Ignorado pela maioria, hábito de lavar narinas com soro ajuda a prevenir doenças
Flávia Alves, especial para a Gazeta do Povo
25/05/2018 12:00
Mesmo que sejam aplicadas na mucosa nasal, essas substâncias podem cair na corrente sanguínea e quando são absorvidas podem causar arritmia cardíaca, dores de cabeça e hipertensão Foto: Bigstock
Escovar os dentes, tomar um banho, lavar as mãos, pentear os cabelos. Estes são alguns hábitos ensinados e praticados desde cedo que fazem parte da rotina da maioria das pessoas. Para os médicos, porém, há um passo importante para a saúde que deveria ser incluído neste ritual diário de higiene: o de lavar as narinas com soro fisiológico.
“O nariz é o órgão responsável pela filtragem e aquecimento do ar e como todo filtro deveria ser constantemente limpo”, explica a médica Renata Vecentin Becker, otorrinolaringologista do Hospital IPO. Segundo ela, esta limpeza deveria ocorrer pelo menos duas vezes ao dia, pela manhã, ao acordar, e à noite, antes de ir para a cama.
“Durante a noite, enquanto dormimos, produzimos mais secreção que o normal, por isso é importante fazer a limpeza quando acordamos. E durante o dia, quando saímos de casa, nosso nariz fica exposto à poluição, vírus e bactérias, por isso lavar à noite também é fundamental”, justifica a médica. A limpeza, então, além de contribuir para desobstruir as narinas e tornar a respiração mais “leve” pode evitar doenças e por isso é uma importante aliada, principalmente na chegada do frio.
Renata explica que esta lavagem pode ser feita de duas formas: usando a seringa e soro fisiológico ou produtos à base de cloreto de sódio existentes no mercado, na forma de spray, de jatos contínuos ou “pumps”. “Os que já vêm prontos têm uma aplicação mais fácil e são menos traumáticos, principalmente para as crianças”, conta, alertando que para colocar em prática a limpeza a pessoa deve primeiramente procurar a orientação de um médico, que irá instruir sobre a forma correta e a quantidade de acordo com cada paciente.
Desde cedo
A indicação atualmente já vem sendo muito reforçada pelos médicos pediatras, até porque é mais fácil criar este hábito desde cedo, nas crianças. No caso do Pietro, de 2 anos, foi assim. “Nós já saímos da maternidade com a indicação do pediatra. Então fazemos diariamente, desde que ele nasceu”, conta a mãe, a auxiliar administrativo Emmanuelle Ferreira da Silva.
Ela conta ainda que antes o filho reclamava um pouco na hora da aplicação, mas hoje já está tão acostumado que até pede o spray. “Fazemos à noite e vejo que assim ele dorme bem mais tranquilo”, diz.
Mas a indicação de limpeza diária não se restringe às crianças. “Todos podem e devem fazer”, recomenda Renata. Sobre a frequência diária, ela afirma que o usual é que se faça duas vezes, de manhã e à noite, podendo-se ampliar durante resfriados, gripes ou outras ocorrências respiratórias ou até mesmo quando o ar está muito seco. “Para quem trabalha em escritórios com ar-condicionado, por exemplo, é muito indicado”, sugere.
Só solução fisiológica
A médica explica que esta orientação de lavar as narinas com solução fisiológica – que já é antiga entre os médicos, mas só agora começa a ganhar status de rotina em alguns lares – não pode ser confundida com um hábito muito comum entre muitos: o de usar descongestionantes nasais diariamente.
Segundo ela, o uso regular destes produtos é desaconselhado, inclusive, pelos riscos que pode trazer. “Além do próprio vício, já que muitos pacientes não ficam mais sem o descongestionante, ele pode causar arritmia cardíaca, perfuração do septo nasal e até mesmo morte, dependendo da quantidade usada e da idade e tamanho do paciente”, alerta, principalmente entre para o perigo do uso em bebês.
Renata conta que atende diariamente pessoas que fazem uso abusivo destes produtos. “Todos dias recebo pelo menos três pessoas viciadas”, confirma. Segundo ela, a primeira abordagem feita nestes casos é entender o que está levando a pessoa a usar o descongestionante. “É necessário investigar se é um problema de alergia, ou desvio de septo, por exemplo, para traçar um tratamento individualizado, que poderá contar inclusive com uma abordagem psicológica”, explica Renata.