Comportamento

Katia Michelle

Opinião: O perigo de conquistar a atenção que se deseja

Katia Michelle
21/10/2016 14:00
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Opinião é bom e todo mundo tem a sua, desde que se respeite os limites cada vez mais tênues da singularidade. Foto: Bigstock

Todo mundo é um veículo. Não apenas daqueles que transportam, mas daqueles que comunicam. Com a capacidade veloz de transportar opinião de um lado para muitos.  Vertical e horizontalmente. É como se todos tivéssemos nas mãos, um megafone gigante que propaga até mesmo os pensamentos mais velados. E com as redes sociais, comunicar virou mais do que um holofote. É um vício. Dos mais ingênuos, da busca por likes das comidas bonitinhas e cenas fofas, às opiniões destemperadas, às vezes publicadas no calor do momento e sem pensar nas consequências.
Dois lados aí: o cotidiano das pessoas que transformam essa busca pela atenção em profissão e os anônimos que de um dia para o outro viralizam por um desabafo coerente ou não. Um cantor americano irritado com o assédio agressivo excluiu sua conta do Instagram, objeto de trabalho, que já havia conquistado milhões de seguidores. A assessoria de imprensa não tomou conhecimento. Pânico. Tarde demais para reverter o dano. A atenção era também um ganha pão.  Os seguidores não voltam assim com tanto entusiasmo. Cair no esquecimento depois da atenção conquistada também gera tristeza. Uma youtuber brasileira, depois de um árduo trabalho para se colocar na mídia e comemorar quase dez milhões de fãs, decidiu se afastar das redes sociais. “Momento pessoal”, justificou. “Estado depressivo”, disseram outros.
Exemplos não faltam. O fato é que todo mundo quer atenção nos mais diferentes níveis. É bom. Massageia o ego. Faz a gente se sentir inserido. Incluído. E feliz.  Mas o que fazer quando essa atenção ultrapassa os limites da individualidade, toma conta da sua vida a ponto de você mesmo não saber mais o que pensa e como pensa? Pois com a atenção, vem também a cobrança e as consequências. Se você publica uma opinião, por mais ingênua que seja, pode envolver o outro e gerar uma avalanche de críticas que mexem tanto com as emoções, quanto com questões sociais e até jurídicas.
Assim como uma grande mídia, as pequeninas, os cidadãos com suas redes e aplicativos, também têm responsabilidades. Audiência é bom. Muitos sobrevivem dela, mas antes de publicar aquele pensamento intempestivo, pense que você não está na sala de sua casa, conversando com familiares compreensivos que perdoam e respeitam porque te amam “apesar de”. No deslumbre com a tecnologia, pare e cogite que cada interlocutor não é um parente compreensivo. E se não for fazer isso, tudo bem, mas imagine que a atenção que você tanto deseja pode também se tornar um pesadelo. Afinal,  a internet não é um escudo. Jogue os papeis picados, mas esteja preparado para a chuva.