Gilberto Gil falou pela primeira vez sobre os problemas de saúde que o hospitalizaram várias vezes este ano. Em entrevista ao Correio Brasiliense, ele afirmou que apesar de continuar o tratamento contra a insuficiência renal, começa a retornar à rotina criativa: “Saúde é uma coisa complicada, mas já melhorei muito e posso falar em encarar a retomada em vários níveis do meu trabalho, começando pela composição”. O cantor foi internado a primeira vez em março deste ano, com um quadro de hipertensão. Ele recebeu alta após duas semanas, mas voltou a ser hospitalizado em maio e novamente em junho, julho e agosto.
Miguel Carlos Riella, médico nefrologista e criador da Fundação Pró-Renal, explicou que a doença resulta na perda súbita da capacidade dos rins filtrarem os resíduos, sais e líquidos do sangue. “Quando isso acontece, estes resíduos podem chegar a níveis perigosos e afetar a composição química do sangue, além de fazer o paciente se sentir muito mal”. A doença é comum e acomete cerca de 10% da população adulta brasileira.
Para o nefrologista, ainda é importante salientar que existem cinco diferentes fases da doença, do número um ao número 5. “Quando o paciente chega à quinta fase ele precisa fazer diálise e também passa a se sentir fraco, fadigado, sem apetite e sofre de vômitos e enjoos”, conta. Nas outras etapas a condição é silenciosa e não dá sinal algum.
Como diagnosticar?
Quem não tem o hábito de fazer o check-up anual, às vezes, não pode nem imaginar que está acometido. Quem tem pressão alta, diabetes, é idoso, obeso ou tem histórico familiar de infarto do miocárdio ou derrame cerebral corre mais riscos de ter um problema renal. Para fazer o diagnóstico são feitos dois exames: um de sangue, creatinina, e o de albumina na urina, ambos medem a taxa de filtração dos rins.
Tratamento e rotina
Segundo o médico, os tratamentos servem para realizar a função do rim, que já não funciona suficientemente. A hemodiálise é a mais comum das alternativas, feita em clínica e hospitais, consiste em filtrar o sangue pelo menos três vezes por semana, durante quatro horas. A outra é a diálise peritoneal, feita no abdome do paciente e que pode ser realizada em casa à noite, enquanto o indivíduo dorme. Infelizmente, a tecnologia está disponível para apenas 8% das pessoas que são acometidas pela doença em Curitiba.
A segunda opção é a que melhor possibilita manter a rotina de trabalho e lazer. “Para os jovens e crianças indicamos o transplante. Não existe cura, um paciente precisará fazer diálise para o resto da vida”, explica Riella. Mas também existem algumas dificuldades: como a fila grande ou a incompatibilidade de parentes (primos e irmãos) que possibilitam um transplante sem fila. “A diálise peritoneal noturna é o ideal para pessoas como o Gilberto Gil, que têm a rotina agitada ou viajam bastante. Mudar a clínica em que você faz uma hemodiálise é complicado, porque você tem contato com outros pacientes que podem ter hepatite, vai usar uma máquina diferente e até terá contato com um médico diferente. O ideal é poder seguir uma rotina de tratamento”, finaliza.