A idade do pai também interfere na saúde da gravidez
The New York Times, por Jane E. Brody
14/04/2019 08:00
Mais de 12% dos resultados adversos que acometeram bebês cujos pais tinham mais de 45 anos poderiam ter sido evitados se estes fossem mais novos. Foto: Bigstock.
As pessoas estão tendo filhos cada vez mais tarde, uma tendência que pode ter implicações para a saúde da gravidez, dos bebês e das mulheres que dão à luz essas crianças.
Mas, enquanto a maioria das mulheres sabe que os riscos reprodutivos para elas e seus rebentos aumentam à medida que envelhecem, poucos homens acima dos 40 têm consciência de que a idade avançada masculina também pode trazer ameaças.
A idade em que os casais começam a constituir família tem aumentado constantemente nas últimas quatro décadas, visto que mais casais se casam tardiamente e esperam atingir formação acadêmica e estabilidade profissional para então procriar.
Enquanto o relógio biológico das mulheres tipicamente diminui o ritmo quando elas chegam aos 30 e tem a função drasticamente reduzida aos 50, mais ou menos, o dos homens pode seguir em pleno funcionamento quase que indefinidamente. Vide as celebridades – George Clooney, Hugh Grant, Steve Martin, David Letterman, John Stamos – que viraram pais pela primeira vez aos 50 ou mais tarde.
A partir de 1970, a porcentagem de filhos nascidos de pais com mais de 40 anos nos Estados Unidos dobrou e, até 2015, chegava a 9% dos nascimentos.
“Por muitos anos, acreditou-se que a idade avançada só importava para as mulheres. Mas a idade paterna também conta”, afirmou Hilary K. Brown, pesquisadora de saúde pública reprodutiva na Universidade de Toronto.
Um estudo recente que examinou mais de 40,5 milhões de nascimentos nos Estados Unidos revelou efeitos potencialmente danosos da idade paterna avançada sobre o risco de os bebês nascerem prematuros, com pouco peso, baixa pontuação no Índice de Apgar, com possibilidade de convulsões e chances de a mãe desenvolver diabetes gestacional.
A pesquisa, publicada no periódico científico “BMJ” e liderada pelo dr. Michael L. Eisenberg, urologista e chefe de cirurgia e medicina reprodutiva masculina na Escola de Medicina da Universidade de Stanford, concluiu que “mais de 12% dos resultados adversos que acometeram bebês cujos pais tinham mais de 45 anos poderiam ter sido evitados se estes fossem mais novos”.
Eisenberg, o dr. Yash S. Khandwala e colegas descobriram que os filhos de genitores acima dos 45 anos tinham 14% mais chances de nascer prematuros e com baixo peso do que aqueles com pais na faixa dos 20 a 30 anos. Do mesmo modo, as mães enfrentaram um risco 28% mais elevado de desenvolver diabetes gestacional. À medida que a idade dos pais aumentava, cresciam também as chances de os bebês precisarem de ajuda para respirar e necessitarem de internação na UTI neonatal.
Os riscos associados a pais mais velhos vão além dos óbvios, observados no nascimento. Uma revisão anterior dos estudos, publicada por Eisenberg e pelo dr. Simon L. Conti, professor-assistente de urologia em Stanford, relacionou o envelhecimento paterno a um risco aumentado de bebês com doenças congênitas como o nanismo, distúrbios psiquiátricos como a esquizofrenia e o transtorno bipolar e distúrbios desenvolvimentais como o autismo.
A análise de quase 400 mil homens e mulheres nascidos em Israel nos anos 1980, por exemplo, descobriu que, entre pais com mais de 40 anos, o risco de ter uma criança com autismo era cerca de seis vezes maior.
Outros estudos concluíram que as chances de leucemia infantil e de câncer de mama e de próstata subiam entre filhos de genitores mais velhos.
Tem-se dado muita atenção aos perigos enfrentados pelas mulheres que engravidam após os 35 anos, mas os homens não estão recebendo o mesmo cuidado em relação à sua fertilidade e aos possíveis efeitos na saúde da gravidez e dos filhos que terão.
Normalmente, as mulheres mais velhas são meticulosamente examinadas para possíveis riscos a uma gravidez saudável, “enquanto o papel do pai no nascimento de uma criança é normalmente ignorado ou esquecido”, escreveram Eisenberg e Khandwala.
Embora os riscos à saúde de uma criança gerada por um pai com idade entre 50 e 70 anos não sejam enormes, os estudos recentes têm mostrado que, às vezes, pode haver consequências sociais e pessoais significativas em longo prazo. Os desafios começam na tentativa de engravidar, que normalmente leva mais tempo quando os futuros pais são mais velhos, afirmou Eisenberg.
“A fertilidade é um esporte coletivo e a corrida para os homens não é ilimitada”, resumiu. Uma mulher querendo engravidar de um homem mais velho pode querer saber: “Quão competentes são seus nadadores?”, uma pergunta que pode ser respondida com uma análise do sêmen.
“A capacidade do homem de gerar uma criança cai à medida que envelhece. A qualidade do sêmen diminui – o volume se reduz com a idade e tanto a motilidade quanto o formato do espermatozoide sofrem pequena depreciação”, complementou Eisenberg. Tais mudanças reduzem a habilidade do espermatozoide de fertilizar um óvulo.
Há várias razões possíveis para explicar por que os pais mais velhos podem representar riscos para a saúde dos bebês ainda não nascidos. Diferentemente das mulheres, que já nascem com todos os óvulos que poderão produzir na vida, após a puberdade os homens continuam produzindo novos espermatozoides. Mutações podem ocorrer e se acumular no DNA das células formadoras dos espermatozoides, que, por sua vez, podem sofrer mutação genética causada pela exposição ao ambiente.
Eisenberg e seus colegas sugeriram que algumas dessas mudanças podem afetar fatores de crescimento tanto da placenta como do embrião.
“É necessário que se tenha mais consciência da responsabilidade do homem na saúde reprodutiva”, declarou Brown, acrescentando que ela começa com uma “boa saúde antes da concepção – fatores como obesidade e doenças crônicas, além de hábitos como fumar e ingerir álcool, podem influenciar uma gravidez. Considerando que quase metade das gestações não é planejada, os homens não podem esperar até que estejam saudáveis para ter um bebê”.
Em um editorial que acompanha o relatório sobre os 40,5 milhões de nascimentos, Brown enfatizou que “os achados recentes realçam a importância de incluir nos planos de reprodução do casal discussões sobre a idade paternal e a queda de qualidade do esperma”.
Ela sugeriu que os médicos ressaltem a necessidade de que todos em idade reprodutiva – futuros pais e mães igualmente – adotem um estilo de vida saudável, que “é benéfico em diversos sentidos, não apenas para ter uma gravidez saudável como também para prevenir doenças crônicas. Os médicos deveriam abrir esse diálogo com os homens, e não apenas com as mulheres”.
Claro, existem vantagens expressivas em ter filhos depois da adolescência ou dos 20 anos, entre elas maturidade e segurança financeira do pai e da mãe, que também vão dispor de mais tempo e paciência para criar as crianças.
“Apesar de fazer sentido atrasar a reprodução até os objetivos educacionais e profissionais estarem satisfeitos, os casais deveriam ter acesso ilimitado aos riscos e benefícios de gerar uma criança agora ou mais tarde. E a idade do homem não tem entrado na conversa”, arrematou Brown.