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Animal

Genética alterada, cães mais frágeis

Ricardo Ampudia
01/11/2008 02:23
Há 10 mil anos, o cãozinho que hoje nos recebe na porta abanando o rabo provavelmente nos receberia com uma matilha selvagem de lobos, que nos atacaria e rasgaria nossa carne. E o que o impede de fazer isso atualmente? O homem.
Os especialistas não sabem ao certo como se iniciou a domesticação do lobo, dando origem ao cão. O que se afirma, com certeza, é que a ação humana sobre esses animais definiu sua forma e comportamento.
Hoje, os cães são a espécie animal com maior diferença de formas. Existem grandes, pequenos, magros, gigantes, pêlo longo ou curto, focinho comprido, preto, branco e malhado. A intervenção humana no cruzamento de raças para conseguir outras não trouxe só exemplares mais bonitos, funcionais ou dóceis, mas também exemplares com alguns problemas de saúde.
A médica veterinária e professora da Universidade Estadual de São Paulo, Mirela Tinucci Costa, explica que as doenças desenvolvidas em certas raças foram ocasionadas pela escolha dos criadores em ressaltar alguns aspectos e a aparência dos cães, ao invés da genética. “Toda adaptação tem seu preço. A apuração racial muitas vezes visa o tamanho e não a genética do animal”, comenta.
Na busca de exemplares com características bem definidas, criadores perpetuaram alguns problemas mantendo uma mesma linhagem pelo cruzamento congênito. É o caso do poodle, uma raça com predisposição a doenças ósseas e oculares. “Ele foi diminuindo de tamanho, mas para chegar a esses cães minúsculos era feita cruza de cães de uma mesma ninhada. O poodle diminuiu e seus problemas só aumentaram”, comenta a veterinária Denise Backo.
Ela conta que os problemas congênitos, como cardiopatias e distúrbios neurológicos são percebidos quando o animal fica mais independente, com três a quatro meses de idade. “É nessa época que vai se perceber se ele anda de forma estranha, se ouve e enxerga bem”, afirma.
A veterinária Andréa Kanap descobriu que seu cão não estava bem, não por sua experiência na clínica, mas em casa. A sua cocker spainel Brenda, de 9 anos, começou a sofrer de algo bastante comum à raça, ainda filhote. “Notamos que ela se coçava demais e aí começou o mau cheiro”, conta.
O cocker spainel, por sua pelagem excessiva e pele frágil, é suscetível à seborréia, que causa descamação da pele e mau cheiro. A otite, inflamação do ouvido por acúmulo de umidade, também é recorrente. Andréa está acostumada a ver casos como esse no consultório. A cachorrinha Naomi, da mesma raça, é cliente antiga dos xampus terapêuticos e tratamentos de ouvido. “São problemas de cocker, cura não tem, vai ter que passar a vida toda controlando”, afirma.