediatras. “A ideia de que a assistência ao parto precisa de um médico é cultural e cheia de mitos”, diz Adelita. Como o Conselho Federal de Enfermagem (Cofen) apoia a autonomia dos enfermeiros de realizarem partos, a presença do médico não é obrigatória.

Quem pode optar pelo parto domiciliar?

Apesar de favorável ao tema, o obstetra alerta que é preciso estar ciente de que existem riscos e, por isso, se preparar para possíveis emergências. Somente mulheres saudáveis e com gestação de baixo risco podem optar pelo serviço e, mesmo assim, o aval para um parto em casa só ocorre na 37ª semana de gravidez. Quem tem diabetes, hipertensão, problemas renais ou cardíacos não tem essa alternativa. Em alguns casos, há risco de que doenças como a pré-eclâmpsia (hipertensão) interrompam o plano do parto em casa.
Algumas vezes, as enfermeiras têm que rejeitar o serviço por não sentir segurança sobre a saúde da gestante. “Tenho consciência dos riscos e por isso tenho todo um planejamento. É uma responsabilidade, preciso ser criteriosa”, afirma a parteira Adelita Gonzalez, que já realizou mais de mil partos ao longo de 14 anos de profissão.
Segundo ela, a procura pelo serviço cresceu consideravelmente desde que começou a realizar partos em casa. Mas os números ainda não são expressivos. Em Curitiba, há dois grupos de enfermeiras obstetras além de Adelita responsáveis pelo trabalho, o Gaya e o Quatro Apoios. “Acredito que se tivesse mais grupos a demanda seria maior.”
Conselho de Medicina não recomenda
Tanto o Conselho Federal de Medicina quanto a Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (Febrasgo) não recomendam o parto domiciliar. “Mas é o direito da mulher de parir onde, como e quando desejar”, afirma Olímpio Barbosa de Moraes Filho, Presidente da Comissão de Pré-Natal da FEBRASGO e Professor Adjunto da Faculdade de Medicina da Universidade de Pernambuco.
E se o contexto brasileiro fosse semelhante ao dos países desenvolvidos, como Inglaterra, Holanda e Bélgica, em que o sistema de saúde pública apoia e incentiva os partos domiciliares? “Nesse caso, eu seria favorável, mas é uma realidade diferente. Aqui, 98% das mulheres parem nos hospitais”, diz Moraes Filho.
Um estudo conduzido pelo VU University Medical Centre, de Amsterdã, em 2014, comparou mais de 740 mil partos domiciliares e hospitalares e analisou os riscos de ocorrências adversas durante o período perinatal das mulheres com gestação de baixo risco. Conclusão: não há risco aumentado para os bebês que nasceram em casa quando o procedimento ocorre de forma integrada ao sistema público de apoio às gestantes.
Como funciona o parto domiciliar
Ao contrário do procedimento padrão seguido por muitas maternidades, os bebês que nascem em casa não saem da barriga da mãe direto para os exames – alguns considerados invasivos e desnecessários pelas defensoras do parto humanizado; cada avaliação é feita aos poucos, respeitando o tempo da mãe e da criança.
Adelita afirma que todos os exames essenciais são feitos na hora: o apgar (que avalia a vitalidade do bebê), o capurro (que identifica a idade gestacional da criança), o teste do pezinho, a medição do peso e da estatura e a avaliação física geral.
Estando tudo bem, tudo é feito em casa, a mulher não precisa ir ao hospital. A única obrigação é levar o bebê ao pediatra entre  as primeiras 24 ou 48 horas, para realizar exames que competem ao médico, como o teste do olhinho”, explica a parteira.

Quanto custa?

No Brasil, os valores variam entre R$ 4 a R$ 10 mil. Em Curitiba, o preço médio fica entre R$ 5.500 a R$ 6.500 reais. O pacote inclui as consultas domiciliares do pré-natal, o dia do parto com toda a assistência da equipe de enfermagem, consultas do pós-parto – que podem ser de duas a três – e o primeiro atendimento do pediatra.
É obrigatório ter uma doula?
Não. Como a função da doula é fornecer apoio emocional e informativo à gestante, fica a critério dela optar pelo serviço ou não. E, ao contrário do que muita gente pensa, as doulas não têm permissão de realizar partos ou qualquer procedimento médico – elas podem apenas acompanhar o processo.

Preparação da casa

Não é preciso muito: um espaço em que a gestante se sinta confortável, de preferência aquecido, com banheira ou piscina inflável e lençóis plásticos. Outros equipamentos, como balão de oxigênio e kit de primeiros socorros, são de responsabilidade da equipe que vai atender ao parto.
“O ambiente deve estar limpo, mas não precisa ser esterilizado. Ao contrário do que se pensa, os partos domiciliares têm baixo risco de infecção”, esclarece Navarro. O risco torna-se uma ameaça quando a mulher passa muitas horas em trabalho de parto depois que a bolsa se rompe.
“Segue-se uma tradição porque alguém em algum momento definiu que 24 horas é o máximo a se esperar depois que a bolsa estoura. A recomendação é ir para o hospital após 12 horas de trabalho de parto”, explica. Segundo o médico, ao longo das horas, as bactérias naturais da vagina – benéficas para a região – passam a fazer mal ao bebê, causando infecção.

O parto

“Cada parto é único e pode levar tempos diferentes para acontecer. Já atendi a um que levou três dias; em alguns, nem dá tempo de chegar”, conta a enfermeira. Os partos mais longos, porém, são os mais incomuns, segundo Adelita.
Se durante o monitoramento da gestante e do bebê tudo estiver bem, não há por que se assustar. A cada período de tempo, os profissionais conferem a pressão e temperatura da mãe, assim como os batimentos cardíacos do bebê.
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