Raízes Paranaenses

Conheça Lange de Morretes, pintor que eternizou a paisagem paranaense em suas obras

Bruno Zermiani, especial para Pinó
06/05/2024 16:31
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O conjunto de montanhas do Marumbi chama a atenção assim que aparece diante dos olhos de quem cruza a Serra do Mar. O complexo é formado por nove montanhas, uma seguida da outra, como uma gigantesca escada natural.
Aos olhos de Frederico Lange de Morretes, a Serra do Mar e o Marumbi (ou, ao menos, parte dele*) surgem imponentes em meio à Mata Atlântica, em uma visão turva, talvez inspirada pela neblina de uma manhã em Morretes, cena que ele conhecia bem, já que nasceu e morreu aos pés da montanha.
Os traços mais imprecisos dão vida e movimento à obra. Mais do que isso: sentimento. Uma imagem que parece saída de um sonho, fugindo do realismo dos contornos mais comportados. Uma versão da realidade expressada pelo estilo peculiar e pelas sensações do artista.
“Lange de Morretes desenvolveu um estilo próprio, que absorve as influências do Modernismo europeu, com o qual teve contato na Alemanha durante a década de 1920, bem como da pintura acadêmica dominante no Brasil no final do século 19 e início do século 20, ressignificando-as em uma estética única, que combina tradição e modernidade”
define Marco Baena, curador da exposição "Lange de Morretes: entre-paisagens", em cartaz no Museu Paranaense

Amor pela natureza

As paisagens da serra paranaense, observadas desde a infância, quando morava com a família na histórica Casa do Ypiranga, enquanto seu pai, o engenheiro Rudolph Lange, era um dos responsáveis pela construção da estrada de ferro Paranaguá-Curitiba, foram apenas o começo de uma história de amor entre o artista e o mundo natural.
Pintura "Vale do Ipiranga".
Pintura "Vale do Ipiranga".
“A paisagem exuberante da serra, observada em sua infância, foi um dos primeiros contatos de Lange com a paisagem paranaense. Quando foi para a Alemanha, aos 18 anos, em 1910, viveu próximo aos Alpes da Baviera, onde também desenvolveu sua pintura de paisagem. Ao retornar ao Brasil, em 1920, transitou pelas paisagens dos litorais paranaense e paulista. Tudo isso faz dele ao mesmo tempo um artista local e global”, aponta Baena.
Conhecido principalmente pelos pinhões estilizados que marcam as calçadas de Curitiba – as rosáceas paranistas – e por ser um dos fundadores do movimento Paranista, Lange de Morretes é um dos artistas que mais fez uso do território paranaense como personagem de suas obras.
Suas observações in loco, captando a complexa variação de cores, movimentos e luzes do ambiente, fazem de suas paisagens mais do que meros registros da natureza, mas obras imortalizadas com sua própria interpretação do Paraná.
“A arte tem essa capacidade de dar outra dimensão à paisagem, e é isso que dá força a ela. Toda obra é uma interpretação, e o Lange conseguia ir além de representar a natureza. Ele conseguia traduzir as sensações que a natureza transmite. A sensação que um pinheiro causa com toda sua imponência”,
exemplifica Rafaela Tasca, curadora de arte responsável por um projeto que faz o resgate e uma homenagem à obra de Lange de Morretes.

Raio-X: Frederico Lange de Morretes

  • Nasceu em Morretes, no dia 5 de maio de 1892;
  • Pintou mais de 500 telas, com destaque para paisagens e cenas do cotidiano;
  • Recebeu importantes prêmios, incluindo a Medalha de bronze no Salão Nacional de Belas Artes (Rio de Janeiro, 1927) e a Medalha de ouro (póstuma) no Salão Paranaense de Belas Artes (1954);
  • Faleceu em Curitiba em 19 de janeiro de 1954, aos 61 anos. Foi enterrado em Morretes, em pé, de frente para o pico do Marumbi.
*Montanhistas dizem que, na obra popularmente conhecida como “Nhundiaquara e Pico Marumbi”, em que retrata o conjunto de montanhas, apenas parte delas é representada.

Confira a segunda parte da série Raízes Paranaenses!