Saúde e Bem-Estar

Remédio para emagrecer aprovado pela Anvisa tem um diferencial: não traz riscos cardíacos

Amanda Milléo
31/08/2018 15:58
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A automedicação pode camuflar sintomas e esconder doenças mais graves. Foto: Aniele Nascimento / Gazeta do Povo / arquivo) | Gazeta

Dos remédios para emagrecer aprovados no Brasil, a lorcaserina (conhecida sob o nome comercial Belviq) recebeu um ponto positivo importante da comunidade médica. Em um estudo divulgado no fim de agosto pela revista científica The New England Journal of Medicine, o medicamento provou não aumentar o risco de qualquer alteração cardiovascular — ao contrário de outros medicamentos, como a fenfluramina e a dextrofenfluramina, já afastados do mercado.
Esses dois últimos, comprovadamente, aumentavam o risco de problemas nas válvulas do coração, desencadeando cardiopatias importantes. O mesmo não foi verificado no uso da lorcaserina durante o estudo em 12 mil pacientes, durante um período de três anos e três meses. Isso não significa, porém, que o medicamento traz qualquer benefício cardíaco, e a pesquisa deixa clara essa diferença.

Risco cardiovascular

“Normalmente o paciente obeso tem algum risco de doença cardiovascular. O médico que prescreve o remédio para a obesidade parte desse cenário, de uma diabetes ou hipertensão, por exemplo. O paciente faz o acompanhamento com o médico não para o controle do medicamento, porque as drogas com malefícios cardiovasculares foram suspensas do mercado, mas pelo risco geral da pessoa”, explica Rodrigo Cerci, médico cardiologista e diretor científico da Sociedade Paranaense de Cardiologia (SPC).
"Eu não quero crescer e pesar 130 quilos como você", disse adolescente para mãe. Exercícios, conversa e terapia foram a resposta. Foto: Bigstock
"Eu não quero crescer e pesar 130 quilos como você", disse adolescente para mãe. Exercícios, conversa e terapia foram a resposta. Foto: Bigstock

Embora o Belviq tenha sido liberado pela Anvisa em dezembro de 2016, o medicamento ainda não está sendo comercializado no país, porque ainda está em discussão a precificação do mesmo.

A demora, de acordo com Rosana Bento Radominski, médica endocrinologista, ex-presidente da Associação Brasileira de Estudos da Obesidade, acaba atrapalhando os pacientes que poderiam se beneficiar com a opção.
“O paciente acaba importando essa medicação de locais não muito confiáveis. Ou solicitam a manipulação, indicada por médicos também não muito confiáveis. Mesmo achando que a lorcaserina seja boa, eu não manipulo. Espero o laboratório produzir, porque eles têm a experiência dos estudos clínicos, de longo prazo, muito bem controlados, para saber inclusive dos efeitos adversos”, explica a especialista, que também é membro do grupo de obesidade da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM) e professora da pós-graduação da Universidade Federal do Paraná (UFPR).

Efeitos colaterais dos emagrecedores

Dos medicamentos emagrecedores liberados atualmente pela Anvisa, boa parte tem efeitos pontuais e controláveis pelo paciente, de acordo com Radominski. “Os que existem hoje, o máximo que fazem é aumentar a frequência cardíaca e a pressão arterial, mas quando bem indicados, não levam a problemas maiores”, explica.
Ainda assim, de forma geral, os efeitos mais comumente relacionados a este tipo de medicamento são náusea, vômito, cefaleia, desidratação, sensação de hipoglicemia (redução nas taxas de açúcar no sangue), tontura e boca seca.

“Por isso é importante que a pessoa nunca compre o medicamento sem orientação médica. Normalmente, começa a medicação e o médico titula a dose. Na maior parte das vezes, estabiliza bem a situação”, explica a especialista.

Da lorcaserina, dores de cabeça, ou cefaleia, são os sintomas mais comuns, mas também pode vir associado com náusea. “A indicação do medicamento depende do tipo de alimentação, qualidade e estilo de vida do paciente. Não são todos os medicamentos cabem a todo mundo”, reforça Radominski.

Remédio milagroso?

Mas atenção, embora possa parecer muito benéfica, a lorcaserina não é o medicamento milagroso da obesidade. No mesmo estudo, os pesquisadores reforçam que os resultados de emagrecimento com essa medicação não foi tão significativa.
Para fazer o procedimento, os médicos avaliam quatro critérios: idade, índice de massa corporal, outras doenças associadas e o tempo de doença. (Foto: Bigstock)
Para fazer o procedimento, os médicos avaliam quatro critérios: idade, índice de massa corporal, outras doenças associadas e o tempo de doença. (Foto: Bigstock)
“Os pacientes tinham em média 102 kg e problemas importantes, como diabetes. Em três anos, quem usou o medicamento reduziu, em média, 4 kg. Quem não usou, reduziu 2 kg. A diferença, então, não é grande, não é a solução dos problemas. Pode ser uma medicação coadjuvante, mas está longe de ser a solução, que ainda está na mudança de hábitos de vida”, alerta Rodrigo Cerci, médico cardiologista e diretor científico da SPC.

5% do peso, em geral, consegue ser perdido sem qualquer auxílio de medicamentos, apenas com mudanças no estilo de vida (alimentação + exercícios físicos).

“Se em três meses, mesmo com a medicação, o paciente não perder esses 5%, o remédio não está fazendo efeito e precisa ser trocado ou acrescentado. Geralmente, em um mês a pessoa já consegue ter uma ideia se faz efeito ou não”, diz a endocrinologista.
1 kg por semana, em média, é estimativa de perda de peso com o uso dos medicamentos emagrecedores. Esse valor varia, no entanto, conforme o paciente, seja para mais ou para menos.
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