Caso “dr. Bumbum” gera alerta sobre médicos “charlatões”; saiba como identificar
Redação
18/07/2018 16:48
O médico foi indiciado por homicídio doloso e está foragido. Foto: Reprodução/Instagram
Lilian Calixto, de 46 anos, saiu de casa em Cuiabá, no Mato Grosso, e viajou para o Rio de Janeiro no último fim de semana atrás de uma intervenção estética com o médico Denis Cesar Barros Furtado, conhecido como “dr. Bumbum”. De táxi, a bancária seguiu até o apartamento do médico, onde passou pelo procedimento (aplicação de polimetilmetacrilato — PMMA, para aumentar os glúteos) e pretendia retornar para casa no mesmo dia.
Lilian faleceu em decorrência de complicações (a suspeita é que o uso excessivo da substância tenha ocasionado uma embolia pulmonar), depois de ser encaminhada às pressas ao hospital, na Barra da Tijuca, ao lado da mãe, da secretária e da namorada do médico.
O relato da história de Lilian gera alerta sobre médicos “charlatões” e exige atenção redobrada dos pacientes antes de se consultarem em busca de soluções fáceis. Na última terça (17), a Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica emitiu um comunicado lamentando a morte de Lilian e informando que Furtado não tem título de especialista na área.
O médico, bastante popular nas redes sociais, também não possui liberação de praticar medicina no estado do Rio de Janeiro, apenas em Goiás e no Distrito Federal, conforme consulta ao site do Conselho Federal de Medicina (CFM). Furtado foi indiciados por homicídio doloso pelo caso, e foi preso quinta-feira (19) à tarde.
Especialização
Para se formar como cirurgião plástico, o médico deve obrigatoriamente, depois dos seis anos de graduação em Medicina, cumprir dois anos de formação em cirurgia geral e mais três anos em cirurgia plástica. Ao todo são, pelo menos 11 anos de estudo, segundo informações da entidade médica. Identificar, portanto, a formação do médico é essencial para todos os pacientes, principalmente entre aqueles que se submetem a procedimentos invasivos, como são algumas das intervenções estéticas.
Como descobrir se o meu médico está falando a verdade?
Alguns sinais ajudam os pacientes a identificar a veracidade da qualificação do médico. Fique de olho nas orientações publicadas pela Sociedade Brasileira de Diabetes:
Procure pelo nome e registro do médico
Médicos ganham o título de especialistas somente depois de realizarem estágios supervisionados, em programas de residência médica, ou pelas provas de título, ministradas por sociedades brasileiras reconhecidas pelo Conselho Federal de Medicina. Para confirmar se o médico é, de fato, o que ele diz ser, entre no site do CFM e busque pelo nome do médico. Ali estará a atuação do médico, em qual especialidade, e se está ativo ou não.
Algumas entidades médicas também trazem essas informações, como é o caso da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica, os interessados podem buscar no site, Facebook, e-mail, ou via telefone pelo credenciamento do médico na entidade.
Fique atento aos termos muito técnicos nas consultas
Usar uma linguagem muito técnica para explicar o tratamento é uma das estratégias dos “charlatões” no consultório. Os termos muito técnicos acabam confundindo o paciente, levando-o a escolher o tratamento que o médico desejar.
Não confie no luxo
O consultório pode ser o mais luxuoso da cidade, frequentado por celebridades e famosos, com consultas e tratamentos muito caros. No entanto, isso não significa que o tratamento ou o profissional sejam os melhores – apenas que eles querem que você pense assim. Confira sempre o nome do médico no CFM, e busque referências com quem já se consultou ali.
Atenção aos estudos científicos citados
Nem sempre é fácil interpretar um estudo científico – e é por isso que alguns profissionais usam estudos sem tanto rigor científico em benefício do seu argumento. Se o médico vier com estudos assim, fique de olho nos seguintes aspectos: quantas pessoas foram estudadas? (A conclusão de uma pesquisa feita com um grupo pequeno de pessoas não tem o mesmo valor que aquela feita com um grupo maior). Já ouviu falar na revista científica onde o estudo foi publicado? (The Lancet, British Medical Journal [BMJ] e Journal of American Medical Association [JAMA] são revistas científicas de renome, com mais chances de idoneidade na publicação).
Desconfie de muitos exames ou tratamentos, ou receitas muito extensas
Cresce no Brasil o movimento médico Choosing Wisely, que busca uma racionalização na prescrição de exames, intervenções e tratamentos, procurando reduzir ao mínimo possível, e que trazem benefícios reais para o paciente. Exames só devem ser solicitados quando beneficiam o paciente, seja na prevenção de alguma doença ou identificação e monitoramento da mesma. Muitos exames passa uma sensação (falsa) de que você está sendo bem avaliado.
Desconfie também quando a prescrição dos medicamentos for extensa, sob o pretexto de ser “exclusiva”. Muitas vezes, a “extensão” da receita é bem parecida à prescrição tradicional, disfarçando o uso de substâncias proibidas ou cuja indicação ainda é questionada no meio médico.
Não acredite em grandes promessas
Corpo perfeito? Desintoxicação total? Juventude? Vigor físico sem esforço nenhum? Cura de doenças crônicas? Não existe fórmula mágica para todos os desejos dos pacientes. Sempre desconfie das promessas milagrosas.
Gurus citam outros gurus
Os médicos bem intencionados sempre têm referências, buscadas pela literatura científica, e são várias. O “charlatão”, ao contrário, costuma citar outro da mesma linha que a sua, ou “guru” de maior destaque, e até ministram cursos, vendendo informações sem caráter científico.
Não é possível questionar? Fique de olho!
Ciência precisa de crítica. É só assim que novas ideias vão surgindo e a ciência evolui. Fique de olho quando o “médico” não gosta de críticas ao método proposto ou questiona a “medicina tradicional” sem muitos argumentos.
Dr. Injustiçado
Não é incomum que esses profissionais tenham processos éticos ou judiciais contra eles. Faça uma pesquisa no Google com o nome deles, além do site do CFM.