Se até a 12.ª semana o aborto espontâneo está normalmente relacionado a defeitos genéticos, da 13.ª a 20.ª ele pode estar relacionado a problemas anatômicos da mãe. Foto: Bigstock.
A cada cinco gestações, uma não terá final feliz. A causa mais comum de abortos espontâneos no início da gestação são erros genéticos na divisão celular do embrião.
Estes problemas, que não podem ser previstos, prevenidos e sua responsabilidade não pode ser atribuída a ninguém. Um “acidente de percurso” que não significa um sinal de que ocorrerão problemas em gestações futuras.
Como a mulher tem deixado a gravidez para depois, e tem tido menos filhos que no passado, os abortos espontâneos, de incidência grande até a 12.ª semana de gestação, podem causar uma grande frustração.
“As chances de alterações na divisão celular do embrião aumentam com o passar do tempo: perto dos 40 anos, a taxa de abortamento é de 36%”, diz o médico ginecologista especialista em reprodução humana, Francisco Furtado Filho.
Se até a 12.ª semana o aborto espontâneo está normalmente relacionado a defeitos genéticos, da 13.ª a 20.ª ele pode estar relacionado a problemas anatômicos da mãe – uma alteração no útero, que não se expande, ou no colo que se abre.
A partir da 17.ª semana, no entanto, a formação do coração e os batimentos cardíacos reduzem as chances de abortamento.
Causas secundárias
Apesar de a maioria dos abortamentos decorrerem de alterações na divisão celular, algumas infecções por bactérias ou vírus também causam mudanças na formação do embrião, como é o caso do citomegalovírus, vírus da rubéola e a toxoplasmose.
O estresse influencia tanto no início quanto no fim da gestação, adiantando o trabalho de parto. Grávidas dependentes de drogas, álcool ou que trabalham com substâncias químicas também estão mais propensas às alterações genéticas no desenvolvimento do embrião.
Devido ao período “crítico” no início da gravidez, médicos ginecologistas orientam as pacientes a guardarem para si a novidade até que seja feito o primeiro ultrassom.
“No primeiro exame, vemos o saco gestacional, com um embrião presente e com batimentos cardíacos e medidas dentro do esperado. Divulgar a gravidez somente após o terceiro mês, ou a 12.ª semana, é uma medida prudente porque até então não se sabe tão bem como a gestação deve evoluir”, diz Furtado Filho, que também é diretor da clínica Fertway Reprodução Humana.
Exame
Não é possível verificar previamente se o casal está predisposto a algum abortamento, mas alguns exames após a perda gestacional conseguem identificar a presença dos 46 cromossomos, se há alguma alteração no cariótipo do casal, o que não previne perdas futuras.
3ª perda
Após o terceiro abortamento espontâneo seguido, na fase inicial da gestação, a hipótese de problemas imunológicos e trombóticos pode ser levantada. “Nesses casos uma doença autoimune pode estar por trás. A principal doença seria a síndrome dos anticorpos antifosfolipidios, conhecida por causar aborto em repetição”, diz o ginecologista e obstetra Lucas Rebelo. A síndrome produz anticorpos que interferem na coagulação sanguínea.
Sintomas mais comuns
Atraso menstrual, sangramento atípico que começa mais escuro e pode vir mais forte, com coágulos de sangue, além de fortes dores (cólicas que vêm e vão), são alguns sintomas de que pode estar ocorrendo um abortamento espontâneo, diz o ginecologista e obstetra Lucas Rosa Rebelo. A redução abrupta dos sintomas da gravidez, como as náuseas, também são sinais de que algo pode estar acontecendo.
O abortamento espontâneo pode ser completo, incompleto ou retido. No primeiro, há total eliminação, com recuperação quase imediata do útero. No ciclo menstrual seguinte, a mulher pode tentar engravidar de novo.
No segundo, o útero mantém algum material, predispondo a infecções. No retido, todo o embrião permanece, exigindo uma limpeza (curetagem).
Recuperação psicológica
Tempo de luto deve ser respeitado
Independentemente se a maternidade teve ou não tempo de se instaurar na realidade da família ou se o bebê chegou ou não a se desenvolver quase por completo, a perda é sempre impactante.
O primeiro atendimento de aceitação da realidade, segundo a psicóloga hospitalar Carolina Eidt, é feito no hospital. “Os pais têm de perceber a criança como um membro da família que nasceu e morreu. Dependendo do tempo gestacional, é orientado que sigam os rituais fúnebres necessários, respeitando-se o tempo de luto”, diz.
Tristeza, frustação, incapacidade, desespero, raiva e vergonha são sentimentos comuns, especialmente se a gravidez era um fato conhecido e divulgado.
“São sentimentos normais para o momento vivido e para a expectativa criada, mas a pessoa deve, aos poucos, retomar a ideia de que há uma vida pela frente e que deve seguir em busca dos seus sonhos”, diz o psicólogo hospitalar José Roberto Palcoski.