Saúde e Bem-Estar

Tratamento de vitiligo pode até mesmo incluir despigmentação total

New York Times, por Jane E. Brody
18/07/2019 08:00
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Houve um progresso significativo no tratamento, no reconhecimento e na redução do tremendo estrago emocional que pode causar. Foto: Bigstock.

Stella Pavlides tem vitiligo. É uma doença autoimune na qual o corpo ataca as células, chamadas melanócitos, que dão cor à pele.
Ela tinha 22 anos e estudava para ser estenógrafa quando começaram a aparecer manchas brancas nas mãos e nos pés, depois ao redor da boca e dos olhos, e nos braços, pernas e virilha.

“As pessoas dizem que o vitiligo não mata, mas mata seu espírito. Ficam olhando para as crianças, cospem nelas, batem”, ela me disse.

Embora a doença seja mais óbvia e muitas vezes mais emocional e socialmente devastadora quando aflige as pessoas de pele escura, Pavlides disse que o distúrbio era dolorosamente aparente em sua pele levemente castanha.
“Eu não saía com meus amigos. Nunca ia à praia. Eu me tornei uma reclusa. Até pensei em suicídio. Quando saía no verão em Nova York, usava blusas de mangas compridas, calças compridas e meias”, contou.
Quando ela não estava coberta da cabeça aos pés, “as pessoas olhavam para mim e sussurravam umas para as outras. Elas não me entregavam dinheiro porque tinham medo de me tocar. Saí da escola. Como poderia ser estenógrafa com vitiligo nas mãos?”, relatou.
Hoje com 73 anos e morando em Clearwater, na Flórida, Pavlides é uma pessoa diferente. Ela ainda tem vitiligo, mas não usa mais mangas e calças compridas; agora anda de sandálias.
No entanto, sempre usa protetor solar. Se a pele normal ficasse muito bronzeada, deixaria mais evidentes as áreas despigmentadas, e o sol queimaria facilmente as manchas brancas.

A vida de Pavlides foi transformada aos 55 anos por uma menina de 9 anos com vitiligo que lhe disse: “Deus fez você e Deus não comete erros”, sugerindo que ela deveria estar acima da reação dos outros e parar de se cobrir de cima a baixo.

Agora, como fundadora e líder da Fundação Americana de Pesquisa sobre Vitiligo, Pavlides é um modelo para os jovens que vêm ao retiro de verão da organização.
Escrevi pela primeira vez sobre vitiligo há 18 anos. Ainda é incurável, mas houve um progresso significativo no tratamento, no reconhecimento e na redução do tremendo estrago emocional que pode causar, especialmente em crianças e adolescentes, que representam metade do aproximadamente 1% da população afetada.
“Agora temos uma compreensão muito melhor das vias imunológicas envolvidas no vitiligo, que está fornecendo uma visão sobre como direcionar e tratar melhor a doença”, diz Seth J. Orlow, diretor de dermatologia da Escola de Medicina da Universidade de Nova York.
“Embora a maioria dos estudos mais recentes tenha envolvido apenas um pequeno número de pacientes, conseguimos alguns resultados muito promissores”, afirmou em uma entrevista.
Os mais promissores foram dois medicamentos já comercializados para outras doenças, o tofacitinibe e o ruxolitinibe, usados em combinação com um dos mais antigos tratamentos de vitiligo: exposição direcionada a uma faixa estreita de luz ultravioleta B, os raios que causam bronzeamento e queimaduras solares.
As drogas, chamadas de inibidores de JAK, bloqueiam o ataque imunológico mal direcionado do corpo aos melanócitos, e a luz UVB estimula as células pigmentares residuais a restaurar a cor das manchas descoloridas da pele, explicou Orlow.

A abordagem é especialmente eficaz se as pessoas forem tratadas antes que todos os melanócitos nas áreas afetadas da pele tenham sido destruídos. “Se 10% das células permanecerem, elas podem ser induzidas a ressurgir e repovoar a área despigmentada”, disse Orlow.

Outra terapia que depende da medicação usada para outras doenças é a aplicação tópica de prostaglandina E2, uma terapia de glaucoma, em áreas localizadas de vitiligo.
Em dois estudos, seis meses desse tratamento produziram repigmentação de moderada a completa na maioria dos pacientes, informaram Orlow e colegas na F1000 Research.
E, em um estudo que usou o latanoprosta para tratamento de glaucoma em combinação com a faixa estreita de UVB, ocorreu maior repigmentação do que com qualquer das substâncias utilizadas isoladamente.
Como a maioria das doenças autoimunes, o vitiligo é um distúrbio adquirido.
Raramente, crianças nascem já afetadas, embora possam ser geneticamente suscetíveis a desenvolver um distúrbio autoimune.

As pessoas com vitiligo, incluindo o filho de 51 anos de Pavlides, muitas vezes sofrem outras desordens autoimunes, como doenças da tireoide, artrite reumatoide, diabetes ou alopecia areata. Em algumas famílias, o envelhecimento prematuro do cabelo resulta em uma perda autoimune de melanócitos nos folículos pilosos.

“Há famílias em que as pessoas são propensas a condições autoimunes, mas cada membro sofre de uma diferente, e há outras famílias em que várias pessoas têm vitiligo, talvez por causa de algo diferente em suas células de pigmento”, disse Orlow.
O vitiligo pode começar a aparecer na primeira infância ou tão tarde quanto aos 80 anos. Não envolve nenhum micro-organismo e não é contagioso, embora em alguns países os pacientes com vitiligo sejam tratados como se tivessem hanseníase.

A desordem geralmente começa como pequenas manchas brancas irregulares na pele que gradualmente aumentam e mudam de forma, e é frequentemente provocada por um estresse físico, fisiológico ou emocional, como uma queimadura solar, certas exposições químicas, um acidente de carro ou um divórcio. No entanto, na maioria das vezes, o evento desencadeador é desconhecido.

Um mecanismo subjacente comum é o estresse oxidativo, uma incapacidade do corpo de neutralizar moléculas prejudiciais, como os radicais livres, com antioxidantes.
Isso pode explicar o caso de um homem cujo vitiligo regrediu quando estava tomando uma alta dose de estatina para tratar o colesterol alto. As estatinas têm, entre seus efeitos, a capacidade de eliminar os radicais livres.
Se a medicação não for eficaz, outra opção é coletar células saudáveis da pele – por exemplo, das nádegas – e enxertá-las nas áreas despigmentadas.
E, se o vitiligo for especialmente severo e muito extenso para tratar diretamente, resta a opção aprovada pelo governo de terapia de despigmentação total, usando monobenzona para branquear a pele não afetada, uma abordagem que Michael Jackson teria usado para tornar seu vitiligo menos óbvio.
Mas o tratamento apenas do vitiligo pode ser insuficiente para limitar o dano psicológico que a doença pode causar.

Brett King, professor associado de dermatologia da Escola de Medicina da Universidade de Yale, que realizou um estudo bem-sucedido de tofacitinibe e terapia com luz UVB, disse que “o vitiligo afeta a maneira como o mundo interage com você. Pode ser frustrante e embaraçoso e, para alguns, leva à depressão e à ansiedade clínicas”.

Em dois casos conhecidos da Fundação Americana de Pesquisa do Vitiligo, pessoas com a doença cometeram suicídio.
Os especialistas insistem que, quando necessário, os pacientes devem ser encaminhados a terapeutas para apoio psicológico, o que poderia ter diminuído o sofrimento emocional que Pavlides experimentou por tantos anos.
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