Liberados no fim de junho pelo presidente da Câmara dos Deputados Rodrigo Maia, os
inibidores de apetite não têm estudos confiáveis que demonstrem uma perda de peso real e benéfica à saúde do paciente com obesidade. Esses medicamentos aumentam o risco de problemas cardiovasculares, como enfartos, e Acidente Vascular Cerebral (AVC), além de favorecerem o“efeito sanfona”.
Fazem parte dessa classe de medicamentos a conhecida sibutramina e os emagrecedores à base de anfetamina: femproporex, mazindol e anfepramona. Os três últimos, que haviam sido proibidos em 2011 pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), estão agora livres para a venda e o consumo no mercado brasileiro.
Francisco José Roma Paumgartten, médico de Saúde Pública e pesquisador de eficácia e segurança de medicamentos da Escola Nacional de Saúde Pública da Fiocruz, foi um dos participantes da Câmara Técnica de Medicamentos da agência reguladora, que recomendou a retirada de todos os inibidores de apetite de circulação, na época que estava em discussão pela Anvisa. Em entrevista ao
Viver Bem, ele traz uma visão crítica desses medicamentos.
“Os inibidores reduzem o apetite, mas também aumentam a pressão arterial. Aumentam pouco, sim, mas é um aumento mantido durante um período longo e que influencia nos riscos de eventos cardiovasculares”, explica o pesquisador. Esse efeito negativo foi comprovado em um estudo conhecido como
SCOUT (Sibutramine Cardiovascular Outcomes Trial), que avaliou os riscos do uso da sibutramina em mais de 10 mil pacientes obesos ou com sobrepeso, em 2010.
“O resultado desse estudo mostrou que o efeito negativo do aumento da pressão arterial foi mais significativo e importante do que a perda de peso. Eram pacientes tratados durante quatro, cinco anos com a sibutramina. Percebeu-se que os participantes que eram tratados com o medicamento tinham mais enfartos e AVC’s do que em comparação ao grupo que recebeu um remédio placebo”, reforça o médico. Resultados assim influenciaram países como Estados Unidos e Canadá a proibirem a sibutramina, mas não o Brasil.
“Congresso, além de não ter competência técnica para decidir sobre a segurança e eficácia de medicamentos, também não tem a ausência de conflito de interesses. Isso não existe no Congresso, onde não precisa declarar de onde receberam doações antes de tomar esse tipo de decisão. A liberação ou não cabe às agências regulatórias, cabe à Anvisa.”
Efeitos psiquiátricos das anfetaminas
No caso dos emagrecedores à base de anfetaminas, o risco é ainda maior, pois geram um “vício”. “Além do aspecto de pouca eficácia ou ineficácia na perda de peso, esses medicamentos têm o risco de causarem dependência, problemas psiquiátricos, risco cardiovascular, insônia e agitação motora. São efeitos muito acentuados no Sistema Nervoso Central”, explica Paumgartten.
Dentre todos os medicamentos inibidores de apetite, a sibutramina é um dos mais recentes, desenvolvida na década de 1980 como um antidepressivo e, a partir da década de 1990, como um emagrecedor. Dos demais, a origem vem da década de 1950 e, de lá para cá, não houve mudanças significativas na formulação e uso.
“São medicamentos muito antigos, foram os remédios iniciais para o tratamento da obesidade e foi ficando claro, ao longo dos anos, os riscos. Se pesar os benefícios com os riscos, esses produtos não tinham justificava nenhuma para continuarem no mercado”, reforça o médico e pesquisador da Fiocruz.
Inibidores não têm papel adjuvante no tratamento da obesidade
Um dos principais argumentos de médicos e entidades de saúde defensoras da liberação dos inibidores seria que eles atuariam como importantes adjuvantes no tratamento da obesidade, ao lado da dieta e dos exercícios físicos. No entanto, não há evidências científicas de que, mesmo neste caso, os medicamentos seriam eficazes.
“Todo obeso, de forma geral, que já procurou tratamento, tomou sibutramina. Mas continuam obesos e deixaram de tomar o remédio. Ou porque os efeitos colaterais levaram-no a abandonar ou porque não estava dando o efeito positivo que lhe foi prometido. O médico, então, passa outro remédio, e continua assim”, diz Paumgartten.
Esse, inclusive, pode ser um dos motivos pelos quais alguns médicos são defensores dos inibidores, segundo o pesquisador. “Eu penso que essa é uma das insistências para ter uma variedade de produtos. Você mantém o paciente sempre com alguma prescrição. O que entendemos como medicina baseada em evidência, com todo respeito aos colegas médicos, tem sido muito subjetiva e influenciada por outros fatores”, critica.
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