Saúde e Bem-Estar
Adolescente, essa história me impressionou. Quanta paciência e dedicação ao marido tinha essa mulher!, pensava eu. Hoje acho que a questão toda era a vaidade dela. E vaidade, claro, é substantivo feminino. Algo inerente a todas nós.
A vaidade, inclusive, é o tema da pesquisa ?A beleza da mulher brasileira?. O levantamento, realizado pela Sophia Mind a pedido da rede Onodera Estética, identificou seis perfis de mulheres quando o assunto é o cuidado com a beleza. Foram 3.500 entrevistadas das classes A, B e C, entre 18 a 60 anos.
As muito vaidosas são apenas 14%. Mas em quase todos os outros perfis ? comedida (32%), atleta (25%), sonhadora (14%), profissional (2%) ? a vaidade também aparece com força. Apenas a desencanada (13%) tem um nível menor de preocupação com a aparência. Fomos atrás de mulheres que se encaixam nos cinco principais perfis para contar como é cada um deles.
Se eu pudesse, eu mudaria…
A barriga poderia ser menor; os seios, maiores; e o bumbum, sem celulites. Essas são as três partes do corpo que mais incomodam as mulheres, mas não as únicas. Peso, cabelos, altura, estrias… a lista não tem fim. Apenas 8% das brasileiras estão totalmente satisfeitas com o próprio corpo, mostrou a pesquisa da Sophia Mind. ?A mulher canaliza a busca de satisfação para sua imagem corporal. É uma válvula de escape para as relações emocionais?, afirma a psicóloga clínica Mariana Garcez Pereira de Almeida, especialista em transtornos alimentares.
A psicóloga compara esse comportamento a uma casa com problemas estruturais. ?Pintar a casa é mais fácil do que consertar o encanamento. A imagem corporal é concreta, é palpável e pode ser mudada?, diz.
Outro dado interessante mostra uma mudança na relação entre beleza e inteligência. Apenas 1% das entrevistadas acharam que mulheres bonitas dificilmente são inteligentes. 34% acreditam que a busca pela beleza é questão de inteligência. ?A beleza influencia nas relações pessoais e profissionais das mulheres. Dessa forma, cuidar dela é uma forma de ajudá-las nessas relações?, afirma Bruno Maletta, sócio da Sophia Mind. Mas não é simplesmente o aspecto físico que conta. Para 88% das entrevistadas, autoestima, saúde e qualidade de vida fazem parte do pacote beleza. ?Estar bem com ela mesma é fundamental para se sentir bela?, analisa Maletta.
Comedida ? 32%
Ela se cuida, mas não tem a busca da beleza como prioridade em sua vida. ?Faço muito pouco pela minha beleza?, confirma a empresária Giovanna Conte, 30 anos. Os cuidados básicos incluem a pele limpa à noite, mas com produtos simples, de marcas populares. O cabelo volumoso chama a atenção e aos que perguntam o que ela faz para mantê-lo, a resposta está na ponta da língua: ?Não tenho nem escova em casa?.
A comedida não é tão influenciada pela mídia e procura tratar ou ?consertar? pequenos defeitos com o que lhe sobra de verba e somente aquilo que está dentre os gastos permitidos. ?Ela vem, compra um plano menor e depois vai complementando. Vai aproveitando conforme a oportunidade?, diz Maria Helena Verasquim, consultora de estética na Onodera Estética.
Giovanna conta que colocou silicone, mas não faz tratamentos estéticos. Ela frequenta uma clínica de estética, mas apenas para fazer massagem relaxante. ?Bem-estar é beleza. São quase sinônimos. Quando estou muito bem, estou muito mais bonita.? E é fiel aos profissionais em quem confia, como a cabeleireira que frequenta há dez anos e a manicure.
A alimentação é uma grande aliada deste perfil. ?Procuro sempre ter uma alimentação saudável, equilibrada. Evito frituras, bebidas alcoólicas, junk food. Os hábitos de vida saudáveis me dão muito prazer?, conta a moça, que já esteve 30 quilos acima do que tem hoje. ?Foi sofrido emagrecer. Depois adoeci e perdi mais do que deveria. Gostaria de ter uns três quilos a mais?, afirma.
Atleta ? 25%
A academia é quase uma religião. A atleta é vaidosa, apaixonada por malhação e cuidados com o corpo. Acredita que para atingir a beleza é preciso esforço próprio, um processo que dá trabalho e é geralmente uma conquista quando atinge esse objetivo.
Por isso, o esforço é valorizado. ?Musculação é um porre, mas farço porque é o melhor resultado?, diz a jornalista Melissa Mussi, 31 anos, que levanta peso de segunda a sexta-feira. E não para por aí. Faz sppinning três vezes por semana. Nos outros dois, joga tênis. Se chover, corre para a bicicleta. E fim de semana, nada de descanso: corridas e caminhadas fazem parte dos programas. ?A gente começa devagar e vicia. Exercício aeróbico é prazer.?
