Saúde e Bem-Estar

Os desafios de ser um superatleta

Amanda Milléo
25/09/2015 22:00
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Dos sete dias da semana, o administrador Marcelo Alves passa seis em treino. A dedicação não se deve apenas à meta de manter uma vida saudável, evitando a obesidade e problemas no coração, como muitos alunos de academia. Ele precisou de algo mais instigante para sair da cama e começar a correr, e a motivação veio com a competição Ice Marathon, feita em 2012, na Antártida. Foram 42 km, sob a temperatura gelada do Polo Sul, logo na primeira competição.
O superesportista Marcelo Alves durante prova extrema.<br>Foto: Divulgação
O superesportista Marcelo Alves durante prova extrema.
Foto: Divulgação
Separar algumas horas do dia para os treinos, porém, não é suficiente para ser um superatleta. O organismo trabalha no limite físico, às vezes até ultrapassá-lo, e precisa do apoio de profissionais para evitar lesões por esforço repetitivo, sobrecarga mecânica, distensão muscular, fratura óssea, lesões na cartilagem e tendinopatias. De acordo com o vice-presidente da Sociedade Brasileira de Artroscopia e Traumatologia do Esporte (SBRATE), Lúcio Ernlund, são necessários pelo menos cinco profissionais, entre cardiologista, nutricionista, fisioterapeuta, educador físico e um médico da área de esporte que precisam ser vistos com frequência.
Mesmo com todo cuidado, algumas consequências dessa vida no limite podem surgir anos depois. “O excesso de exercícios faz com que o coração hipertrofie, fazendo o mesmo trabalho com um gasto energético menor. Quando o músculo cresce demais, pode desequilibrar a oferta e o consumo de oxigênio, gerando uma arritmia”, explica o cardiologista e nefrologista do Hospital do Coração, Celso Amodeo. O mesmo vale para lesões nos ossos e músculos, como a osteoporose, segundo Ernlund. “Mulheres com nível esportista muito elevado têm risco aumentado de fratura por estresse nas pernas, amenorreia e osteoporose. São doenças relacionadas ao excesso de carga esportiva”, diz.
Pé na jaca nunca mais
Para ter bons resultados nas competições, é preciso fidelidade à nova vida e, muitas vezes, abdicação de antigos prazeres. “O meu batimento cardíaco em repouso é 60/minuto. Se eu tomar duas latas de cerveja na noite anterior, sobe para 70 no treino. Eu canso mais e faço com que o coração trabalhe mais para levar a mesma quantidade de oxigênio, por isso prefiro não beber”, diz Marcelo. Mas dias de pé na jaca são essenciais. “É uma higiene mental, mas se deve ter em mente que é preciso voltar à rotina”, diz o nutricionista esportivo, membro da Sociedade Brasileira de Nutrição Esportiva, Rafael Gonçalves.
Coração escaneado
O exame cardiopulmonar mede o oxigênio absorvido e o gás carbônico eliminado, sob esforço. “Vemos se consome todo o oxigênio necessário ou se produz ácido lático, que facilita arritmia e provoca dor”, diz Celso Amodeo, cardiologista do HCor.
Pool médico
Dois fisioterapeutas e um educador físico a cada semana, um fisiologista a cada 45 dias, a nutricionista uma vez ao mês e o cardiologista a cada três meses são os profissionais que o maratonista Marcelo Alves consulta na sua rotina médica.