Produtos diet não são os melhores amigos dos diabéticos. Os rótulos, sim!
Beatriz Pozzobon, especial para a Gazeta do Povo
08/10/2019 13:00
Nem todos os produtos diet, mesmo os que possuem restrição do açúcar, são recomendados para diabéticos. Foto: Bigstock.
Quando Cláudio Bezerra soube que tinha diabete ele estava com 29 anos e 105 quilos. O diagnóstico foi recebido com tristeza e ansiedade. Afinal, filho de mãe diabética, ele conhecia as complicações e as restrições da doença, que é crônica.
Hoje, aos 46 anos e com 27 quilos menos, o vendedor conta que encontrou no diagnóstico uma oportunidade para mudar de vida.
Cláudio faz parte do grupo de mais de 13 milhões de brasileiros que vivem com diabete, número que cresce a cada ano e que, hoje, representa 6,9% da população, segundo dados da Sociedade Brasileira de Diabetes (SBD).
Apesar de ser uma doença comum, ela ainda é cercada por dúvidas, especialmente relacionadas à alimentação. Quando se tem o diagnóstico, uma das primeiras ideias é de que, a partir de então, a pessoa deve usar somente produtos dietéticos, popularmente conhecidos como diet.
Além de isso não ser verdade, o médico nutrólogo Carlos Alberto Nogueira de Almeida, professor do curso de Medicina da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), alerta que nem todos os alimentos diet são sem açúcar – o principal vilão da alimentação do diabético.
“Os produtos diet têm restrição de algum ingrediente na composição, como o sal, a gordura e o açúcar, com o objetivo de suprirem dietas com restrições ao consumo desses ingredientes”, explica o nutrólogo. “Por isso é preciso verificar o rótulo dos alimentos, mesmo dos indicados como dietéticos”, acrescenta.
Ser diet não é sinônimo de ser saudável e nem todos os alimentos dietéticos apresentam redução significativa na quantidade de calorias. Assim, também não podem ser adequados para as pessoas que querem emagrecer.
Diet é para diabéticos?
De acordo com a endocrinologista Silmara Leite, doutora em Ciências Médicas e Biológicas pela Universidade Federal de São Paulo e diretora da Sociedade de Endocrinologia, nem todos os produtos diet, mesmo os que possuem restrição do açúcar, são recomendados para diabéticos.
“Uma bolacha diet pode não ter açúcar, mas ter o carboidrato do trigo, que vai se transformar em glicose da mesma forma que a sacarose. Isso também ocorre com os bolos diet”, destaca a endocrinologista.
É por isso que Silmara orienta que os diabéticos observem a quantidade de carboidratos e fibras dos produtos. Isso porque o carboidrato é o nutriente que mais tem efeito na glicemia, já que a totalidade do que ingerido transforma-se em glicose.
Por outro lado, as fibras auxiliam no controle da glicemia e, por isso, o recomendado é que pacientes com diabete mantenham uma dieta rica em fibras, presentes em frutas, verduras, hortaliças e grãos.
Frutas e adoçante
O médico nutrólogo Fernando Bahdur Chueire, diretor da Associação Brasileira de Nutrologia (Abran), pontua que o adoçante é uma recomendação para os diabéticos. “Nenhum adoçante é proibido para quem tem diabete. A questão é o paciente escolher o que mais se adapta ao seu paladar.”
Com relação às frutas, muita gente acredita que elas não devem ser consumidas por quem têm diabetes porque, apesar de saudáveis, elas podem ser ricas em carboidratos, como a frutose, que é um açúcar natural.
“O diabético pode, sim, comer frutas, desde que o consumo seja fracionado. Ou seja, em vez de consumir quatro unidades ao mesmo tempo, a recomendação é ingeri-las de forma fracionada ao longo do dia”, explica Chueire. Mesmo frutas com alto índice glicêmico, como o melão e a melancia, não estão proibidas.
Outra recomendação é procurar um nutricionista, que vai ajudar a descobrir, individualmente, quantas calorias a pessoa com diabete deve ingerir ao longo do dia para manter-se saudável.
Para além do açúcar
Dos mais de 13 milhões de brasileiros diabéticos, 90% deles têm o diabete tipo 2, que se manifesta, frequentemente, em adultos, enquanto o tipo 1 é diagnosticado, na maioria das vezes, em crianças e adolescentes, cujo pâncreas deixa de produzir insulina.
No diabete tipo 2, além do histórico familiar, os fatores de risco para a doença são: obesidade, sedentarismo, pressão alta, altos níveis de colesterol e triglicerídes.
É por isso que o diabete, normalmente, vem acompanhado por outras doenças e uma dieta saudável vai além da redução do açúcar.
“Os fatores de risco para desenvolver o diabete são os mesmos fatores de risco para doenças cardiovasculares, sendo assim, deve-se diminuir o consumo de gorduras e açúcares para evitar o ganho de peso e o aumento de colesterol”, explica a endocrinologista.
Alimentação saudável e atividade física
Uma refeição saudável significa, geralmente, a mesma coisa para uma pessoa com diabete e uma pessoa sem. Com pouca gordura, moderada em sal e açúcar e privilegiando o consumo de cereais integrais, vegetais e frutas.
“O diabético deve ter uma alimentação saudável, como qualquer outra pessoa”, reforça Almeida. “Além disso, ele precisa controlar o peso e fazer atividade física. Se o paciente seguir essas orientações, em alguns casos, é possível controlar a doença sem o uso de remédios”, finaliza.
É o que acontece com Cláudio, o personagem diabético do início do texto. Atualmente, ele controla a doença sem tomar medicação, mas investe em uma dieta saudável e moderada, além de praticar exercícios físicos, pelo menos, três vezes por semana.