A paixão pela malhação surgiu com outra: o namorado da área. ?Antes, tinha pavor de academia?, conta. As duas paixões renderam 13 quilos a menos e um corpo mais torneado. ?Gosto muito mais do que vejo no espelho hoje?, diz. Além disso, Melissa destaca a melhoria na autoestima e na disposição.
Esse perfil geralmente não acredita muito em tratamentos estéticos ou os consideram apenas bons aliados da malhação. ?Faço alguns tratamentos, que ajudam a obter resultados mais rápidos. Mas sozinhos eles não dão resultado?, corrobora a jornalista.
Sonhadora ? 14%
Ela é tão ou mais vaidosa que a própria vaidosa, mas precisa equilibrar o orçamento. ?Se eu tivesse mais dinheiro para gastar em estética, viveria na clínica.? A frase da funcionária pública Tania Leon Bordes, 53 anos, resume o perfil da sonhadora, que também sabe tudo sobre os tratamentos estéticos existentes e sonha em realizá-los. ?É verdade, sei tudo e discuto com a pessoa que está me tratando?, diverte-se Tania.
A recompensa vem do olhar de quem convive com ela. ?As amigas da minha filha dizem que querem ficar como eu. Respondo que eu troco com elas?, ri a mãe de Cintia, 28 anos, e Rodolfo, 24.
A sonhadora também quer parecer mais nova do que realmente é e valoriza roupas que rejuvenesçam e deixem o corpo em evidência. ?Normalmente as pessoas não me dão a idade que tenho. Mas não minto a idade, pelo contrário, tenho muito orgulho?, conta Tania, que usa o mesmo número de roupa que a filha.
Vaidosa ? 14%
Ao ser indagada pelo marido se moraria no sítio com ele, a decoradora de interiores Suely Ruon, 51 anos, respondeu: ?Claro, desde que tivesse um bom salão de beleza, uma boa clínica de estética e minha dermatologista?. Resposta típica de uma vaidosa assumida.
?Sofro se não puder cuidar da minha beleza. Tenho pavor da velhice. Sei que vai acontecer, mas sou adepta de fazer tratamentos de beleza enquanto nova para não ter que usar nada agressivo lá na frente?, contou a decoradora, em meio ao barulho do secador ? o telefonema para a entrevista a pegou no salão de beleza.
A vaidosa faz tudo que for preciso para se cuidar, se dá o direito de gastar boa quantidade de dinheiro consigo mesma, curte a feminilidade e acredita que tratar do corpo é o mesmo que tratar da alma. ?Faço tudo dentro das minhas possibilidades, mas entre um tratamento para rejuvenescer e uma viagem, faço o tratamento?, conta a avó de João Vitor, 4 anos; e Maria Eduarda, 1 ano e 2 meses.
Ela sabe de tudo que há no mercado e busca tudo que é inovador: luz pulsada, botox, microcorrente. O arsenal de Suely é infinito para atacar qualquer gordurinha, flacidez ou ruguinha que teime em aparecer.
Quem convive com ela admira seu cuidado, diz. ?Ajuda muito na minha autoestima, já saio da clínica indicando pra todo mundo. Não escondo o que faço, porque me deixa feliz.? Por isso, é referência para as amigas quando o assunto é beleza. ?Tem uma amiga que diz: ?Quando penso em estética, sei que tenho de ligar pra você??, diverte-se.
Desencanada ? 13%
A mancha de gravidez na testa só foi tratada depois de muita insistência do marido e da filha. ?Achava que não tinha o menor problema ficar com a mancha?, conta a dona de casa Giovana Salles, 44 anos. Giovana é o retrato da desencanada.
É aquela que coloca a vaidade e a busca pela beleza em um dos últimos lugares em sua vida, pois não considera importante viver sob padrões estéticos. E busca a valorização interior. ?Para mim o que conta é ler um livro que me emocione, fazer uma viagem superespecial. Adoro viajar. É o que faz minha pele ter viço, meus olhos brilharem?, diz.
Cozinhar é outro hobby da dona de casa. ?Somos uma família italiana. Gosto de fazer bolo, pão, comida elaborada. Devo estar alguma coisa acima do peso, mas não faço nada para controlar isso. Me olho no espelho e me gosto. Tive a sorte de não nascer feia?, brinca.
A desencanada dificilmente tem gastos com estética e, se o fizesse, poderia se julgar moralmente. ?Sempre olhei com maus olhos quem se dedica demais à beleza, ao corpo?, conta.
Uma curiosidade mostrada pela pesquisa: no Sul, o percentual de desencanadas é de 18%, cinco pontos percentuais superior à média das brasileiras.
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