Saúde e Bem-Estar

Como falar com meu filho depois de uma tragédia ou acidente?

Amanda Milléo
12/07/2016 09:06
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Sentar e conversar "como adulto" pode não ser a melhor ideia para as crianças pequenas (Foto: VisualHunt)

Engana-se o pai que acha que a criança carrega uma inocência que a protege do mundo. Mesmo as menores, ainda na pré-escola, sabem quando alguma violência, tragédia ou acidente acontece na sua rua, cidade, país ou mesmo no mundo, principalmente porque ela está atenta a tudo que os pais estão vendo, ouvindo, e transmitindo à família. Conversar com os filhos é um passo fundamental depois de grandes eventos, e cada faixa etária tem uma maneira mais adequada.
Confira algumas dicas da terapeuta de casal e de família, Tatiana Leite, da psicóloga com formação na área sociojurídica e conselheira do Conselho Regional de Psicologia do Paraná, Cleia Oliveira Cunha , e as orientações da Academia Americana de Pediatria.
Pré-escola
Nessa faixa etária, as crianças ainda não sabem expressar muito bem o que estão sentindo. Sentar “como adulto” e conversar com elas pode não ser a melhor ideia. Use o momento da brincadeira para perguntar se algo está incomodando ou por que ela tem sido mais agressiva ou tendo muitos pesadelos (Veja abaixo quais são os sinais que as crianças dão quando não sabem lidar com uma situação). Pedir para que a criança faça um desenho ou explique através dos seus brinquedos também pode ser uma forma de ela transmitir seu medo, sem precisar falar.
Depois dos 7 anos
A partir dessa idade, a criança começa a se expressar melhor, mas o recurso do lúdico ainda funciona muito bem – e isso vai até os 10, 11 anos. Os pais precisam ter em mente que a criança é capaz de fazer julgamentos, como qualquer ser humano, e podem evitar falar do assunto com medo do que os adultos possam achar dela. Use o momento em que a criança estiver mais tranquila e pergunte o que ela sabe, o que ela ouviu falar. Não dê detalhes gráficos e nem fale mais do que a criança gostaria de ou precisaria saber.
Aproveite o momento também para passar segurança ao filho. Se estiver falando de um acidente automobilístico, por exemplo, demonstre segurança e fale que na família há poucos casos de acidentes com carro, se for o caso. “Muitas vezes é o adulto que se precipita e comenta sobre o assunto antes mesmo de a criança demonstrar qualquer interesse pelo fato. Os pais precisam ficar atentos a isso”, explica Cleia Oliveira Cunha, psicóloga e conselheira do Conselho Regional de Psicologia do Paraná.
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Pais juntos
No momento da conversa com a criança, é importante que a família toda esteja presente – e que os adultos conversem previamente sobre aquilo que vão dizer, para não se contradizerem na frente da criança. Além de dar mais segurança à criança, a presença de todos os adultos aumenta a sensação de acolhimento, de família, e às vezes tudo que a criança quer ouvir é que eles estão ali para cuidar dela e que tudo vai ficar bem.
Adolescência
Entre os adolescentes, vale a mesma fórmula: perguntar o que eles sabem e quais são as dúvidas que eles têm sobre o acontecido. Nessa faixa etária, o filho sabe explicar e colocar em fatos tudo que ouviu,viu e leu, e os pais precisam estar informados de todos os fatos também.
Fique atento!
Se a criança está mais irritada ou agressiva que o normal, mudou o padrão de sono, sente-se mais agitada e com pesadelos, e não está se alimentando da maneira como deveria, esses são sinais que os pais precisam prestar atenção. Veja todos os sinais:
– Agitação e agressividade;
– Nervosismo e ansiedade;
– Mudança no sono: mais pesadelos ou mesmo insônia;
– Falta de vontade de estar com amigos;
– Mudança na rotina;

Lembre-se: os pais podem não perceber essas mudanças em casa, mas é importante conversar com a escola para saber como está o comportamento do filho lá.

Controle da tevê
Evitar falar sobre o assunto não é uma boa ideia, porque os pais não têm total controle sobre o que a criança sabe ou o que ela ouviu. “Houve uma discussão muito forte quando aconteceu aquele naufrágio dos refugiados sírios, e o menino Aylan foi fotografado morto na areia da praia. A imagem foi reproduzida em sites e pela televisão, e isso impactou muito as pessoas, e imagine para as crianças que viram. Mesmo que você não mostre para seu filho em casa, ele pode ver ou ouvir falar dos amiguinhos na escola”, explica Tatiana Leite, terapeuta de casal e de família.