Dieta prolongada põe corpo em modo “econômico” e dificulta perda de peso
Vivian Faria, especial para a Gazeta do Povo
13/05/2019 08:00
Depois de um tempo de dieta e exercícios, o corpo começa a funcionar em modo "econômico". Foto: Bigstock.
Mesmo uma dieta que começa com ótimos resultados pode frustrar quem tenta perder alguns quilinhos. Isso porque é comum que, depois de algumas semanas, a perda de peso comece a ficar mais lenta ou estacione por completo. É o chamado efeito platô.
“O efeito platô é uma falta de resposta do corpo a um determinado estímulo. A pessoa que deseja emagrecer vai buscar uma alimentação que contribua para isso, o que gera uma resposta inicial. Mas há uma tendência de acomodação do organismo”, explica o médico nutrólogo Guilherme Augusto Rolim de Moura, que é filiado à Associação Brasileira de Nutrologia (Abran) e atende no Hospital Nossa Senhora das Graças.
Em outras palavras, à medida que os hábitos alimentares mudam e o peso começa a diminuir, o próprio corpo se adapta para consumir menos nutrientes e energia. Assim, de acordo com a professora do curso de nutrição da Universidade Positivo Marília Zaparolli Ramos, as “vítimas” mais frequentes desse fenômeno são as pessoas que optam por dietas muito restritivas.
“Em um primeiro momento, elas perdem peso, mas daí o corpo entende que está numa situação de perigo, que precisa se proteger, e volta a armazenar nutrientes e energia”, afirma.
Com isso, o corpo começa a funcionar em modo “econômico”, mantendo o peso estável e a nutrição de órgãos nobres, mas prejudicando outros órgãos e funções. Conforme explica Moura, há quem tente resolver a situação restringindo ainda mais o consumo de alimentos, o que piora o estado geral do organismo.
“Restrições cada vez maiores afetam a qualidade de vida, o desempenho físico e mental”, diz o médico. A longo prazo, os danos para a saúde podem ser graves.
Outro grupo de risco é o das pessoas que iniciam dietas e rotina de atividades físicas sem acompanhamento profissional adequado. “Quando se fala em emagrecimento, é bom entender que não se trata apenas de déficit calórico. Ele é multifatorial”, afirma Marília.
É por isso que o ideal é criar um programa de emagrecimento com orientação de uma equipe multidisciplinar, a qual vai olhar para todos os fatores que podem influenciar a perda de peso.
“Na parte médica é importante identificar fatores como alterações na tireoide e nas glândulas adrenais, ou seja, problemas endócrinos, transtornos gastrointestinais, desordem do sono, carência nutricional, processos de natureza inflamatória e até o uso de medicamentos”, enumera Moura.
A partir disso, a equipe cria um programa de restrição alimentar e exercícios físicos individualizado, levando em conta também metas realistas de emagrecimento, as rotinas e os gostos do paciente.
Solução
Se alguma alteração que influencia a perda de peso for encontrada, os profissionais buscarão uma forma de contorná-la para que o paciente possa continuar perdendo peso até que a meta proposta seja atingida.
Porém, se tudo estiver em ordem e ainda assim o paciente começar a enfrentar dificuldades para perder peso, o programa de emagrecimento deve passar por adaptações.
“Se a pessoa está fazendo a dieta que foi proposta e os exercícios de forma habitual, e mesmo assim encontra dificuldades para emagrecer, daí é o momento de fazer alguma mudança no padrão alimentar e de exercícios físicos, ou seja, estimular o corpo com uma dinâmica diferente para um resultado distinto”, diz o médico do HNSG.
Marília cita ainda a possibilidade de fazer a modulação da microbiota intestinal (os micro-organismos que habitam nosso intestino) com uso de pré e probióticos para alterar a resposta do corpo ao emagrecimento.
Será que é efeito platô?
Nem toda dificuldade para emagrecer é efeito platô. Conforme Moura, a sabotagem ao programa alimentar ou mudanças na rotina de atividades físicas podem influenciar a eficácia da dieta.
“Às vezes a pessoa está fazendo uma restrição dietética e uma rotina de atividade física que mudam, por exemplo, por causa de uma viagem”, diz. Ele orienta ainda que a pessoa avalie se não está compensando as restrições alimentares nos fins de semana.
Outra situação possível é a de que pare de perder peso devido a uma mudança na composição do peso. “Pode estar acontecendo um aumento de massa muscular”, explica o médico. Com isso, mesmo sem uma mudança “na balança”, o indivíduo pode estar ficando mais saudável, com menos gordura e mais massa magra.
Efeito sanfona
De acordo com Marília, dietas restritivas, efeito platô e efeito sanfona (quando uma pessoa emagrece e engorda ciclicamente) estão intimamente relacionados.
“As dietas restritivas não duram muito. Quando a pessoa volta a se alimentar [como antes], o organismo acaba acumulando tudo e mais um pouco. A pessoa engorda novamente e isso dá início ao efeito sanfona.