Maçã, banana e pêssego: alergia a frutas existe e pode causar reações graves
Cecília Aimée Brandão, especial para a Gazeta do Povo
10/08/2019 08:00
As manifestações clínicas podem ser sistêmicas — urticária, angioedema e anafilaxia — ou localizadas, como a síndrome de alergia oral, e ainda há as graves. Foto: Bigstock.
Já imaginou ficar sem ar, cheio de coceiras pelo corpo e até mesmo desmaiar ao comer uma inocente maçã?
Essa é a realidade de quem tem alergias diversas às frutas, que mesmo não muito conhecidas, trazem sérias consequências.
As crianças tendem a sofrer mais e, na maioria dos casos, a cura a determinada sensibilização vem naturalmente com o amadurecimento do metabolismo. Mas, em alguns indivíduos, pode durar por toda a vida.
No caso das frutas, o perigo se esconde nas proteínas que compõem o alimento, como as LTPs (proteínas transportadoras de lipídios) e as profilinas, que podem causar sensibilização alérgica.
A médica alergista e imunologista cooperada da Unimed Curitiba, Gisele Kuntze, explica que a alergia a frutas é mais comum com maçã, pera, pêssego, kiwi, abacate, banana, ameixa, amora, framboesa, morango, mamão, laranja e cereja.
“A pessoa desenvolve alergia à determinada proteína presente na fruta e esta mesma proteína pode estar em várias outras, como a alergia à profilina, presente no pêssego, pera e kiwi ou alergia à proteína do látex — presente na banana, mamão, melão, abacate, abacaxi e kiwi”, esclarece a médica.
Cada corpo, no entanto, reage de uma forma à sensibilização alérgica. “As manifestações clínicas podem ser sistêmicas — urticária, angioedema e anafilaxia — ou localizadas, como a síndrome de alergia oral (coceira nos lábios, língua, palato, ouvidos, garganta; inchaço nos lábios). Reações graves podem ocorrer dentro de minutos a até poucas horas após a ingestão do alimento, inclusive anafilaxia — com sintomas cutâneos, digestivos, respiratórios e circulatórios”, explica.
Mas como saber qual alimento tem causado a alergia? “O relato detalhado das reações é o mais importante. Testes cutâneos e laboratoriais podem ser usados para identificar as sensibilizações alérgicas. Os testes de provocação oral, pelos quais se observa a ocorrência de reações após o consumo do alimento, também fazem parte do arsenal diagnóstico”, completa Gisele.
Reações alérgicas cruzadas
Desconhecida da maioria, mas muito comum entre os alérgicos, está a alergia cruzada, “uma resposta alérgica a fontes distintas (como, por exemplo, o látex e o kiwi) devido à presença de componentes estruturais muitos semelhantes nas duas ou mais fontes e que, por isso, são reconhecidos como iguais pelo sistema imunológico, explica a médica Lucila Camargo, especialista da Associação Brasileira de Alergia e Imunologia (ASBAI).
“As reações cruzadas mais comuns são aquelas de fontes próximas, como entre os leites de mamíferos e entre os ovos de diferentes espécies, mas existem outras síndromes clínicas que são importantes (látex-frutas, pólen-frutas, gato-porco, reação cruzada entre ácaros e crustáceos, etc.)”, completa.
Para este tipo de alergia não existe um tratamento específico, que segue o mesmo padrão de qualquer outra reação do organismo, com o uso de antialérgicos para o caso de contato.
O diagnóstico pode ser feito com a realização de exames auxiliares, “uma pesquisa de sensibilização a componentes marcadores de reação cruzada facilita muito a investigação diagnóstica após uma anamnese rigorosa”, diz Lucila.
A reatividade pode ser apenas sorológica, ou seja, só sensibilização a fontes cruzadas (teste alérgico positivo, mas ausência de sintomas) ou ter manifestação alérgica associada às fontes envolvidas.
“Na dúvida se é alergia ou sensibilização, sempre recorra ao teste de provocação em ambiente adequado, realizado por especialistas experientes, para ter certeza”, alerta a médica.