Saúde e Bem-Estar

Por que temos um lado do rosto diferente do outro?

Cecília Aimée Brandão, especial para a Gazeta do Povo
12/03/2019 07:00
Um dado interessante sobre a população mundial: todas as pessoas têm o rosto assimétrico, ou seja, um lado é diferente do outro, em maior ou menor grau.
A face é constituída por muitas estruturas anatômicas diferentes, como ossos, cartilagens, músculos e dentes, que são submetidas a diversos tipos de função, desde o nascimento, como mastigação, fala e respiração.
O modo como realizamos cada uma dessas funções interfere diretamente no formato que o rosto se desenvolve ao longo da vida.

“Se um lado da face trabalhar mais do que o outro, uma assimetria vai acabar surgindo. Se na infância, por exemplo, você mastiga mais de um lado do que do outro, terá um diferente crescimento nas estruturas faciais”, explica o ortodontista Alexandre Moro, professor da Universidade Federal do Paraná.

Se uma criança tiver uma obstrução em um dos lados da cavidade nasal, e respirar somente por uma narina, também pode desenvolver uma assimetria.
Os desequilíbrios faciais costumam ser mais evidentes no terço inferior do rosto, de acordo com Michelle Santos Vianna, professora do curso de Odontologia da Pontifícia Universidade Católica do Paraná.
“Nessa região temos a mandíbula, o único osso móvel do crânio, e que sofre influência dos músculos mastigatórios e da própria relação entre os dentes superiores e inferiores. A hipertrofia (aumento de tamanho) do principal músculo da mastigação (músculo masseter) que se fixa na mandíbula, por exemplo, altera o contorno facial na região do ângulo da mandíbula, e pode gerar desconforto e queixa estética para muitos pacientes. Traumas, fraturas, tumores, lesão do nervo facial, problemas na articulação temporomandibular (ATM), fissuras de lábio e palato, hábito de mastigar apenas de um dos lados e até mesmo o fato de se dormir, em geral, do mesmo lado, são algumas das condições adquiridas que poderão estar associadas aos desequilíbrios faciais”, explica.

Ao longo da vida são diversos os fatores que contribuem para a assimetria do rosto, mas que dificilmente podem ser corrigidos naturalmente, sem fazer uso de terapias específicas.

“O uso da toxina botulínica (botox) nesses casos, como método alternativo de tratamento, proporciona diminuição da atividade muscular e do volume do músculo, com visível melhora no contorno facial, além de contribuir para a manutenção da integridade dos dentes, que podem sofrer desgastes e fraturas em função da hiperatividade muscular”, alerta a dentista Michelle.
Foto: BigStock
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Outro problema decorrente é o crescimento irregular da mandíbula, que pode afetar o funcionamento da ATM, a articulação entre a mandíbula e o crânio.
“A pessoa pode ter estalos, dor facial e até mesmo restrição da abertura da boca”, destaca Alexandre.
A assimetria facial, no entanto, vai além da funcionalidade e pode afetar a autoestima das pessoas, “a sociedade dá muita ênfase à importância da estética facial, que está ainda relacionada com a simetria do rosto. Várias pesquisas já mostraram que pequenas assimetrias faciais e dentárias são normais e aceitáveis”, comenta o ortodontista Alexandre Moro.

O problema da assimetria é quando ela é muito grande a ponto de afetar a autoestima. O importante é saber o que está causando essa assimetria e, se for possível, detectar o problema precocemente e buscar tratamentos.

“Por exemplo: se uma criança tem mordida cruzada, isso já pode ser corrigido a partir dos quatro anos de idade. Se o tratamento for realizado somente após os 12, o que seria simples de resolver durante a infância pode se tornar um tratamento muito mais complexo. Aquele osso que cresceu torto, talvez só possa ser corrigido com uma cirurgia”, completa.
Mas não há motivo para ficar preocupado com isso. “Na maioria das vezes as diferenças observadas entre um lado e outro da face são tão suaves e discretas que não afetam a estética ou a função, e muito menos são percebidas pelo portador da assimetria ou por pessoas que com ele convivem. Entretanto, quando essas pequenas assimetrias se tornam perceptíveis ao próprio paciente e passam a lhe incomodar, devemos considerar uma intervenção. As modalidades de intervenções irão depender do grau de assimetria apresentado”, conclui Michelle.
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