Saúde e Bem-Estar

Triclosan: componente de pasta de dente é associado à osteoporose em mulheres

Julliana Bauer, especial para Gazeta do Povo
21/07/2019 08:00
Thumbnail
Escovar os dentes três vezes por dia, caprichar no enxaguante bucal, usar sabonetes antibacterianos – e se todos esses hábitos tidos como saudáveis representassem também um risco para a saúde óssea?
É o que sugere um novo estudo americano, que associa a presença do Triclosan – substância comum em produtos de higiene dental e sabonetes antissépticos – com a osteoporose em mulheres.
De acordo com pesquisa publicada no fim de junho pelo Journal of Clinical Endocrinology and Metabolism,  as voluntárias que apresentavam alta concentração de Triclosan na urina têm saúde óssea pior do que as mulheres que não fazem uso de produtos com o químico na composição.
A substância, detectada no organismo de 75% da população estadunidense, pode ser encontrada não apenas em produtos de higiene e cosméticos, mas também em utensílios de cozinha e até em alguns brinquedos.
Os resíduos podem ser vistos nos oceanos, no organismo de animais marinhos, e até mesmo no leite materno de seres humanos.

Nos Estados Unidos, o uso do químico é proibido pela agência reguladora Food and Drug Administration (FDA) desde dezembro de 2018, que entende que não há evidências nem da eficácia do Triclosan como bactericida, nem de que seja seguro para o consumo humano.

Segundo a Anvisa, no Brasil ele atualmente é permitido em cosméticos e em saneantes como conservante apenas na concentração máxima de 0,3% na formulação.”Mas os países membros do Mercosul estão discutindo uma restrição maior”, declarou a agência, via assessoria de imprensa.
O ginecologista e professor de tocoginecologia da UFPR, Jaime Kulak, afirma que as discussões acerca do tema ainda estão em fase inicial na comunidade médica brasileira, e que é cedo para levar para a prática clínica os resultados da pesquisa.

“Mesmo que a pessoa opte por evitar o Triclosan, ela terá dificuldade em selecionar produtos que não o levem na composição, porque muitas vezes ele sequer vem descrito no rótulo”, afirma.

Nada de pânico
Para Jonas Lenzi, médico ortopedista do Hospital Vita, a pesquisa apresenta várias inconsistências, e seria necessária a elaboração de estudos mais específicos sobre o tema para que se conclua uma ligação entre o Triclosan e a osteoporose.
“Por enquanto, não há motivo para que a população e preocupe”, analisa. De acordo com Lenzi, a amostragem de pessoas que participou do estudo não foi selecionada de forma coerente, e há vários problemas técnicos na forma como a pesquisa foi conduzida.
Kulak afirma ainda que por ser um componente pouco conhecido pela população brasileira, o Triclosan não é motivo de dúvidas e questionamentos por parte de pacientes nos consultórios médicos.
O ginecologista adverte, no entanto, que os sabonetes bactericidas que levam o químico comprovadamente não cumprem o efeito prometido, e que não há diferença entre eles e os sabonetes comuns.
Polêmica antiga
O debate acerca dos efeitos negativos do Triclosan não é exatamente novo. Em 2014, um estudo feito pela Universidade da Califórnia e publicado na revista Proceedings of the National Academy of Sciences sugere uma relação do uso da substância a danos ao fígado, como trombose hepática e até mesmo câncer. Antes disso, um estudo de 2012 publicado pela mesma revista sugeriu também que o componente poderia comprometer a função muscular.

Além disso, há a preocupação que seu uso excessivo possa deixar as bactérias mais resistentes – seu efeito bactericida mataria as bactérias mais fracas, mas não teria o mesmo efeito sobre as mais fortes, que acabariam sobrevivendo e se reproduzindo.

O ortopedista ensina que, quando o assunto é osteoporose, o que se sabe é que há medicamentos para doenças graves, como o câncer, que acabam aumentando a probabilidade da doença — que afeta principalmente mulheres na pós-menopausa — mas que os fatores de risco principais são aqueles já conhecidos: histórico familiar, dieta pobre em cálcio, sedentarismo, uso de corticoides. “Por ser uma doença sem sintomas, é preciso manter os exames de rotina sempre em dia”, alerta Lenzi.
LEIA TAMBÉM