Saúde e Bem-Estar

O que é microfisioterapia? Testamos os efeitos da técnica que promete “autocurar” o corpo

Amanda Milléo
24/07/2017 08:00
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Método tem sido estudado em um grupo de trabalho no Conselho Federal de Fisioterapia (Foto: Bigstock)

Quando uma das minhas melhores amigas me contou que estava se consultando com uma microfisioterapeuta, eu não me surpreendi. Não era a primeira vez – e não foi a última – que ouvi falar deste tratamento fisioterápico que mistura o toque, a fala e uma “leitura” única do corpo humano. Antes dela, conhecidas haviam relatado sessões de descobertas incríveis sobre a própria saúde, que ninguém além da própria família poderia supor. A perda de um bebê ainda no útero da mãe, experiências de quase morte na infância e a influência dos antepassados, que viveram durante a Segunda Guerra em Hiroshima, no Japão, nas alergias do presente foram alguns dos segredos desvelados.
O relato de quem passava pela microfisioterapia parecia ser algo de outro mundo, beirando a religiosidade e a terapia holística, cuja comprovação científica ainda é discutida na literatura médica. Mas, quem pratica e se beneficia dos resultados, jura que não. “Não pense que é coisa de outro mundo. Você chora horrores e sai com sede, mas é para eliminar as coisas ruins que estavam no corpo. Faz sentido depois que você começa a entender cada sinal e você sai aliviada”, jura minha amiga, que prefere manter o anonimato.
Curiosa, marquei uma consulta, que ocorreu na última segunda-feira (17) pela manhã. Orientada por quem tinha passado pela experiência, busquei um sintoma que pudesse compartilhar com a microfisioterapeuta, mas que não fosse inventado. A lista das patologias que a técnica diz tratar e prevenir é grande, então não foi difícil escolher entre alergias, enxaquecas, depressão, síndrome do pânico, distúrbios hormonais, alteração no funcionamento de órgãos, como constipação, gastrite e diabetes, traumas emocionais, dores físicas, ansiedade, fobias, problemas escolares, hiperatividade, agressividade, fibromialgia e estresse.
Como havia tido um episódio recente de crise de ansiedade, e estava à procura de um tratamento para isso, esse foi meu “sintoma” para a consulta, que começou pontualmente às 11 horas e levou cerca de uma hora.
Sentei em frente à microfisioterapeuta, formada em fisioterapia e que trabalha também com acupuntura, e esperei as orientações. Ela perguntou sobre os motivos que me levaram até ali e então pediu que eu batesse palmas e abrisse um vidro de medicamento homeopático. Com base nos meus movimentos, ela confirmou que eu era canhota “cerebralmente”, mesmo que fosse destra nos hábitos diários, que é o caso. Isso mostrava um conflito, em que meu lado ‘masculino’, que sempre buscava agir, lutar, estava em confronto com o lado ‘feminino’, que preferia ficar quietinho em um canto.
Feito isso, passamos à maca. Deitada, sem os sapatos, ela foi explicando, de forma bem didática, o que cada órgão representava para a microfisioterapia. O pulmão, por exemplo, está relacionado a perdas. “Houve algo assim nos últimos seis anos?”, ela pergunta. E, de fato, meu avô paterno havia falecido em 2012 e ele era uma pessoa muito importante para mim. Enquanto eu relatava o relacionamento com meu avô, a microfisioterapeuta passava a mão, de forma suave, ao lado do meu corpo, pressionando levemente alguns pontos na barriga e nos braços.
Ao falar do intestino, sua mão pressionada sobre meu útero, a profissional argumentou que o duodeno era uma parte do órgão relacionado a tudo que “engolimos” sem retrucar. Uma discussão no trabalho, uma briga com alguém a qual cedemos sem pensar muito. “Isso é algo comum na sua vida?” Sim, novamente, é algo comum. Geralmente, prefiro não brigar.
A sessão continuou e, a cada novo órgão, novas histórias – algumas estavam esquecidas em um canto da memória, outras estavam enterradas tão profundamente que foi difícil lembrar. Em nenhum momento me senti mal, pelo contrário. Uma música suave ao fundo e a voz calma da microfisioterapeuta tornaram a consulta confortável.
Ao fim, a conclusão: um rompimento recente na vida e as consequências posteriores a isso me deixaram com uma sensação, inconscientemente, de que era preciso fugir de tudo – daí a ansiedade.

Verdade ou mentira?

Se foi uma mescla de terapia oral com uma massagem ou se a microfisioterapia realmente consegue fazer o corpo se ‘autocurar’, não saberia dizer. Afonso Shiguemi Inoue Salgado, fisioterapeuta, doutor em Engenharia Biomédica e o primeiro a trazer a técnica ao Brasil, explica que tudo que vivemos permanece, de alguma forma, marcado no corpo e, com uma “leitura” adequada, é possível desvendar e ajudar o corpo a se livrar do que é ruim.
“Cada camada do corpo guarda um problema, que pode ser tóxico, químico, físico ou emocional. O profissional apalpa e cada ponto tem um significado. Com isso, é possível juntar datas de eventos do que aconteceu na vida”, explica o microfisioterapeuta.
Uma colega que também passou pela técnica relata que, ao chegar com a reclamação de alergias recorrentes, descobriu que a disfunção do corpo era decorrente de uma experiência vivida pela avó paterna, que era japonesa. A avó havia vivenciado as repercussões da Segunda Guerra Mundial em Hiroshima, no Japão. A dificuldade de o corpo se livrar de substâncias tóxicas, teoricamente, viria dessa “lembrança” guardada pela célula. Outra colega comentou que descobriu, durante a sessão, que não era a primeira filha da família. A mãe tinha tido uma gestação anterior que não se concretizou. Essas informações também estariam guardadas pelas células embrionárias.
Depois de cada consulta, a orientação dos especialistas é esperar de 45 a 60 dias para um novo encontro. Neste meio tempo, em que o corpo tentará se reorganizar, alguns sintomas são comuns, como desconforto intestinal, febre, irritabilidade e muita sede. A orientação é que se beba bastante água e líquidos e que se evitem medicamentos que não sejam de uso contínuo. Em alguns casos, há a prescrição de medicamentos homeopáticos.
Tanto Salgado quanto a microfisioterapeuta com quem tive a consulta compararam a técnica com a homeopatia. “É praticamente uma homeopatia com as mãos. Cada um tem sua história e cada um tem camadas diferentes. Se eu toco em você com uma pressão tal, nessa camada, tudo que sai é emoção. Então o profissional reestimula e reprograma o corpo a se ‘autocurar’”, diz Salgado. “Parece holístico, mas têm ciência por trás”, reforça.
De acordo com informações do Conselho Regional de Fisioterapia, o método não é regulamentado e não há nada que o formalize. No entanto, dentro do Conselho Federal há um grupo de trabalho que vêm estudando a microfisioterapia e ela estaria inserida, de acordo com Salgado, no rol das técnicas complementares integrativas. Por esse motivo, fisioterapeutas podem fazer uso da microfisioterapia nas consultas e pacientes podem se beneficiar do método.
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