Saúde e Bem-Estar

Medo real, perigo imaginário

Érika Busani
26/08/2007 23:40
Apesar do episódio nada agradável, nunca tive o menor problema com formigas. Em compensação, não nutro simpatia por situações que envolvam água. Nada de entrar em mar agitado ou piscina com alguma possibilidade de brincadeiras como “caldos”. E nunca passei por uma experiência de quase afogamento.
Conto isso como exemplo de que, ao contrário da crença geral, nem sempre as fobias são resultado de um “trauma”. “Quase todos os problemas psiquiátricos hoje são vistos como uma soma de vários fatores: genéticos, fisiológicos e de experiências vividas”, informa o psiquiatra Élio Luiz Mauer, chefe do Departamento de Medicina Forense e Psiquiatria da Universidade Federal do Paraná (UFPR).
As fobias – existem inúmeros tipos, de cachorros à escuridão, de acidentes à multidões – são classificadas como medo desproporcional por um perigo que não é real. “O medo é normal e saudável, nos prepara e nos deixa atentos para situações de perigo. O problema é quando nosso ‘sensor de medo’ está alterado”, explica o psicólogo e psicanalista Alex Osike.
As fobias podem aparecer em diversos graus e, nos mais severos, até uma fotografia do objeto do medo pode causar reação de pânico. A tendência de quem começa a ter um medo mais pronunciado, muitas vezes, é começar a evitar situações em que tenham de enfrentá-lo. “É o que chamamos evitação. Tive um paciente que não preenchia cheques em lugares públicos. Ele começou a sair de casa com folhas assinadas e só fazia compras em locais que tinham máquinas para preenchê-los. Outros fazem rotas complicadas para evitar cachorros ou para estar sempre perto de algum hospital”, conta Mauer.
É fácil imaginar o trabalho que essas situações representam no cotidiano dos afetados. “E não estamos falando de nenhuma ‘loucura’. Os fóbicos são pessoas com capacidade crítica, sabem que tudo isso é absurdo. O que causa ainda mais sofrimento e vergonha”, destaca o psiquiatra.
Além disso, quanto mais tempo passar do início do medo irracional, maior ele vai ficando. Para Osike, “quem não enfrenta o medo tem tendência a se tornar um ser humano infeliz, frustrado e fóbico”. Por isso, uma das formas de prevenção às fobias é encarar as situações que podem levar a elas logo que surgem.
Caso isso não tenha sido feito a tempo, o grau de interferência no cotidiano é um bom termômetro para procurar ajuda profissional. “Nossa área de segurança é o mundo: se daqui a 24 horas precisarmos estar em Pequim, pode até causar alguma chateação, mas estaremos lá. Para o fóbico, as coisas vão se fechando cada vez mais, a ponto de sua área de segurança ser sua cama, olhando para o teto”, exemplifica Mauer.
Os tratamentos variam de medicamentoso a psicoterapêutico – ou os dois associados. Mauer indica a psicoterapia cognitivo-comportamental. Já Osike trabalha com hipnose e regressão e, caso o paciente necessite de remédios, trabalha em conjunto com um psiquiatra.
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Glossário de fobias
Ablutofobia: de lavar-se ou de tomar banho.
Aliumfobia: ao alho.
Anablefobia: de olhar para cima.
Anuptafobia: de vir a ficar solteiro.
Catoptrofobia: aos espelhos.
Cherofobia: à felicidade.
Daemonofobia: dos demônios.
Dendrofobia: às árvores.
Dikefobia: da justiça.
Elenofobia ou selenofobia: da lua.
Fengofobia ou photofobia: à luz.
Hadefobia: do toque de sino.
Mageirocofobia: de cozinhar.
Ophofobia: de aprender.
Papyrofobia: ao papel.
Pediofobia: das bonecas.
Pharmacofobia: de ingerir remédio.
Phobofobia: das fobias, ou medo de ter medo.
Plutofobia: à riqueza e à fartura.
Quenofobia: de ambientes que induzem à solidão.
Rhytifobia: de ter rugas.