Moda e beleza

A moda autoral que nasce (e cresce) em Curitiba

Katia Michelle, especial para Gazeta do Povo
17/05/2016 12:28
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Apostas autorais: look infantil da marca Feito a mãe, à venda na loja Das Coisas Feitas por Aí; criação de Alexandre Linhares e peça da Novo Louvre. Fotos: divulgação

Uma “passada de olho” na produção de moda na última década na capital paranaense mostra uma clara mudança de hábitos: da produção ao consumo. Se essa realidade foi boa ou não para os envolvidos, agora é hora da avaliação. Com a inauguração nesta terça-feira  (17) da loja “Das Coisas Feitas por Aí” (que reúne marcas curitibanas como Rêve, Feito a Mãe, Tatiane Jegher e Zavvadinack), no Pátio Batel, que ostenta lojas de marcas internacionais e multimarcas, incluindo gigantes como Burberry e Prada, e com a migração da alternativa Novo Louvre, que ficava no Centro Histórico, para o mesmo shopping, em junho, está na hora de questionar: afinal o que a moda curitibana tem?
Há pouco mais de dez anos, a produção de estilistas como Jefferson Kulig e Roberto Arad, para citar alguns, já respondia essa pergunta com maestria, mostrando uma moda autoral e de qualidade, exportada para o resto do Brasil e até do mundo. Mas como sobreviver à selva das grandes redes e a preços competitivos defendendo o próprio estilo?
Peças da marca Novo Louvre primeiro ganharam espaço em SP e RJ. A marca vai ter loja própria no Patio Batel, dando espaços para estilistas independentes. Foto: divulgação.
Peças da marca Novo Louvre primeiro ganharam espaço em SP e RJ. A marca vai ter loja própria no Patio Batel, dando espaços para estilistas independentes. Foto: divulgação.
A diretora criativa do Novo Louvre Mariah Salomão Viana, diz que a missão não é fácil e teve que buscar aprovação fora da cidade para poder ganhar espaço dentro da capital posteriormente. Tanto que está ampliando a loja do Novo Louvre, que continua a trabalhar apenas com produção autoral, além de dar espaços para estilistas curitibanos (e também para outros de fora da cidade, mas que desempenham um trabalho autoral). A nova loja inaugura no próximo mês, também no Pátio Batel.
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Mas nem tudo foram flores, estampas e tecidos esvoaçantes nesses últimos anos. “Em 2011 percebi uma estagnação nas vendas em Curitiba. Foi quando decidi vender por atacado em São Paulo e no Rio de Janeiro”, conta. Depois de ganhar espaço nesses mercados, ela decidiu voltar para a cidade natal e apostar em estilistas que querem mostrar a sua identidade. “Curitiba é realmente um mercado difícil, com um público muito crítico”, diz.
"Curitiba é realmente um mercado difícil, com um público muito crítico”, diz Mariah Salomão. Foto: Betto Bolliger/divulgação.
"Curitiba é realmente um mercado difícil, com um público muito crítico”, diz Mariah Salomão. Foto: Betto Bolliger/divulgação.
O estilista Alexandre Linhares, da marca Heroína, optou por montar a própria loja de rua e acredita que está justamente nessa crítica o reconhecimento do seu trabalho. Em nove anos como estilista independente, ele já vestiu nomes como Elza Soares e os integrantes do Grupo Fato para seus respectivos shows, além de ter um público cativo. “Eu uso a roupa para expressar o que sinto e assim consigo sobreviver do meu trabalho. Não saberia fazer de outra forma”, conta o estilista.
"Eu uso a roupa para expressar o que sinto. Não saberia fazer de outra forma", ressalta o estilista Alexandre Linhares. Foto: Patrícia Amâncio/divulgação
"Eu uso a roupa para expressar o que sinto. Não saberia fazer de outra forma", ressalta o estilista Alexandre Linhares. Foto: Patrícia Amâncio/divulgação
Para ele, a roupa é um dos elementos passíveis de serem vendidos durante toda o processo criativo que utiliza para desenvolver suas coleções. “E as pessoas ´compram´ essa ideia”, diz, ressaltando que 90% do público que consome o seu trabalho é curitibano”. Mas ele critica, no entanto, o fato dos lojistas não abrirem espaços para os estilistas locais. “Eu já tentei vender em multimarcas, mas nunca consegui”, conta.
A artista Katia Horn desfila a coleção "O rei está nu", de Alexandre Linhares. Foto André Sanches/divulgação.
A artista Katia Horn desfila a coleção "O rei está nu", de Alexandre Linhares. Foto André Sanches/divulgação.
O fato, porém, nunca foi um obstáculo para sua produção, tanto que acaba de lançar a sua 36ª. Coleção, “O Rei está Nu”, em que leva para o tecido a marca registrada que já virou a grife curitibana Heroína. A nova coleção é ambientada pela história da Casa Hoffmann e pela máxima da “era da imagem”, somadas às memórias de todos os tecidos e materiais que compõem cada peça de roupa. Uma memória que começa a fazer parte da cidade, assim como a produção de quem quer tecer a sua própria história na moda.