Saúde e Bem-Estar

New York Times, por Gina Kolata

10 mitos da medicina que foram desbancados por pesquisas

New York Times, por Gina Kolata
11/07/2019 16:00
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Para evitar ataques de asma, por exemplo, não adianta manter a casa livre de ácaros da poeira, ratos e baratas. Foto: Bigstock

Supõe-se que os conselhos médicos convencionais sejam fundamentados por vastas pesquisas científicas. Entretanto, pesquisadores descobriram recentemente quase 400 práticas médicas rotineiras categoricamente desmentidas por estudos divulgados em publicações científicas de renome.
Dos mais de 3.000 estudos reproduzidos nas revistas científicas “JAMA” e “Lancet”, entre 2003 e 2017, e na “New England Journal of Medicine”, entre 2011 e 2017, mais de um entre dez foi classificado como “revés médico”: uma conclusão oposta ao que era tido como sabedoria convencional entre médicos.

“Você fica com uma sensação de modéstia. Pessoas muito inteligentes e bem-intencionadas praticaram essas ações por muitos e muitos anos. Mas elas estavam erradas”, afirmou o médico Vinay Prasad, da Universidade de Saúde e Ciência do Oregon, responsável por conceber o estudo.

Alguns desses conceitos têm sido firmemente deixados de lado, mas nem todos. Por isso, agora, Prasad e seus colegas tentam descobrir quão disseminadas estão as ideias e as práticas já desqualificadas.
Veja, a seguir, dez descobertas que refutam teorias antes amplamente consideradas válidas.

1 –  A alergia ao amendoim pode se desenvolver independentemente de a criança ser exposta a esse alimento antes dos três anos.

(Foto: VisualHunt)
(Foto: VisualHunt)
Os pediatras têm aconselhado os pais a não oferecer amendoim à criança durante os três primeiros anos de vida. No entanto, descobriu-se que crianças que têm contato com o amendoim antes de completar um ano não apresentam maiores riscos de desenvolver alergia ao alimento.

2 – Óleo de peixe não reduz o risco de doenças cardíacas.

Até certo ponto, a ideia de que a gordura do peixe pudesse prevenir problemas cardíacos parecia lógica. Afinal, pessoas cujas dietas são ricas em peixes gordurosos parecem ter uma incidência menor de doenças cardíacas. Os peixes gordurosos são ricos em ácidos graxos ômega 3.
Os suplementos de ômega 3 reduzem os níveis de triglicérides; estes, quando elevados, estão relacionados a um risco aumentado de doença cardíaca. Além disso, acredita-se que o ômega 3 reduz a inflamação, elemento central em ataques cardíacos. Contudo, em um teste envolvendo 12.500 pessoas com risco de problemas cardíacos, a ingestão diária de suplementos de ômega 3 não ofereceu proteção contra doenças cardíacas.

3 – Bonecas que agem como bebês de verdade para meninas adolescentes cuidarem não previnem gravidez prematura.

Essas bonecas gemem e precisam ser “trocadas” e “ninadas”. O propósito era mostrar às garotas que dá muito trabalho cuidar de um bebê. Mas um estudo aleatório concluiu que as meninas que lidaram com “simuladores de bebês” tinham uma probabilidade um pouco maior de engravidar do que as que não receberam as bonecas.

4 –  Ginkgo biloba não protege contra perda de memória e demência.

O suplemento, produzido com folhas das árvores de ginkgo, foi amplamente utilizado pela medicina ancestral chinesa e ainda é promovido como uma maneira de preservar a memória. Um extenso estudo federal, publicado em 2008, mostrou de forma definitiva que o suplemento não tem nenhuma eficácia para esse objetivo. Mesmo assim, o ginkgo ainda alcança 249 milhões de dólares (quase um 1 bilhão de reais) em vendas. Será que as pessoas não entenderam o recado?

5 – Para tratar pacientes do pronto-socorro sob dor intensa, uma dose única de opioides orais é tão eficiente quanto remédios como aspirina e ibuprofeno.

Sim, os opioides são medicações poderosas. Mas um teste clínico mostrou que alternativas muito mais seguras aliviam da mesma maneira a dor de pacientes no pronto-socorro.

6 – A terapia de reposição de testosterona não ajuda homens mais velhos a manter a memória.

Alguns homens apresentam baixos níveis de testosterona e problemas de memória. Estudos anteriores indicavam que os homens de meia-idade com níveis mais altos de testosterona pareciam ter tecidos mais bem preservados em algumas regiões do cérebro.
Além disso, os homens mais velhos com níveis de testosterona mais elevados aparentemente tinham melhor desempenho em testes de avaliação cognitiva. No entanto, um rigoroso teste clínico mostrou que a testosterona tem a mesma eficácia de um comprimido de açúcar na prevenção de perda de memória em homens mais velhos.

7 – Para evitar ataques de asma, não adianta manter a casa livre de ácaros da poeira, ratos e baratas.

O conselho dado por grupos médicos de destaque tem sido o de livrar a casa dessas pestes se você ou seus filhos têm asma. A justificativa teórica era a de que as reações alérgicas a esses seres poderiam deflagrar ataques de asma.
Entretanto, pesquisadores relataram, em 2017, que um controle intensivo de pragas em lares onde habitavam crianças sensíveis a alérgenos de ratos não reduziu em nada a frequência de seus ataques de asma.

8 – Pedômetros e contadores de calorias não ajudam a perder peso.

Na verdade, o inverso é verdadeiro. Entre as 470 pessoas em dieta acompanhadas por dois anos, aquelas que usaram dispositivos para contar os passos dados e as calorias queimadas perderam menos peso do que as que apenas seguiram os conselhos tradicionais.

9 – Rompeu o menisco do joelho? Primeiro, tente fisioterapia; depois, cirurgia.

Sedentarismo, envelhecimento, sobrepeso e a prática de exercício físico em excesso ou de forma incorreta podem levar a problemas na articulação. Foto: Bigstock.
Sedentarismo, envelhecimento, sobrepeso e a prática de exercício físico em excesso ou de forma incorreta podem levar a problemas na articulação. Foto: Bigstock.
Segundo estimativas, todos os anos 460 mil pacientes nos Estados Unidos fazem cirurgia para reparar a cartilagem do joelho que se rompe, frequentemente devido à artrose. O rompimento é dolorido e muitos pacientes receiam que, se não for tratado cirurgicamente, a dor perdurará. Contudo, quando os pacientes com menisco rompido e artrite moderada foram aleatoriamente encaminhados a seis meses de fisioterapia ou cirurgia, ambos os grupos apresentaram melhora semelhante.

10 – Se a bolsa de uma mulher grávida se rompe antes do previsto, não é necessário fazer o parto imediatamente.

Às vezes, algumas semanas antes do dia do parto, a membrana que envolve o feto se rompe e o líquido amniótico começa a escorrer. Os obstetras tinham medo de que as bactérias invadissem o até então estéril ambiente ao redor do bebê, causando infecções. Eles acreditavam que o melhor seria trazer a criança ao mundo prontamente.
Entretanto, um teste clínico descobriu que, com monitoramento cuidadoso, os obstetras podem esperar o início natural do trabalho de parto sem submeter o feto a maiores riscos de infecção. Além disso, os recém-nascidos mantidos no curso natural da gestação nasceram mais saudáveis, com menos desconfortos respiratórios e menor risco de morte do que os trazidos ao mundo imediatamente após a bolsa ter sido rompida.
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