Comportamento

Desafio “Bird Box” acende alerta para comportamento de crianças e adolescentes

da Redação, com Estadão Conteúdo
04/01/2019 11:19
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Desafios fazem parte do desenvolvimento, mas exigem atenção e cuidado das famílias. Foto: Divulgação

Sucesso de público na Netflix, o filme “Bird Box” se passa em uma era pós-apocalíptica em que é preciso usar lenços nos olhos para não enxergar as forças do mal já que, ao menor contato visual, tomam conta da consciência dos habitantes da cidade. Desde o lançamento do filme, muitos memes surgiram na internet, brincando com situações que seriam melhor não ver. Porém, houve quem entrasse no ‘desafio Bird Box’, o que motivou a plataforma de streaming a emitir um comunicado pelo Twitter. O medo se deve às consequências trágicas de outros desafios que se popularizaram recentemente na internet, como o Momo e a Baleia azul.
Vídeos publicados no Twitter ou no YouTube com a hashtag #BirdBoxChallenge mostram pessoas tentando fazer atividades do dia a dia com os olhos vendados. Alguns se arriscam a andar pelas ruas sem ver e prolongam o desafio por 24 horas.
Em seu perfil oficial no Twitter, a plataforma deixou um alerta para os que aceitam o desafio. “Não acredito que tenho de dizer isso, mas: por favor, não se machuquem com o desafio Bird Box. Nós não sabemos como começou, e apreciamos o amor [pelo filme], mas o Garoto e a Garota têm apenas um desejo para 2019 e é que vocês não acabem em um hospital por causa de memes”, disse a nota.
Can’t believe I have to say this, but: PLEASE DO NOT HURT YOURSELVES WITH THIS BIRD BOX CHALLENGE. We don’t know how this started, and we appreciate the love, but Boy and Girl have just one wish for 2019 and it is that you not end up in the hospital due to memes.
— Netflix US (@netflix) January 2, 2019

Desafios e o papel da família

Mari Angela Calderari Oliveira, que é coordenadora adjunta do curso de Psicologia da PUCPR, explica que crianças e adolescentes estão em fase de desenvolvimento e de construção da estrutura psicológica que irá dar sustentação aos desafios da vida adulta e que, por isso, a busca por desafios é algo esperado e importante. “O desafio faz com que a pessoa se movimente e encontre recursos para enfrentar a vida, e isso leva ao fortalecimento.”
Entretanto, o que acontece é que crianças e jovens nem sempre possuem a noção real do perigo e a maturidade suficiente para avaliar as brincadeiras, e aí entra o papel da família como suporte. “Os desafios devem ocorrer em uma medida que sejam benéficos e não representem perigo à vida dessas crianças. Além disso, algumas vezes essas situações exigem uma estrutura que os jovens ainda não tem estabelecida, podendo, ainda, gerar medo e insegurança.”
A psicóloga explica que não é possível blindar totalmente os filhos do mundo da internet e que, por isso, é fundamental a qualidade do suporte que essa criança possui de seus agentes educativos – professores, escola e família –, que dividem a função de orientar e acompanhar essas atividades.

“Em casa, isso é possível com o estabelecimento de ambiente amigável, em que a criança tem abertura ao diálogo e divide o que está acontecendo em sua vida. Mas esse diálogo é construído, não acontece da noite para o dia, então ele precisa fazer parte da rotina da casa desde sempre.”

Aos adultos, cabe tentar se informar sobre o que acontece no mundo das crianças e adolescentes e também no ambiente virtual para trazer essa discussão para dentro de casa. “Hoje em dia dia muitas famílias percebem que precisam buscar mais informação para estarem conectadas com as coisas que acontecem no mundo dos filhos, trazendo referências para a riqueza desse diálogo e, dessa forma, auxiliando no desenvolvimento.”
Em casos de crianças mais fechadas e apáticas, também é preciso atenção por parte das famílias. “A curiosidade faz parte do desenvolvimento e da aprendizagem e isso vem de uma motivação causada por um desequilíbrio. Sabemos que o ser humano está sempre em desequilíbrio e que isso é percebido de forma mais clara em crianças e jovens, pois estão em desenvolvimento. Então, se a criança não está buscando novidades e desafios, isso pode ser a indicação de algum problema”, alerta.
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