Jeito Animal

Pedro Fontoura

Pedro Fontoura

Pedro Fontoura é biólogo comportamentalista e educador pet

A dor da perda de um cão e seu impacto na família

Pedro Fontoura
Pedro Fontoura
02/08/2024 11:52
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Pedro e Gaia. | Melvin Quaresma

O dia 18 de maio será para sempre lembrado por nossa família. Naquela tarde, dissemos adeus a Gaia, nossa fiel amiga de quatro patas que esteve conosco por quase uma década. Ela era mais do que apenas um pet; era um membro da família, uma presença constante que deixou um vazio imenso com sua partida.
A perda de um animal de estimação é um golpe profundo. Não importa o quanto nos preparemos, a dor é inevitável e intensa. Gaia chegou à nossa família como uma filhote brincalhona, trazendo alegria e bagunça em igual medida. Com o tempo, ela se tornou uma companheira de aventuras e um conforto em momentos difíceis. Sua presença era uma constante que todos nós aprendemos a valorizar.
Cada um de nós lidou com a doença, o câncer, e a perda de Gaia de maneira diferente. Para meu filho, o Francisco, foi a primeira experiência de luto, um aprendizado doloroso sobre a fragilidade da vida. Tentamos explicar que Gaia viveu uma vida cheia de amor e que seu sofrimento havia terminado, mas essas palavras pareciam pequenas diante da ausência tangível que sentíamos.
Para nós, adultos, a dor foi ainda mais intensa. Gaia estava presente em muitos dos momentos significativos da nossa vida – meu desenvolvimento profissional como adestrador positivo, a compra da nossa casa, o nascimento dos nosso filho, as comemorações e até os dias comuns que ela tornava especiais. Era ela que nos recebia na porta com entusiasmo, que se deitava aos nossos pés ao final de um longo dia e que, de maneira silenciosa, nos dava um amor incondicional.
A casa, sem Gaia, parece estranhamente vazia. Seus brinquedos ainda estão espalhados, e a cama onde ela costumava dormir permanece em seu canto, como um lembrete silencioso de sua ausência. É difícil acostumar-se ao silêncio onde antes havia o som alegre de suas patinhas pelo chão.
No entanto, em meio à tristeza, encontramos consolo nas memórias que ela nos deixou. Lembramos das suas travessuras, dos passeios no parque, dos momentos de carinho no sofá. Gaia nos ensinou sobre lealdade, amor incondicional e a alegria nas pequenas coisas. Essas lições ficam conosco, tornando-se parte de quem somos.
A perda de um cão como Gaia é uma experiência universal. Muitas famílias já passaram ou passarão por isso, e cada uma encontrará sua maneira de lidar com a dor. É um processo que exige tempo, paciência e, acima de tudo, compreensão de que o luto é uma resposta natural à perda de alguém que significava tanto.
O luto pela perda de um animal é legítimo, mesmo que não seja visto desta maneira e validado por muitas pessoas. Muitas vezes é um luto ainda maior do que aquele que sentimos quando alguns humanos morrem. Então, permitir-se sentir a dor, lembrar-se dos bons momentos e, eventualmente, abrir o coração para um novo amigo de quatro patas são passos importantes nesse processo de luto.
Por aqui, seguimos honrando a memória de Gaia e agradecendo pelo tempo que tivemos com ela. A dor da perda é grande, mas o amor que ela nos deu foi maior. E isso, afinal, é o que realmente importa.