Saúde e Bem-Estar

Maioria que procura exercícios para emagrecer acaba comendo mais e não perde peso

New York Times, por Gretchen Reynolds
15/07/2019 08:00
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Em um mundo lógico, claro, o exercício nos deixaria magros, mas não é isso que as pesquisas mostram. Foto: Bigstock

As pessoas que praticam exercícios na esperança de perder peso normalmente acabam sendo suas piores inimigas. É o que afirma o mais recente estudo em larga escala sobre treinos, perda de peso e a interação frustrante entre os dois fatores.
A pesquisa, que registrou cuidadosamente quanto as pessoas comeram e se movimentaram após terem iniciado um programa de exercícios, descobriu que muitas não conseguiram perder nem ganhar peso. Isso porque, inconscientemente, elas mudaram alguns aspectos da vida de maneira sutil.

Uma pequena parcela dos voluntários do estudo, no entanto, realmente perdeu alguns quilos e seu sucesso pode nos ensinar algumas lições.

Em um mundo justo e lógico, claro, o exercício nos deixaria magros. A atividade física consome calorias, e, se queimamos calorias sem repô-las ou sem reduzir o gasto de energia como um todo, deveríamos atingir uma balança energética negativa. Nessas condições, usamos nosso estoque interno de energia, as chamadas gordurinhas extras, e perdemos peso.

Infelizmente, o metabolismo humano nem sempre é justo ou lógico. Diversos estudos já demonstraram que grande parte dos homens e mulheres que iniciam novas rotinas de exercício perde apenas entre 30 e 40% do peso que seria esperado, considerando a quantidade de calorias extras gastas com a atividade.

Quais os motivos?

Por que o exercício não promove redução de peso suficiente é uma questão que segue aberta. Os cientistas que estudam o assunto concordam que a maioria de nós compensa as calorias perdidas no exercício comendo mais, se movimentando menos ou as duas coisas. A taxa metabólica basal também pode ser reduzida quando começamos a perder peso. Tudo isso nos leva de volta a uma balança energética positiva, também conhecida como ganho de peso.

Não estava claro, entretanto, se nossa tendência primária era comer em excesso ou reduzir a quantidade de movimentos como compensação, e essa é uma questão importante. Para evitar a compensação, precisamos descobrir como agimos.

Assim, para o novo estudo, divulgado no mês passado na publicação científica “American Journal of Clinical Nutrition“, pesquisadores do Centro de Pesquisa Biomédica Pennington, em Baton Rouge, na Luisiana, e de outras instituições decidiram incentivar um grupo de pessoas inativas a se exercitar, enquanto registravam de perto como as medidas e os hábitos diários delas mudaram.
Eles começaram recrutando 171 homens e mulheres sedentários, com excesso de peso e idades entre 18 e 65 anos. Mediram o peso, a taxa metabólica basal, níveis usuais de fome, forma física e, por meio de um marcador líquido complexo, determinaram a ingestão diária de alimentos e o gasto de energia.
A atividade física para adultos tem papel importante na prevenção aos cânceres de cólon, mama, endométrio, rins, bexiga, esôfago e estômago. Foto: Bigstock.
A atividade física para adultos tem papel importante na prevenção aos cânceres de cólon, mama, endométrio, rins, bexiga, esôfago e estômago. Foto: Bigstock.
Além disso, os cientistas utilizaram questionários psicológicos padronizados para também investigar se os voluntários acreditavam que, agora, atitudes virtuosas e saudáveis justificavam outras menos aconselháveis posteriormente.
Em seguida, formaram o grupo de controle, cujos participantes deveriam seguir com a vida normal, e os grupos que começariam programas de exercícios supervisionados.
Em um programa, as pessoas praticavam esteira ou bicicleta ergométrica três vezes por semana até queimarem oito calorias por cada quilograma de peso corporal, ou cerca de 700 calorias por semana para a maioria delas. O segundo aumentou a exigência para 20 calorias por cada quilograma de peso corporal, ou cerca de 1.760 calorias por semana.

Rotina compensatória

Ambas as rotinas duraram seis meses. Durante todo o tempo, os voluntários usaram monitores de atividades e os pesquisadores checaram periodicamente as taxas metabólicas, a ingestão de energia e o condicionamento físico. Os voluntários podiam comer como quisessem.
No fim, todos voltaram ao laboratório para novas medições de resultado. Como esperado, os números do grupo de controle, incluindo peso e taxa metabólica basal, permaneceram inalterados, assim como na maior parte dos grupos de exercícios. Poucos perderam peso, mas cerca de dois terços dos integrantes do grupo de treino mais curto e 90 por cento do grupo de treino mais longo perderam menos peso do que era esperado.

Eles tinham compensado a queima extra de calorias, mas não com inatividade, descobriram os cientistas. Os registros do monitor de atividades de quase todos eles permaneceram estáveis. Outras medições e cálculos mostraram que os voluntários nos programas de exercício comeram mais.

O número de calorias extras era modesto – cerca de 90 calorias adicionais todos os dias para o grupo de exercícios moderados e 125 por dia para o de exercícios mais intensos –, mas esse pouco foi suficiente para atrapalhar a perda de peso.

Um achado interessante dos pesquisadores foi perceber que, entre os participantes ativos, os que mais compensaram e menos perderam peso foram, em grande parte, os mesmos que afirmaram, no começo, acreditar que os bons hábitos de saúde davam às pessoas autorização para outros, menos benéficos.

“Na verdade, eles não viam problema em trocar um comportamento bom por outro ruim. É aquela famosa ideia: ‘Se eu correr agora, poderei comer aquele bolo depois'”, esclareceu Timothy Church, professor adjunto em Pennington, que dirigiu o novo estudo. Consequentemente, eles perderam pouco peso, ou às vezes nenhum, com os exercícios.
Ele acrescentou que o estudo produziu outros dados mais encorajadores. Em primeiro lugar, a taxa metabólica basal de quase todo mundo permaneceu estável; o metabolismo mais lento teria incentivado ganho de peso. E aqueles poucos voluntários que praticaram exercícios e disseram não ao biscoito ou às bolachas a mais conseguiram perder peso.

“A diferença, no geral, foi mínima entre quem compensou e quem se conteve”, argumentou Church. “Foram míseras 100 calorias. Isso representa quatro mordidas da maioria dos alimentos.”

Por isso, quem quiser fazer exercícios para perder peso deve prestar muita atenção ao que come, Church ensina, e evitar aquelas últimas quatro mordidas, por mais tentadoras que sejam.
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