O consultor de TI Eduardo Trombini, 33 anos, durante seu treino de Crossfit: 65 kg perdidos com cirurgia, reeducação alimentar e muito treino (Foto: Fernando Zequinão/Gazeta do Povo) | Gazeta do Povo
Perder dezenas de quilos, recuperar a autoestima perdida e incorporar, na rotina, hábitos saudáveis e esportes. Todas essas são conquistas comuns a pacientes que passaram pela cirurgiabariátrica (popularmente conhecida como redução de estômago) e hoje têm uma história de sucesso para contar.
O consultor de TI Eduardo Trombini, 33 anos, tentou diferentes tipos de dietas e exercícios físicos antes de considerar o Bypass Gástrico, a técnica de cirurgia bariátrica mais realizada no mundo. Ele passou pelo procedimento em abril de 2015, quando estava pesando 131,5 kg. “O incômodo pelo cansaço excessivo, dificuldades em comprar roupas e aborrecimentos diversos tiveram o seu peso na decisão. Porém, a escolha definitiva veio com o nascimento da minha filha, Isabella, porque preciso ser um exemplo de boas escolhas e vida saudável”, diz.
Ele passou pelo protocolo cirúrgico completo, o mesmo para todos os pacientes candidatos à redução de estômago, que envolveu uma assistência prévia com profissionais de diferentes especialidades, entre eles endocrinologista, psicólogo e nutricionista. “É um acompanhamento que segue para a vida toda. Qualquer bariátrico precisa ter em mente que, com a redução do estômago e a consequente baixa absorção, temos que nos alimentar de forma correta e funcional para não incorrer em falta de vitaminas e minerais”, explica. Ele conta que apesar dos cuidados para toda a vida, a escolha não poderia ter sido mais acertada. “Consegui sentir novamente o prazer dos exercícios físicos e hoje pratico corrida de rua e Crossfit. A cirurgia em si é uma oportunidade de mudança radical de vida e por isso é preciso aproveitá-la ao máximo, fazendo sempre boas escolhas para não ter o indesejado reganho de peso”, avalia.
Com 65kg eliminados, a história de sucesso e toda a vida pós bariátrica vêm sendo registradas no perfil do Instagram @bariatric_life, com mais de 7 mil seguidores de todo o país. “Quero mostrar que, mesmo com a cirurgia, ter uma rotina muito disciplinada é imprescindível para obter bons e duradouros resultados”.
Corrida de rua
Em julho do ano passado, com 98,8kg e 1,51m de altura, a empresária e enfermeira Waléria Meira, de 35 anos, se submeteu à redução de estômago. “A cirurgia foi necessária por conta de algumas condições como hipertensão, diabetes e colesterol e triglicerídeos elevadíssimos, que eu controlava através de medicamentos”, conta.
Durante dez anos ela tentou perder peso com a ajuda de endocrinologista, nutricionista, shakes e remédios inibidores de apetite, que não surtiram o resultado esperado. “Por tudo isso optei pela cirurgia e hoje peso 58kg, além de ter parado com vários remédios. Mudei totalmente meu estilo de vida e sigo com o auxílio de uma nutricionista para a reeducação alimentar, faço musculação e passei a praticar corrida de rua, pela qual estou apaixonada e viciada”, diz Waléria.
Segundo ela, mudar o estilo de vida após a cirurgia é obrigatório. “Estômago de magro e cabeça de gordo são duas coisas que não funcionam juntas. Sou muito exigente comigo para evitar o reganho de peso e hoje faço da balança a minha melhor amiga”, argumenta.
O procedimento não deve ser encarado como o último passo na busca por qualidade de vida. “A redução de estômago é só a primeira etapa no processo de emagrecimento e apenas ela não resolve o problema. É preciso que o paciente passe por uma reeducação alimentar e comportamental completa”, alerta o cirurgião do aparelho digestivo e membro titular da Sociedade Brasileira de Cirurgia Bariátrica e Metabólica, Glauco Afonso Morgenstern.
Tão intenso é o impacto da cirurgia, que o protocolo geral prevê acompanhamento multidisciplinar – com psicólogo e nutricionista, por exemplo – antes e depois do procedimento. “A estimativa é que o paciente gradualmente perca de 35% a 40% de seu peso total logo no primeiro ano. O início é semelhante para todos. O que realmente vai garantir o sucesso ao longo do tempo é a manutenção dos hábitos corretos quanto à alimentação e exercícios físicos. O paciente que abandona a rotina e passa a comer errado, em dois ou três anos já passou pelo reganho de peso, seja ele parcial ou excessivo”, explica o cirurgião. A literatura médica indica que cerca de 10% dos pacientes recuperam o peso após a cirurgia.
O reganho de peso é fruto de uma associação de fatores. Além da alimentação errada e da inatividade física, ansiedade e compulsões também entram na conta. “Saber equilibrar o emocional e a dieta é algo que deve ser seguido à risca. Do contrário, o paciente que era compulsivo alimentar pode até mesmo trocar esta compulsão por outra ou apresentar quadros de depressão e ansiedade severa, que comprometem os resultados conquistados com a bariátrica”, afirma o médico. Por tudo isso, o acompanhamento psicológico, em especial na fase pré-operatória, é essencial para que sejam reconhecidos possíveis indicadores de incapacidade em controlar e suportar as mudanças impostas pela cirurgia.
Ainda que as restrições e o trabalho do paciente sejam árduos, é indiscutível a qualidade de vida que a técnica cirúrgica promove para aqueles que mantêm a disciplina, com melhoras efetivas das condições clínicas e funcionais. “Além da vida nova, com a bariátrica há uma resolução de, pelo menos, 85% das doenças associadas à obesidade. Todo auxílio e conhecimento são fundamentais para que o ex-obeso se adapte à nova vida sem sofrimento e frustração”, finaliza Morgenstern.
Principais técnicas
A cirurgia bariátrica, também conhecida como gastroplastia ou redução de estômago, é indicada para pacientes obesos que já passaram por outras tentativas de emagrecimento, sem sucesso. Existem diferentes técnicas de bariátricas, mas as mais conhecidas no Brasil são o Bypass Gástrico e o Sleeve:
– O Bypass é amplamente realizado e consiste na redução drástica do volume do estômago para cerca de 20% de seu tamanho original. Realiza-se também um desvio intestinal que diminui a absorção de nutrientes, contribuindo assim para a perda de peso.
– O Sleeve representa uma alternativa menos invasiva e preserva um pouco mais do volume estomacal. Além disso, mantém todas as conexões originais do órgão e não cria desvios. Ou seja, o caminho seguido pelos alimentos durante o processo digestivo não é alterado.
A indicação da melhor técnica vai depender do grau de obesidade do paciente, da presença ou não de doenças associadas e da saúde geral.