Saúde e Bem-Estar

O que os médicos dizem sobre os fitoterápicos que prometem tratar a ansiedade

Flávia Alves, especial para a Gazeta do Povo
16/05/2018 11:15
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A fitoterapia é uma ciência e sua indicação cresce na medida em que as pesquisas sobre sua eficácia. O uso, porém, não deve ser feito indiscriminadamente. Foto: Bigstock

No país quem que o Rivotril já chegou a vender mais que pomada para assadura – só em 2015 foram mais de 23 milhões de caixas vendidas, de acordo com dados da Anvisa – a fitoterapia vem ganhando cada vez mais adeptos, principalmente entre os que buscam soluções menos agressivas para controlar a ansiedade e o estresse. Por isso é comum ver a indicação de ansiolíticos naturais, sejam como terapia principal ou como complemento ao uso de medicamentos alopáticos, por médicos e outros profissionais da saúde.
“A fitoterapia é uma ciência e sua indicação cresce na medida em que as pesquisas sobre sua eficácia vêm aumentando”, explica Lígia Fátima Simões, enfermeira e coordenadora do curso de pós-graduação em Fitoterapia Clínica da Faculdade Ibrate.
O uso, porém, não deve ser feito indiscriminadamente, segundo a médica Carolina Marie Martins, que tem formação em terapias holísticas integradas e Fitoterapia. “Algumas substâncias tem alto grau de hepatotoxidade, ou seja, podem comprometer o fígado, e devem ser usadas sob orientação. Além disso, pode haver interação com os medicamentos alopáticos”, adverte.
Além disso, para que os medicamentos sejam realmente eficazes, é preciso atentar para a forma de administração e a dosagem correta a ser utilizada em cada caso. “A forma de prescrição e a dose terapêutica vão sempre depender da sintomatologia apresentada pelo paciente.
Eles podem ser indicados na forma de infusões, de cocção, maceração e também por meio de prescrição magistral, na forma de cápsulas, tinturas e extratos”, explica Flávia Sguario, nutricionista clínica funcional com especialização em Fitoterapia.
Conheça alguns fitoterápicos utilizados para tratar ansiedade:

Passiflora

Não é à toa que a crendice popular apela para o suco de maracujá para “acalmar os nervos”. A Passiflora, planta da qual se origina o maracujá, é um importante calmante do sistema nervoso central, segundo Flávia. Sua ação faz com que a serotonina, neurotransmissor ligado à sensação de bem-estar e prazer, fique mais tempo em ação no organismo.

Valeriana

Foto: Pixabay.
Foto: Pixabay.
Da mesma forma que a Passiflora, a Valeriana atua como um bloqueador de receptor de serotonina, ou seja, a retém por mais tempo em circulação no organismo, aumentando a sensação de bem-estar. “Seria o equivalente à fluoxetina, usada na alopatia”, relaciona a médica Carolina Marie Martins.

Cava-cava

“O ingredientes ativos da cava-cava (ou Kawa Kawa) produzem relaxamento físico e mental, tendo demonstrado resultados positivos na diminuição dos níveis de estresse e ansiedade. Há evidências que este fitoterápico atue no organismo por meio do sistema límbico – parte do nosso cérebro que é responsável por controlar as emoções – sem propiciar efeitos negativos na cognição”, explica o presidente do Instituto Nacional de Estudos da Obesidade e Doenças Crônicas (Ineodoc), Dr. Patrick Rocha, médico e pesquisador na área de saúde e nutrição.” Seu consumo frequente, porém, pode ter efeitos colaterais severos, principalmente em relação ao alto poder de hepatotoxidade.

Griffonia simplicifolia

Feito a partir da Griffonia simplicifolia, o 5HTP (sigla em inglês para 5-hidroxitriptofano) é um análogo do triptofano, um aminoácido usado pelo organismo, em parceria com as vitaminas do complexo B, para produção da serotonina. “Não existe nenhum medicamento alopático que seja equivalente”, explica a Dra. Carolina Marie. Segundo ela, o 5HTP é muito utilizado sozinho ou em associação a outros medicamentos alopáticos, para potencializar seus efeitos.

Hipérico

Foto: Pixabay.
Foto: Pixabay.
Também conhecido como Erva-de-São-João, é usado tanto para o tratamento da depressão como o da ansiedade, pois tem ação calmante e auxilia em distúrbios do sono. Seu uso, porém, deve ser criteriosamente avaliado, pois ele pode ter grandes efeitos colaterais e interagir com outros medicamentos. “Ele faz interações importantes com anticoncepcionais e outros ansiolíticos”, alerta Lígia. “Esta interação é tão significativa que ele costuma ser citado nas bulas de outros medicamentos”, justifica a médica Carolina Marie, descrevendo os casos em que ocorre um excesso de serotonina justamente pela administração deste fitoterápico com outros medicamentos.

Camomila

Foto: Pixabay.
Foto: Pixabay.
A Camomila tem ação calmante no sistema nervoso central e também auxilia na indução do sono. Na mesma linha, os fitoterapeutas indicam a Melissa e o Capim-limão. “Como são plantas de fácil acesso, são muito conhecidas e já utilizadas pela população”, indica Lígia. Para Carolina Marie, os efeitos vão além das propriedades terapêuticas, já que estas plantas são capazes de levar ao relaxamento pela percepção sensorial. O Capim-limão, por exemplo, remete à natureza e até mesmo à infância, segundo ela.
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