Remédio para pressão alta pode aumentar risco de câncer de pele, alerta Anvisa
Amanda Milléo
07/12/2018 07:00
Medicamento hidroclorotiazida está associado a aumento no risco de câncer de pele não-melanoma (Foto: Bigstock)
A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) emitiu um alerta sobre o aumento no risco de câncer de pele a partir do uso prolongado de um dos medicamentos mais usados no combate da hipertensão, a hidroclorotiazida. Em geral, nos remédios, a droga é identificada pela sigla HCT.
A associação do medicamento com o surgimento do câncer de pele é resultado de estudos recentes e, portanto, novidade na comunidade médica, conforme explica Miguel Morita Fernandes da Silva, cardiologista do Departamento de Pesquisa da Quanta Diagnóstico e Terapia. E, embora seja um estudo bem delineado, com dados nacionais da Dinamarca, não significa que exista uma ligação direta entre a substância e a doença:
“O risco de câncer a partir do uso de medicamentos é muito difícil de explorar, porque normalmente é resultado de exposições de longo prazo e é também algo mais raro de acontecer. Esse estudo mostrou uma associação, mas não significa que o uso da hidroclorotiazida cause o câncer de pele. Não tem como afastar outros fatores que influenciem esse resultado, como o hábito que essas pessoas tinham de usar o protetor solar”, explica Silva, que também é professor do curso de Medicina da PUCPR.
Outro detalhe, conforme lembra o médico cardiologista, é que o estudo dinamarquês levou em consideração dados de pacientes cuja etnia era exclusivamente branca. “Portanto, essa associação entre hidroclorotiazida e o câncer de pele não se aplica a negros. E eles sofrem mais com hipertensão“, diz Silva.
Apesar do alerta, a posição tanto da Anvisa quanto da comunidade de cardiologistas e dermatologistas é clara: não pare de tomar o seu medicamento, mesmo se ele tiver na composição a hidroclorotiazida. Isso porque o risco cardiovascular, que o medicamento previne, é maior para a saúde do paciente hipertenso que o risco de desenvolver um câncer de pele — ao menos a curto prazo.
“Parar de repente aumenta o risco de crise hipertensiva. Existem formas de controlar, como aumentar a dose de outros medicamentos. Não há evidências suficientes para dizer que a hidroclorotiazida deva ser retirada. O principal alerta é para essas pessoas se protegerem mais do sol”, reforça o médico cardiologista Miguel Morita Fernandes da Silva.
No caso de dúvidas, converse com o médico cardiologista. A hidroclorotiazida é um medicamento diurético, da classe dos tiazidicos, indicado geralmente a pessoas com maior predisposição a reter líquidos ou obesidade. Já foi indicada como medicamento principal contra a hipertensão, mas atualmente, diante de uma oferta maior de outras substâncias, ela pode ser substituída sem prejuízo à saúde do paciente.
Alguns medicamentos costumam gerar reações fotoalérgicas, segundo Giseli de Mattos Diosti Stein, médica dermatologista, e a hidroclorotiazida é uma delas. Ser uma droga fotossensível significa que há, de fato, um aumento no risco de dano na pele pela radiação ultravioleta.
A relação com um aumento no risco de um câncer específico da pele, porém, é uma associação nova. O risco, aparentemente, está relacionado ao câncer de pele do tipo carcinoma espinocelular e basocelular, embora um pouco menos neste último.
“O câncer de pele é o mais comum de todos os tipos de câncer, e o não-melanoma corresponde a 90% dos casos de câncer de pele. Diferentemente do melanoma, que é um câncer que pode levar à morte, o não-melanoma, quando diagnosticado precocemente, tem chances de cura altas”, explica Giseli, que é dermatologista da Neoderme, membro da Sociedade Brasileira de Dermatologia e membro efetivo do Grupo Brasileiro de Melanoma.
Dos sinais mais importantes do não-melanoma, destaque a bolinhas avermelhadas que surgem pela pele, como feridas que não cicatrizam. Ela também se apresenta em forma de manchas que descascam e são também vermelhas. No caso do melanoma, o câncer de pele se apresenta como manchas pretas e escuras.
“O câncer de pele, em geral, tem um plano de crescimento progressivo. Lento, mas não desaparece espontaneamente. O tratamento, na maior parte dos casos, é cirúrgico”, reforça a dermatologista.