Sem manutenção e limpeza adequada, ar-condicionado e ventilador podem ocasionar danos à saúde
Raquel Derevecki
08/01/2019 12:00
Limpeza adequada e mudança de hábitos ajudam a aliviar os sintomas das alergias comuns quando a temperatura cai. Foto: Bigstock
Se nesses dias de muito calor – que tem passado facilmente do 30º C em grande parte do país – você não abre mão de ligar o ar-condicionado ou ter um ventilador por perto, saiba que é preciso tomar alguns cuidados para que o bem-estar momentâneo não resulte em um problema de saúde mais grave. A manutenção e a limpeza inadequada podem acarretar problemas nas vias aéreas, resfriados e desencadear doenças respiratórias como rinite, sinusite e pneumonia.
A curitibana Suelen Cristina do Prado, de 33 anos, sentiu os efeitos na pele. Funcionária de uma empresa de auditoria e consultoria, ela costuma ficar exposta ao ar condicionado durante as oito horas de trabalho e, em casa, ainda liga o ventilador durante a noite. A rotina é ótima para driblar o calor excessivo, mas desencadeou uma série de problemas respiratórios. “Comecei a ficar rouca, atacou sinusite e ainda fui diagnosticada com laringite e faringite, que são inflamações na laringe e nas amígdalas”, relatou.
Segundo ela, os primeiros sintomas começaram em 2012, quando o ar-condicionado do escritório em que trabalhava permanecia ligado na temperatura de 15ºC. “Minha mesa ficava um pouco distante do aparelho e, mesmo assim, eu colocava blusa para contornar a situação. Mas o pior era quando eu saía do escritório e a temperatura do lado de fora estava muito alta, isso me fazia mal”.
De acordo com o otorrinolaringologista Diego Malucelli, essa disparidade na temperatura percebida por Suelen é prejudicial ao organismo e deve ser evitada. “A diferença entre a temperatura externa e interna do ambiente não pode ser grande porque o corpo demora algumas horas para se adaptar”, explica o médico.
Por isso, nada de ligar o aparelho sempre com a menor temperatura possível. “Colocar 17º C ou menos que isso em um dia quente de verão é um erro. O ideal é que o ambiente esteja sempre entre 23º C e 24º C”, aponta Malucelli.
Essa orientação deve ser seguida principalmente em ambientes corporativos, onde o uso do ar-condicionado precisa obedecer às normas estabelecidas pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), com temperatura entre 23ºC e 26ºC no verão. “Mas deveríamos seguir essa regra em qualquer ambiente por causa de nossa saúde, seja em casa ou no carro”, pontua o médico.
Manutenção dos aparelhos
Outra regra válida para o uso do ar-condicionado e também do ventilador é a manutenção frequente. De acordo com o otorrinolaringologista, esse é um dos principais fatores que colocam em risco a saúde dos usuários. “Tem gente que deixa o ventilador guardado por meses e acha que pode tirá-lo do armário e ligá-lo logo depois, tranquilamente. Isso é um erro grave”, afirma.
As hélices sujas, fazem com que o ventilador jogue no ambiente inúmeros ácaros, bactérias, fungos e vírus, que podem desencadear diversos sintomas de doenças respiratórias. “Por isso, é necessário realizar a limpeza externa dos aparelhos e fazer a manutenção anual do filtro do ar-condicionado, seja da casa, do escritório ou do carro” ”, afirma o especialista.
Sem essa limpeza, os ácaros e bactérias dispersos no ar entrarão em contato com as vias aéreas facilmente devido a outro problema ocasionado pelos “aliados do verão”: o ressecamento das vias aéreas, assim como ocorre quando o clima está seco.
“As mucosas do nariz e da boca agem como defesa do organismo contra bactérias e poeira, mas precisam estar hidratadas para isso. Infelizmente, essa hidratação fica prejudicada quando estamos expostos ao ar condicionado ou ao ventilador”, explica Malucelli.
Sem essa capacidade de proteção exercida pelas mucosas do nariz e da boca, aumentam as chances de gripes, resfriados, rinite, sinusite, pneumonia e outros problemas respiratórios. Além disso, as vias aéreas ressecadas também podem ocasionar sangramento nasal.
“A orientação, então, é a hidratação frequente com soro fisiológico 0,9%. Ele é vendido nas farmácias e pode ser aplicado diretamente nas narinas algumas vezes ao dia”, sugere o médico do Hospital Otorrinos Curitiba.
Segundo ele, o uso do soro fisiológico várias vezes ao dia não causa nenhum efeito colateral. No entanto, quem não gosta de aplicá-lo também pode usufruir de seus benefícios com o auxílio de um inalador. “Basta colocar apenas o soro no aparelho e inalar por, aproximadamente, 10 a 15 minutos”.
Alguns problemas que podem ser causados pelo ar-condicionado e pelo ventilador sem manutenção:
Doença do Legionário: é ocasionada por uma bactéria (Legionella pneumophila) que pode se alocar nos dutos e filtros de equipamentos de ar-condicionado mal higienizados. “A exposição a essas bactérias leva a um quadro respiratório de pneumonia grave, e o diagnóstico precoce permite terapia antimicrobiana específica, reduzindo a gravidade e complicações do quadro”, explica o médico microbiologista André Mário Doi.
Asma: alergias respiratórias como a asma são doenças inflamatórias crônicas que acometem as vias respiratórias. A doença se manifesta clinicamente por crises de falta de ar ou cansaço, chiado e sensação de aperto no peito, e também pode ser desencadeada pela exposição ao ventilador ou ao ar condicionado sem manutenção. “A exposição aos alérgenos inalantes, como ácaros, fungos e bactérias, é o principal fator das crises de asma e rinite”, diz o microbiologista.
Rinite alérgica: a rinite alérgica é uma infecção que ocorre na membrana nasal. É caracterizada por espirros repetidos, coriza líquida e abundante, olhos lacrimejantes, coceira (em nariz, olhos, garganta e ouvidos), congestão nasal, alteração do olfato e do paladar, olhos avermelhados e irritados.
Ressecamento do muco pulmonar: a mucosa nasal é revestida por cílios vibrantes, responsáveis por expulsar bactérias, fungos e vírus que entram no organismo pelo ar respirado. Como há o ressecamento da região, a chance de contrair infecções aumenta.