Saúde e Bem-Estar

Prazer imediato, risco a longo prazo

Érika Busani
31/07/2005 23:30
Aquela fritura sequinha, bolachas recheadas, salgadinhos de pacote, um sorvete saboroso. Além de deliciosas, essas guloseimas facilitam a vida: basta abrir o pacote ou passar naquela rede de fast food e está tudo resolvido. Infelizmente, quase tudo que oferece praticidade ao dia-a-dia em termos de alimentação traz junto riscos à saúde.
Esses alimentos contêm a chamada gordura trans, presente de forma natural em pequena quantidade nas carnes e leite. As grandes vilãs são formadas durante o processo de hidrogenação industrial dos óleos vegetais, que passam do estado líquido para o sólido, permitindo que as fábricas melhorem a consistência e aumentem o prazo de validade de seus produtos. No caso das frituras, como se solidificam após o procedimento, deixam tudo crocante.
A gordura vegetal hidrogenada – outro nome da trans industrial – é condenada por médicos e nutricionistas porque, além de aumentar os níveis do LDL (o colesterol ruim), diminui os do HDL (o bom). “O organismo não consegue queimar essas gorduras. Elas vão se acumulando nas artérias, engrossando suas paredes e dificultando a passagem do sangue até entupi-las”, diz o cardiologista Mário Sérgio Cerci, professor da Universidade Federal do Paraná. O resultado: enfarte ou derrame.
Há pesquisas ainda não conclusivas que associam esse tipo de gordura também a alguns tipos de câncer. A preocupação das autoridades de saúde com o assunto levou a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) a estabelecer um prazo – julho de 2006 – para que a indústria alimentícia coloque nos rótulos dos produtos a quantidade de gordura trans. A recomendação da Anvisa é que o consumo diário não ultrapasse 2 gramas. Para se ter uma idéia do que isso representa, duas bolachas recheadas têm 1,5 grama e um pacote médio de batatas fritas já ultrapassa a marca, com 3,5 gramas.
Como estão presentes em grande quantidade de alimentos e justamente nos mais “atrativos”, as crianças também são vítimas das trans. “Hoje elas ficam em frente à tevê, comendo salgadinhos, sorvete, bolacha recheada. Começam a lesar mais precocemente as artérias e vão ter doenças mais cedo”, alerta Cerci. Aliado ao hábitos sedentários e ao estresse da vida moderna, esse é o motivo para que as doenças coronarianas acometam pessoas cada vez mais jovens.
Além de mudar os próprios hábitos, o desafio dos adultos é também educar as crianças. “Os hábitos são formados na infância. Mudá-los é uma das coisas mais difíceis de fazer”, lembra a nutricionista Andressa Bonilauri Fantin.
Serviço: Andressa Bonilauri Fantin (nutricionista), fone (41) 9975-0860 / Mário Sérgio Cerci (cardiologista), fone (41) 3021-3344 (Hospital do Coração) / Raul Von Der Heyde (nutricionista), fone (41) 3360-4133 (HC).