Saúde e Bem-Estar

Um caso em um milhão: brasileira tem gêmeas e uma nasce com Síndrome de Down

Raquel Derevecki
07/02/2019 08:32
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Os pais descobriram a condição da filha somente na hora do parto. Foto: Arquivo Pessoal

Caso raro na medicina, as gêmeas Luiza e Lívia Wurzius, de Cuiabá, no Mato Grosso, surpreenderam seus pais e toda equipe médica. “A primeira a nascer foi a Luiza e eu vi na hora que ela tinha Síndrome de Down. Um minuto depois veio a Lívia, que não tinha a síndrome. As duas são perfeitas do jeito que nasceram e completaram nossa família”, afirma a fisioterapeuta Raquel Cimi, de 36 anos.
Mãe da pequena Laura – que já estava com três anos – ela e o marido Daniel Wurzius queriam mais um bebê, mas não esperavam que o presente viesse em dose dupla e de forma tão especial: a estimativa de casos como o das gêmeas é de aproximadamente um a cada um milhão de nascimentos. “Os médicos nos falaram que nunca tinham visto algo assim”, relata Raquel, que engravidou com facilidade, sem necessidade de tratamentos.
Segundo o obstetra Vinicius Zanlonrenzi, de Curitiba, no Paraná, a situação é rara e aconteceu porque as gêmeas não são idênticas, ou seja, se formaram a partir de dois óvulos e em duas placentas distintas. Elas têm material genético diferente: uma apresenta a síndrome, e a outra não”, explica o especialista.
Caso as gêmeas fossem idênticas – resultado da fecundação de um único óvulo que se divide e forma dois embriões – o cromossomo extra que causa a Síndrome de Down estaria presente nas duas crianças. “Também há outros elementos que devemos levar em conta, como a idade materna, se foi fertilização ou concepção natural, e alguma outra doença dos pais. Então, um caso como esse registrado no Mato Grosso é realmente raro“, afirma o especialista, que atua nos hospitais Santa Cruz, Nossa Senhora  das Graças e Santa Brígida, em Curitiba.
Luiza e Lívia nasceram no dia 4 de outubro de 2017 com um minuto de diferença entre elas. Foto: Arquivo Pessoal
Luiza e Lívia nasceram no dia 4 de outubro de 2017 com um minuto de diferença entre elas. Foto: Arquivo Pessoal
A notícia a respeito da diferença entre as garotas veio no terceiro mês de gestação. No entanto, só foi possível descobrir que uma delas tinha Síndrome de Down na hora do parto. “Os médicos viram que a Luiza tinha alterações de tamanho, mas não sabiam qual síndrome ela tinha. Dependendo do problema, ela poderia morrer logo após o nascimento porque as outras síndromes não são compatíveis com a vida. Aquilo acabou comigo”, relata Raquel, que realizou o mesmo exame três vezes com a esperança de que tivesse sido um erro.
Como as alterações apareceram em todas as tentativas, a equipe médica sugeriu a realização de outro exame que mostraria, com precisão, a síndrome da criança. Esse teste se chama amniocentese e tira uma amostra do liquido aminiótico de dentro do útero para ser examinado em laboratório e confirmar o diagnóstico. No entanto, coloca em risco a criança.

“No caso das gêmeas, que estavam em duas placentas, o espaço no útero era ainda menor e podia romper as bolsas e causar o aborto das duas. Era muito perigoso e decidimos não fazer”, afirma a mãe.

Sem o exame, a dúvida a respeito da saúde de uma das filhas preocupou os pais durante toda a gravidez. “Eu só chorava e não tinha vontade de fazer o enxoval ou arrumar o quartinho delas. Tive síndrome do pânico e sonhava que uma das minhas filhas havia morrido. Era horrível”.
Para piorar, os médicos falaram que, se a Luiza sobrevivesse após o nascimento, também precisaria de uma cirurgia emergencial no coração. Por isso, a família deixou a cidade de Sorriso, a 400 quilômetros de Cuiabá, para aguardar a chegada das gêmeas na capital do Mato Grosso, onde havia Unidade de Terapia Intensiva (UTI) para recém-nascidos. “Fomos para Cuiabá com 32 semanas e elas nasceram com 37”.

A chegada das bebês

A ansiedade no dia 4 de outubro de 2017 era imensa e Raquel acreditava que as duas filhas sobreviveriam. “Para nossa alegria, elas nasceram perfeitas. Luiza tinha síndrome de down, que era compatível com a vida e lhe dá todas as chances de crescer bem. Eu percebi isso quando vi o olhinho amendoado e a língua de fora”, conta a mãe, aliviada. A irmã Livia nasceu um minuto depois, sem a síndrome e nenhuma das garotas precisou passar por cirurgia emergencial.

“Elas foram direto para o quarto. Não ficaram no oxigênio e nem na incubadora. Quando colocaram minhas filhas para amamentar, elas mamaram. Estavam saudáveis”, relatou a mãe, emocionada.

Raquel precisou fechar sua clínica de fisioterapia para adaptar-se à nova rotina e agora dedica sua agenda para as filhas. “Todas têm horários definidos e a Luiza tem cinco sessões de fisioterapia por semana para estimulá-la e também sessões de fonoaudiologia”.
Além disso, a família precisou mudar a alimentação porque as gêmeas desenvolveram alergia à lactose e Luiza também é alérgica à proteína do leite. “Não é fácil, então tenho uma babá que me ajuda durante o dia e conto com meu marido depois do trabalho. Ele dá mamadeira, acorda de madrugada para atender as meninas e é um paizão”, garante Raquel.
Segundo ela, a filha Livia já caminha, corre e fala várias palavras, enquanto a irmã Luiza – que têm Síndrome de Down – está prestes a engatinhar. “Já a Laura, irmã mais velha, ama as duas irmãzinhas e até ajuda a cuidar. Sou muito feliz pela família linda que recebi”, comemora.
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