Pessoas que passaram por
cirurgia bariátrica ou outra
gastroplastia podem ganhar desconto de
30% a 50% e/ou
meia porção dos
pratos pedidos em
restaurantes e similares no
Paraná. O benefício está previsto no
projeto de lei 351/2016, que atualmente está na Comissão de Constituição e Justiça da Assembleia Legislativa do Paraná, e deve entrar em votação no Plenário nas próximas semanas.
No projeto, estão inclusos restaurantes que servem porções, rodízios e refeições à la carte, mas não englobam bebidas e lugares que oferecem refeições por quilo e lanches. Para ter o desconto ou a meia porção, o projeto prevê que a pessoa apresente a carteira da Sociedade Brasileira de Cirurgia Bariátrica e Metabólica dada ao paciente depois da cirurgia, ou um laudo assinado pelo médico especializado na área.
93,5 mil cirurgias foram realizadas no Brasil no ano passado, de acordo com dados da Sociedade Brasileira de Cirurgia Bariátrica e Metabologia (SBCBM). Dessas, 10% foram feitas pelo Sistema Único de Saúde (SUS).
Embora tenha uma boa intenção, o projeto não é visto como
válido ou mesmo
necessário, de acordo com o médico cirurgião do aparelho digestivo, João Caetano Marchesini, presidente eleito da
Sociedade Brasileira de Cirurgia Bariátrica e Metabólica.
“Existem técnicas cirúrgicas hoje em que é permitido que o paciente coma quantidades consideráveis, e até dentro do padrão de refeição normal. Além disso, mesmo pacientes submetidos à técnicas antigas aprendem que, se comerem devagar, com calma e mastigando bem, eles chegam a comer volumes consideráveis. Tudo isso deve ser levado em consideração”, explica Marchesini.
Cirurgia sem cortar (muito) o estômago
Dentre as técnicas que permitem refeições maiores, estão as derivações biliopancreáticas, que deixam o estômago em um tamanho maior e focam no desvio intestinal. Ou seja, o princípio dessas cirurgias não é restringir a quantidade de comida que o paciente ingere, mas não deixar que tudo seja absorvido pelo organismo. “Nessas técnicas até recomendamos que o paciente coma mais carne, mais proteína. Se ele for a uma churrascaria, pode comer sim e bastante, para depois ainda querer o desconto? Não faz sentido”, diz o médico.
Das técnicas mais restritivas, que visavam a redução do volume do estômago, as duas mais conhecidas são a Banda Gástrica Ajustável (colocação de um anel de silicone com uma pequena câmara pneumática interna ao redor da porção inicial do estômago), que está caindo em desuso no Brasil, e o Bypass Gástrico, que ainda é uma das cirurgias mais feitas no país. O Bypass reduz o estômago através de grampeamento. Como o estômago é dividido em duas partes, uma menor e uma maior, a menor parte é ligada ao intestino para que o alimento siga o curso natural.
“Com o passar do tempo, os pacientes aprendem a não encher o prato. Eles entendem que ter um prato completo em uma refeição rápida que não conseguem comer não é o mais saudável. Se comer devagar, sem pressa, conseguem ingerir 350 g que é um prato comum em restaurantes”, afirma Marchesini.