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Nova livraria de rua de Curitiba quer oferecer curadoria diferenciada e promover encontros

Vivian Faria
14/05/2024 08:53
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Choveu o dia inteiro na primeira segunda-feira de funcionamento da Telaranha. O tempo poderia ter espantado os potenciais clientes da mais nova livraria de rua do Centro, que vinham acostumados a dias razoavelmente quentes e secos, mesmo em Curitiba, mesmo em início de abril, mas não foi o que se viu. Entre 17h30 e 19h, passaram por ali mais pessoas do que é possível contar nas mãos – movimento que foi contínuo ao longo de todo o dia, segundo a sócia Bárbara Tanaka, que ainda estava espantada com a inauguração, dois dias antes, em 13 de abril. “Passaram umas 800 pessoas por aqui”, estimou.
Mais do que o apetite do curitibano por novidades, o movimento nos primeiros dias da livraria foi mais um indicativo para Bárbara e seu sócio, Guilherme Conde, de que havia uma demanda por um estabelecimento como aquele, que reunisse livros e pessoas.
Sócios desde 2022 na Telaranha Edições – cuja primeira publicação, em abril daquele ano, foi “Instruções para morder a palavra pássaro”, obra póstuma da escritora e poeta potiguar radicada em Curitiba Assionara Souza –, Bárbara e Guilherme começaram a pensar na possibilidade de abrir uma livraria a partir do momento em que passaram a ter mais contato com o público levando a editora a feiras do segmento.
Livraria tem opções para adultos e crianças.
Livraria tem opções para adultos e crianças.
“A livraria, para mim, era muito do campo do sonho. Remete a uma Bárbara adolescente que queria ter uma livraria, um café e uma floricultura, mas que nunca trabalhou para isso”, conta. “Mas o plano surgiu no ano passado, quando começamos a frequentar feiras com a editora. Tivemos uma participação muito legal na Feira do [Livro do] Sesc, vimos pessoas sedentas por livros”.
Presenciais, os eventos também revelavam uma avidez por encontros e trocas pessoais, sintoma de um mundo pós-pandêmico. Daí, a ideia de procurar um espaço e abrir uma loja física. O objetivo, porém, não era colocar o negócio em pé em tão pouco tempo, mesmo que a mera possibilidade de abri-lo tenha feito Bárbara incluir espaços comerciais entre suas buscas na internet – “Tenho o hobby de olhar imóveis nos sites de imobiliárias”, diz.
Mas o acaso colaborou e, numa postagem de Instagram, os sócios descobriram um casarão histórico recém-reformado na esquina das ruas Saldanha Marinho e Ébano Pereira, em frente à Praça Santos Dumont, numa região que reúne a Secretaria de Estado de Cultura, a loja de vinis Savarin e a Escola de Música e Belas Artes. “Foi só pisar aqui que a gente se apaixonou”.

A livraria

“Curitiba tem livrarias muito boas – Arte & Letra, Vertov, Maitê, Joaquim e outras –, mas sentíamos falta de uma curadoria diferente”, afirma Bárbara sobre o que norteou as escolhas relacionadas ao acervo da livraria, que reúne atualmente 2.500 títulos de aproximadamente 100 editoras, além de publicações independentes. “Mas temos espaço para até 4 mil”, diz. São obras de literatura, teorias de ciências humanas e arte, além de livros infantis, privilegiando aquelas que eram mais difíceis de achar na cidade.
Nas prateleiras, elas estão organizadas de uma forma diferente: em vez das tradicionais seções como “ficção”, “infanto-juvenil”, “biografias” ou “ciências sociais”, os visitantes se deparam com placas que dizem “tradições”, “rupturas”, “retratos” ou “cânone”, cada título seguido de uma breve explicação para situar quem não está habituado.
Obras são divididas a partir de uma proposta diferente dos tradicionais gêneros literários.
Obras são divididas a partir de uma proposta diferente dos tradicionais gêneros literários.
A proposta se baseia em ideias do historiador de arte alemão Aby Warburg, que sugeriu uma historiografia da arte baseada no princípio da boa vizinhança: os itens deveriam ser associados não pelo gênero, mas pelo diálogo ou pelas conexões entre eles.
“Isso é uma tendência, não só no Brasil, e permite trazer uma catalogação mais permeável”, explica Bárbara. “Retratos”, por exemplo, contém obras que abordam a memória de livros, pessoas e lugares. As de “tradições” trazem teorias e ideias já mais conhecidas, tradicionais, que ajudam a pensar o passado, o presente e o futuro do mundo. O principal objetivo é que o cliente-leitor comece em uma obra e se perca em outras a partir dessas relações – e das que ele próprio estabelece.
“A principal função de uma livraria hoje, quando a compra pela internet é tão fácil, é permitir que as pessoas descubram algo diferente”,
resume Bárbara.
Para permitir conexões diferentes daquelas propostas pelas seções, uma mesa central que abraça uma coluna existente no espaço abriga títulos que integram uma “teia” temporária. A de abril foi chamada “Teia de Cosmologias”. Em maio, o tema é “cidades”.
O espaço ainda comercializa artes gráficas e produtos artesanais de artistas escolhidos por meio de edital – seleção que deve acontecer ao menos duas vezes ao ano – e conta com um café, fruto da sociedade entre Bárbara e a mãe dela, Regina, proprietária do Gyoza Queen, com cardápio assinado por Amanda Albuquerque, conhecida nas redes sociais como Amanda Barista. Por enquanto, ele contempla cafés, matchas, salgados e doces, mas a proposta é servir também almoço.

Serviço

Telaranha Livraria & Café. Rua Ébano Pereira, 269, Centro, Curitiba - PR. Abre de segunda a sexta, das 10h às 19h, e sábados, das 10h às 18h. @livraria.telaranha