É verdade! Aspirina pode salvar a vida durante um infarto
Raquel Derevecki
10/03/2019 08:00
Grande parte dos pacientes que procuram atendimento emergencial com sintomas de infarto iminente já são tratados com o ácido acetilsalicílico (AAS), popularmente conhecido como aspirina. Foto: Bigstock
O que você faria ao acordar no meio da noite com uma dor muito intensa no peito que se propaga para o braço esquerdo, para o pescoço e ainda causa suor excessivo e ânsia de vômito?
Uma mensagem que circula pelas redes sociais apresentou uma receita que pode salvar pessoas com esses sintomas em situações de infarto iminente: dissolver duas aspirinas na boca e engolir com um pouco de água enquanto aguarda atendimento médico.
Inicialmente, a publicação parece se tratar de mais um boato, pois cita o nome de um hospital e não indica o endereço da instituição ou o nome do cardiologista responsável pelas informações.
Além disso, a mensagem solicita que seja transmitida para dez pessoas — pedido comum nas mentiras que invadem a internet. No entanto, dessa vez, o conteúdo divulgado pelo autor é real.
De acordo com o cardiologista Rubens Zenóbio Darwich, do Hospital São Vicente, em Curitiba, grande parte dos pacientes que procuram atendimento emergencial com sintomas de ataque cardíaco iminente são tratados com o ácido acetilsalicílico (AAS), popularmente conhecido como aspirina.
“Isso faz parte do protocolo médico e adiantar esse procedimento pode, sim, reduzir a mortalidade nos casos em que há certeza do infarto”, disse.
Isso ocorre porque o AAS previne a formação de coágulos sanguíneos, evitando que a situação se agrave ainda mais. “Ele bloqueia a atuação das plaquetas para que elas não se juntem umas com as outras e entupam as artérias, causando o infarto. Não é um anticoagulante, mas interrompe essa associação de plaquetas como um antiagregante”, explica o cardiologista.
Outra parte da mensagem — que chama a atenção na cor vermelha e com letras em caixa alta — é o pedido para que o paciente não se deite após tomar o remédio.
Segundo Darwich, isso ocorre porque, em alguns casos, o infarto pode evoluir para insuficiência respiratória. “Mas é muito difícil acontecer, então, basta que a pessoa permaneça com a cabeceira da cama elevada enquanto aguarda o atendimento de urgência”, afirma.
Ele ainda orienta os pacientes a buscarem atendimento médico imediatamente e deixarem o “remédio de bolso” somente para casos deextrema necessidade, em que não é possível chegar à Unidade de Pronto Atendimento (UPA) ou aguardar a chegada do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu), disponível pelo telefone 192.
Contraindicações
Esse também é o conselho da Sociedade Paranaense de Cardiologia (SPC). Segundo a instituição, a ingestão do AAS pode reduzir em até 22% o número de mortes por infarto, mas possui contraindicações.
“Pacientes que já tiveram úlceras no estômago não podem tomar o AAS por risco de sangramento, e pessoas com hipersensibilidade ou alergia ao medicamento também não”, afirma o diretor de relações governamentais da SPC, André Bernardi.
O problema é que muitos pacientes nem sabem se possuem alergia a algum componente da aspirina, e uma reação assim pode agravar ainda mais o quadro de saúde. “Ela pode ter coceira ou até um inchaço da glote, no pescoço, parando a respiração. Por isso, o ideal é aguardar a avaliação médica adequada”, pontua o diretor.
Ainda segundo ele, a melhor maneira de tratar o infarto é a prevenção por meio de hábitos de vida saudáveis como alimentação adequada e exercícios físicos regulares. “O mau colesterol é o pior fator de risco para os problemas do coração porque é ele que se acumula na parede das artérias e induz a produção do coágulo. Então, é necessário cuidado”, alerta Bernardi, que também cita a diabetes, hipertensão, tabagismo e histórico familiar como causas indutoras do infarto.
Fama da aspirina
A aspirina também é conhecida como a protetora dos corações muito antes de a pessoa sofrer um infarto. No entanto, isso não funciona para todo mundo. No segundo semestre de 2018, dois grandes estudos divulgados pelas revistas científicas Lancet e New England Journal of Medicine (NEJM) confirmaram que o comprimido não tem papel tão impactante na prevenção de eventos cardíacos entre pessoas que nunca passaram por problemas de coração e que ainda aumenta o risco de sangramento.
A ação do medicamento, segundo os estudos, é mais indicada entre pessoas que já passaram por enfartes, derrames ou obstrução das artérias, cirurgias de ponte de safena ou stent, no passado.