Saúde e Bem-Estar
“O João começou com uma bolinha nas costas. Toda vez que íamos ver no hospital, a bolinha era queimada com laser. Ela cresceu rápido e ficou do tamanho de uma laranja. Ele foi mandado para o Erasto Gaertner para fazer uma biópsia. Lembro que falei que, dependendo do resultado, a casa de João iria cair. Ele foi sozinho e escondeu o resultado. Quando pude, olhei tudo e descobri que se tratava de um tumor maligno e agressivo. Ele tinha muito medo de morrer. Ele fez uma operação grande, que abriu todas as costas. Tivemos que cuidar dele em casa e não foi nada fácil. Minha filha entrou em depressão, queria se matar. Mas com o tempo, as coisas se acalmaram e a ferida cicatrizou. Ele fez quimioterapia e radioterapia. Antes ia sozinho. Depois tive que acompanhá-lo. Com o tempo, a doença se espalhou para o pulmão, próstata, ossos. Teve que usar muletas e depois cadeira de rodas e nos últimos tempos nem sentar podia.
Como ele estava em casa, larguei o trabalho para cuidar dele. O João não dormia à noite, ficava com ele de mão dada, ele tinha medo. A luz ficava acesa e a tevê ligada. Dava remédio de quatro em quatro horas. Ele sentia muita dor. Ainda hoje eu ouço aqueles gritos. Penso em como suportei tudo isso. Fui humilhada muitas vezes, e outras tive o apoio de muita gente. Tive que aprender a fazer lavagem intestinal nele, as minhas filhas também tiveram que ajudar, sob os protestos do pai.
O João dizia que ficaria ficar bem, estava lúcido. Mas víamos as mudanças no corpo dele. Nós nos policiávamos umas às outras para não chorar na frente dele e nem perder a paciência, porque não é fácil. Você fica fora de si muitas vezes.
Antes dele morrer, voltou para o hospital. Fiquei velando o seu sono, ficava de pé, nem lembrava de comer ou dormir. Ainda não acredito no que aconteceu. Mantenho os hábitos dele, luz ligada,tevê ligada. Sinto falta. Perdi minha mãe quando ele estava doente. Eu ainda não tinha tido tempo de chorar essa outra perda. Só agora. Choro pelos dois.
No final de tudo entendi que a gente passa por isso para crescer. Conhece gente boa. Para de olhar tanto para si. Foram oito anos de luta. Ele se escondeu de todos. E eu acatei para não constrangê-lo. Acho que hoje estamos bem, vamos nos recuperar.”
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