Saúde e Bem-Estar

Novo tratamento contra a depressão aguda promete resultados em 24h

Amanda Milléo
07/02/2019 14:27
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Injeção de ketamina ajuda no combate à depressão, especialmente entre quem não responde bem ao tratamento ou tem pensamentos suicidas (Foto: Bigstock)

Anestésico conhecido dos médicos, a substância ketamina ganhou mais um papel: o de auxiliar no combate da depressão, especialmente entre os pacientes que não respondem bem aos tratamentos tradicionais ou quem tem pensamentos suicidas. Os resultados têm entusiasmado os médicos psiquiatras, que percebem uma melhora em até 24 horas em alguns grupos.
O tratamento com a ketamina ainda é experimental, chamado de offlabel, ou fora da bula. Isso significa que os fabricantes da substância não indicam, na bula do medicamento, esse uso contra a depressão, visto que se trata de uma substância pensada para atuar como anestésico. Nada disso impede, porém, que a ketamina seja testada pelos psiquiatras, pois há estudos, evidências e protocolos internacionais (especialmente norte-americanos) que trazem essas indicações.
A maioria dos protocolos indica uma injeção de ketamina por semana (sendo esse o período de duração do efeito da substância), repetindo a aplicação durante quatro a seis semanas, conforme a resposta do paciente. Depois, períodos de pausa são comuns e, se houver necessidade, volta-se a aplicação. É importante ressaltar que o uso da substância de forma oral não parece ter efeito contra a depressão, mas sim em uma dosagem menor e via injeção (endovenosa ou subcutânea). 
“Uma injeção por semana é a indicação, mas eventualmente pode-se aumentar para duas vezes, caso a resposta reduza. A dose de cada injeção varia de 0,5mL a 1mL por kg de peso do paciente, e a maior parte dos estudos não passa desse valor”, explica Roberto Ratzke, médico psiquiatra, professor do curso de Medicina da Universidade Federal do Paraná (UFPR), cooperado da Unimed e diretor da clínica Heidelberg.
A partir do tratamento, o paciente sente os sintomas reduzirem, e a medicação tradicional (que antes não era tão bem aproveitada pelo organismo) tem a ação potencializada pela ketamina, conforme explica o especialista.

“A ketamina não substitui a medicação antiga, os tratamentos são feitos em conjunto. É como um potencializador, para ajudar o antidepressivo a atuar melhor no paciente”, reforça Ratzke. 

Como os medicamentos antidepressivos tradicionais demoram algumas semanas para fazer efeito, o novo tratamento usando a ketamina é visto com bons olhos pelos médicos, justamente pela ação rápida e eficaz. E mesmo que seja indicado a um grupo seleto de pacientes, eles representam entre 25% a 30% das pessoas diagnosticadas com depressão. Ainda assim, o uso deve ser controlado.
Pacientes que não respondem bem ao tratamento tradicional representam entre 25% a 30% das pessoas diagnosticadas com depressão. Foto: Bigstock.
Pacientes que não respondem bem ao tratamento tradicional representam entre 25% a 30% das pessoas diagnosticadas com depressão. Foto: Bigstock.

Vício e efeitos colaterais

Feita a longo prazo (dois, três anos), e sem supervisão médica, a ketamina tem um risco de gerar uma dependência química, ou vício. Portanto, o uso deve ser sempre controlado e realizado em um ambiente médico (hospitais ou clínicas médicas), sob a orientação e supervisão de especialistas.
A aplicação da ketamina, de forma responsável, é feita de forma lenta, em doses inferiores às tradicionalmente usadas na função anestésica ou que possam gerar vício no paciente. “Os efeitos colaterais surgem durante a infusão, geralmente, e duram de 30 a 50 minutos. Eles incluem sonolência e o paciente pode sentir um efeito dissociativo, ou a sensação de desconexão entre o corpo e a mente. Alguns pacientes chegam a ter sonhos vívidos, mas que não são perigosos, em geral”, explica Luis Fernando Petry Filho, médico psiquiatra e investigador clínico da Trial Tech, clínica de infusão da ketamina localizada em Curitiba, Paraná.  
Embora as respostas da ketamina possam surgir logo nos primeiros dias após a aplicação, Petry reforça que é preciso esperar passar quatro semanas, em média, para que os médicos e pacientes tenham uma noção melhor da eficácia do medicamento.
“É um tratamento confortável de se fazer, em geral, e o mais importante é que é eficaz. Se formos pensar há uma legião de pacientes que não melhoram com o tratamento tradicional, e essa é uma medicação que pode mudar a forma de tratar. O mecanismo de ação da ketamina é diferente dos antidepressivos, pois faz uma modulação sobre a molécula cerebral (neurotransmissor) glutamato”, explica o psiquiatra.
Em Curitiba, a clínica Trial Tech oferece o tratamento com ketamina. Cada injeção custa, em média, R$ 600.
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